O Semi continua a dar que falar. Sem rival à altura no mercado, o tractor eléctrico para camiões semi-reboque da Tesla com capacidade para deslocar um peso bruto de 37.194 kg nos EUA já está nas mãos dos clientes, conforme aqui lhe demos conta. E isso permitiu que outras pessoas, que não Elon Musk, se pronunciassem acerca do Semi. Cerca de 15 dias depois de a PepsiCo ter recebido as primeiras unidades do Semi, todas elas com 805 km de autonomia, o vice-presidente da companhia, Mike O’Connel, veio acrescentar alguns dados desconhecidos.

Semi nas mãos de clientes. Tesla inicia entregas do Model 3 dos camiões

Em declarações à Reuters, Mike O’Connel revelou que a ideia é utilizar o Semi para transportar produtos alimentares Frito-Lay durante 425 milhas (684 km), mas para cargas mais pesadas, como refrigerantes, o camião vai começar por fazer deslocações mais curtas, à volta de 100 milhas (160 km). Estes números foram o suficiente para dinamitar a discussão nas redes sociais, pelo (aparente) desvio face à autonomia que foi anunciada pelo CEO da Tesla, ainda que o próprio cliente do Semi tenha acrescentado que o Semi também vai ser usado para transportar refrigerantes em viagens mais longas, entre 400 e 500 milhas (644 e 805 km).

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De recordar que o acordo entre a Tesla e a PepsiCo passou justamente por colocar o Semi ao serviço, na estrada, como parte do seu programa de desenvolvimento, o qual está ainda a decorrer. Tanto assim é que, além de esperar receber em breve mais 64 unidades do Semi, a PepsiCo vai igualmente integrar na sua frota o tractor eléctrico para camiões semi-reboque equipado com a bateria mais pequena (483 km de autonomia), mal este entre em produção.

O coeficiente de penetração aerodinâmica do Tesla Semi, quando comparado com os seus rivais a gasóleo e com o Bugatti Chiron

Outro dado novo, revelado por O’Connel, é que no final de uma viagem de 425 milhas (684 km) a transportar produtos Frito-Lay (mais leves que refrigerantes), a bateria do Semi ainda tem cerca de 20% de energia e o carregamento demora 35 a 45 minutos. Deduz-se que num posto de carga de 750 kW, como os que a empresa mandou instalar. Mas na revelação do Semi, Musk anunciou uma rede própria para o seu tractor eléctrico, com carregadores de 1 MWh.

Até hoje, o construtor liderado por Elon Musk nunca sentiu a necessidade de fornecer muitas informações. Neste caso, em concreto, o preço definitivo do Semi (excepto as três versões de lançamento, propostas por 150.000, 180.000 e 200.000 dólares), a capacidade das baterias e a carga útil transportável permanecem uma incógnita. Por outro lado, a Tesla também chegou a ser criticada por nunca ter abraçado um desenvolvimento até à exaustão de qualquer um dos seus modelos. Mas se a primeira “regra” ainda aguarda excepção, a segunda foi quebrada pelo Semi, que se pode considerar o Tesla mais testado de sempre. O tractor eléctrico foi submetido a mais provas e aos mais variados testes de que há memória (e também registo) na marca, como se pode ver no vídeo abaixo.

O construtor norte-americano leva assim a crer que, apesar dos atrasos, valeu a pena esperar pelo Semi. Isto porque, tal como se espera dos seus congéneres a combustão, é suposto que quem adquira o camião da Tesla tenha um veículo fiável, para durar largos anos. Conhecida essa exigência no mercado dos pesados, a equipa de engenheiros da marca tratou de testar o Semi, sabendo de antemão que este tipo de veículos tradicionalmente tem uma vida útil longa, até porque representa um investimento significativo. “Mantemos os camiões por um milhão de milhas (1.609.344 km), sete anos”, disse O’Connell à Reuters.

Por outro lado, espera-se que um pesado não tenha problemas em percorrer longas distâncias e superar as mais diferentes condições climatéricas, na maioria das vezes completamente carregado, para a operação ser rentável. E todos estes requisitos são, teoricamente, as maiores limitações de um modelo eléctrico, cuja autonomia baixa drasticamente consoante a velocidade aumenta, a temperatura baixa ou a carga pesa… Será que o Semi vai (mesmo) provar que, operacional e financeiramente, há futuro para os camiões eléctricos a bateria? Com ajudas governamentais, será mais fácil e ficámos a saber que, nos EUA, os apoios federais são de 40.000 dólares para esta classe de veículos, a que há que somar as ajudas dos diferentes estados.