A Tesla arrancou a 1 de Dezembro com as entregas a clientes do seu novo Semi, o tractor eléctrico para camiões semi-reboque com capacidade de deslocar um peso bruto de 37.194 kg nos EUA (82.000 libras, mais 2000 libras, cerca de 907 kg, do que os concorrentes com motores a gasóleo). À semelhança do que aconteceu com o lançamento do Model 3, a Tesla chega ao mercado com o Semi recheado de trunfos, da autonomia de 805 km à possibilidade de realizar carregamentos a 1MW, ou seja, 1000 kW, passando por uma capacidade de aceleração brutal e uma economia anunciada de 74.000 dólares/ano face a um camião similar a gasóleo.

Apresentado há cinco anos, o Tesla Semi é o 5.º modelo do fabricante norte-americano de veículos eléctricos a chegar ao mercado, produzido exclusivamente na Gigafactory do Texas, de onde já saem os Model Y e Model 3, a que se irá juntar em breve a Cybertruck. Ao contrário do negócio dos automóveis, em que o estilo, a imagem da marca e a capacidade de aceleração e velocidade máxima são muitas vezes sobrevalorizados face ao preço e aos custos de utilização, essencialmente o consumo, nos camiões de transporte o foco é distinto. Nestes veículos de trabalho, conduzidos quase sempre por profissionais que não são os seus proprietários, o que mais pesa na decisão é a rentabilidade, ou seja, o binómio preço/consumo, contanto que a capacidade de carga seja a procurada e o tempo perdido nos reabastecimentos ou nas recargas não seja impeditivo.

Vendido por valores entre 150.000 dólares na versão base, 180.000$ na Long Range e 200.000$ na Founders Series, a primeira unidade do Semi foi entregue ao primeiro cliente que confirmou a encomenda. Nada menos do que a reputada Pepsi Co, que vai receber as primeiras 15 unidades, com decoração das marcas Pepsi e Frito Lay. As primeiras unidades a ir para a estrada são as mais caras e bem equipadas, possuindo igualmente a bateria com maior capacidade e que permite ambicionar a autonomia mais generosa. Montam também a mecânica mais possante, um sistema similar ao Model S Plaid, com três motores a partilhar a potência pelos dois eixos traseiros do tractor, sendo que têm funções distintas no momento de fazer avançar o veículo pesado a bateria.

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Bateria gigante que recarrega a 1000 kW

Ao contrário de outros construtores de camiões eléctricos, a Tesla vai produzir e operar uma rede de postos de carregamento para o Semi, os Superchargers V4. Isto sem pedir ajuda aos diferentes Estados (no caso dos EUA) ou aos países (Europa), mas apenas para que os seus camiões a bateria se tornem mais interessantes e competitivos em matéria de custos. Face à concorrência, uma das vantagens do Semi da Tesla reside na sua bateria gigantesca, mas que não é tão grande como seria de imaginar face à autonomia que anuncia.

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O Semi tem duas versões, uma com 300 milhas de autonomia (483 km, referente à versão base proposta por 150.000$, que só estará disponível mais tarde) e outra com 500 milhas (805 km, para as versões Long Range e Founders Edition), sendo esta última a única que está de momento disponível para entrega. E assim vai continuar nos próximos meses.

Embora os 805 km de autonomia entre carregamentos já sejam competitivos face aos semi-reboques a gasóleo, a Tesla tinha ainda que evitar o tempo excessivo que é necessário esperar para recarregar uma bateria desta dimensão. A solução foi conceber um sistema eléctrico a 1000 volts (o máximo que existe no mercado é 800 V), para poder atingir 1 MW de potência (1000 kW), isto é, quatro vezes mais do que os postos de 250 kW dos Superchargers V3, incrementando somente 1,6 vezes a amperagem, que é o que verdadeiramente esforça o sistema e faz aquecer as células da bateria. O Semi utiliza exclusivamente as novas 4680 cilíndricas que, segundo a marca, podem armazenar cinco vezes mais energia e garantir 16% mais autonomia e seis vezes mais potência.

Com esta potência, o Semi pode recarregar o seu maior pack de baterias e assegurar mais 805 km em menos de 1 hora, no intervalo para almoço por exemplo, ou garantir energia para mais 400 km em apenas 30 minutos. Tudo isto com carga máxima, ou seja, a deslocar um tractor de Classe 8 norte-americano, o respectivo reboque e a carga, tudo com um peso bruto de 82.000 libras, cerca de 37,2 toneladas.

 Semi poupa 74.000$/ano apesar da bateria de 850 kWh

Se inicialmente a Tesla prometeu um Semi, com carga máxima, a consumir menos do que 2 kWh por milha (1,609 km), agora que revelou a versão definitiva anunciou igualmente o consumo que se pode esperar do semi-reboque. E o valor ficou ligeiramente abaixo do esperado, com 1,7 kWh/milha, ou seja, um consumo de 105 kWh/100 km, cerca de 5,8 vezes mais do que o anunciado pelo Model S Plaid, de acordo com o método europeu WLTP. Este consumo de 105 kWh/100 km implica que o Semi que anuncia 805 km de autonomia tenha de montar uma bateria com um mínimo de 850 kWh, podendo atingir 900 ou 1000 kWh consoante a Tesla deseje incluir uma margem de segurança. Enquanto isto, a versão do Semi com a bateria mais pequena e uma autonomia de 483 km não deverá atingir 600 kWh de baterias.

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Este consumo permite à Tesla anunciar uma poupança de 74.000 dólares por ano (sensivelmente o mesmo em euros), quando comparado com um camião similar com motor a gasóleo, o que abre a possibilidade de atingir o break even de um camião de 180 ou 200 mil dólares ao fim de somente 2,4 ou 2,7 anos de utilização. Paralelamente, Elon Musk afirma que o Semi é capaz de percorrer 1 milhão de milhas (1.600.000 km) sem avarias, desgastando muito menos determinados elementos, como os travões, devido à presença do sistema de regeneração, que produz electricidade a bordo enquanto reduz a velocidade.

Semi mais rápido do que um Civic Type R

A adopção de camiões com zero emissões, como este Semi eléctrico a bateria, é uma solução determinante para a redução de CO2 e, sobretudo, de partículas cancerígenas e altamente problemáticas para a saúde. De acordo com a Tesla e considerando exclusivamente o mercado norte-americano, os camiões a gasóleo representam apenas 1% dos veículos em circulação. Contudo, são responsáveis por 20% das emissões e 36% das partículas.

A Tesla não anunciou a potência do Semi, mas fez saber que o tractor recorre aos mesmos três motores do Model S Plaid, que soma 1020 hp, ou seja, cerca de 1034 cv. Contudo, estas três unidades estão instaladas de forma separada, com o primeiro dos dois eixos motrizes a ser accionado por um dos motores, precisamente o responsável por fazer deslocar o camião em estrada e a velocidade de cruzeiro. Nos arranques e nas acelerações mais fortes, os dois outros motores juntam-se ao primeiro, apesar destas duas unidades estarem associadas ao segundo eixo motriz.

As primeiras unidades do Semi já foram entregues, com a Tesla a prever produzir 100 unidades até final do ano. Em 2024, em velocidade de cruzeiro, espera atingir 50.000 unidades/ano

Medindo a capacidade de aceleração apenas do tractor, o Semi é surpreendentemente rápido no arranque. De 0-60 mph, cerca de 0-97 km/h, o Semi consome apenas 5 segundos, o que lhe permite bater desportivos reputados como o mais recente dos Honda Civic Type R, com 330 cv, que ultrapassa a mesma fasquia em 5,3 segundos. É claro que a puxar 37,2 toneladas, a rapidez sofre um revés, mas continua a ser muito superior à conseguida pelos concorrentes a gasóleo, com a marca a reivindicar 20 segundos.

O Semi pode vir para a Europa? Será competitivo?

Se a Tesla pensa fabricar apenas 100 unidades do Semi mais potente e com a maior bateria até final de 2022, sabe-se também que promete produzir 50.000 tractores por ano já em 2024. E, a confirmar-se a poupança permitida por este veículo pesado eléctrico, não lhe faltarão os clientes. Contudo, há algumas diferenças entre as especificações dos camiões semi-reboques de um lado e outro do Atlântico, do peso bruto ao comprimento, passando pelo tipo de utilização.

Na Europa os camiões são mais curtos, o que explica a ausência das cabinas mais compridas, com o motor lá bem à frente, obrigando a frentes verticais em que a posição de condução acaba por ficar localizada em cima da mecânica, com tudo o que isso implica. Mas este revés acaba por ser mitigado pelo facto de os camionistas europeus conduzirem durante um menor número de horas por dia, longe das 12 dos americanos. Resta saber se frente aerodinâmica do Semi, que torna a cabina mais comprida, obrigará a reboques mais curtos, para compensar.

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Outro dado importante que ainda se desconhece é a tara do tractor, que será necessariamente maior do que a dos seus adversários diesel. Mas também aqui há atenuantes, uma vez que os americanos permitiram que os camiões eléctricos fossem mais pesados 2000 libras (907 kg, com 82.000 em vez de 80.000 libras), enquanto os legisladores europeus foram mais longe, oferecendo uma folga de 2000 kg para acomodar os acumuladores. Mas como as distâncias percorridas pelos camionistas europeus são também mais pequenas, com tempos de paragem superiores (para um só condutor), é possível que muitos ponderem optar pelo Semi com 483 km (com carga máxima), devido à sua capacidade de recarregar rapidamente.

O interesse que o Semi granjeou junto das empresas de transporte europeias é confirmado pelo facto de as encomendas já terem aberto em mercados como o britânico, o norueguês e dos Países Baixos. Neste último, o Semi base é proposto por 130.000€, anunciando um consumo de 475 km já pelo método europeu, com a versão Long Range a exigir um investimento de 150.000€ e a Founders Series 170.000€.