Daniel Bronchalo chegou à ilha onde viria a matar Edwin Arteaga a 1 de agosto. Koh Pha Ngan, na Tailândia, é conhecida pelas suas “Festas da Lua Cheia”, eventos extravagantes que acontecem uma vez por mês e atraem dezenas de milhares de jovens à localidade. À primeira vista, seria um destino de sonho para um jovem chef de cozinha, de 29 anos. Na realidade, as férias de Bronchalo assumiram contornos macabros: detido pelas autoridades tailandesas, o espanhol confessou ter assassinado e desmembrado o “amigo”, um cirurgião colombiano de 44 anos.
Filho de um conhecido ator espanhol — Rodolfo Sancho, conhecido pela versão espanhola de “Ministério do Tempo” (uma adaptação foi produzida em 2017 para a RTP) — Daniel disse à agência EFE que se sentia “refém” de Edwin. “Era uma jaula de vidro, mas era uma jaula”.
Fontes próximas da investigação contaram ao jornal tailandês Bangkok Post que o par terá combinado viajar e encontrar-se em Koh Pha Ngan, onde Edwin Arteaga reservou um quarto de hotel entre 31 de julho e 2 de agosto. Imagens de videovigilância a que meios de comunicação locais tiveram acesso mostram os dois a deslocarem-se juntos de mota pela ilha — exatamente 24 horas antes de Daniel Bronchalo comunicar à polícia que o companheiro de viagem tinha “desaparecido”.
Um dia depois, estava a ser interrogado pelas autoridades, acabando por confessar a autoria do crime. “Ele estava obcecado comigo. Enganou-me, fez-me crer que queria fazer negócio comigo, meter dinheiro na empresa onde eu era sócio”, afirmou o chef, cujas declarações à EFE foram feita na presença dos seus advogados tailandeses.
“Era tudo mentira. A única coisa que queria era a mim, que fosse seu namorado”. Daniel garante que se tentou afastar, mas que, sempre que o fazia, era ameaçado e pressionado por Edwin. Eventualmente, atingiu o limite e, num surto psicótico, matou o cirurgião.
Esta versão não convence as autoridades tailandesas. Por um lado, porque imagens de videovigilância mostram o alegado homicida a comprar facas, uma serra e sacos do lixo na terça-feira, 1 de agosto, dias antes do crime; por outro, porque dificilmente um “surto psicótico” duraria tempo suficiente para que uma pessoa desmembrasse um corpo, escondesse as partes em vários pontos da ilha e, no dia seguinte, reportasse um falso desaparecimento à polícia.
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De acordo com o El País, as autoridades apontam para outra tese: a de um crime passional, motivado por ciúmes e por uma paranoia de Bronchalo de que Arteaga o iria trair. O espanhol de 29 anos garante que não tinha qualquer relação amorosa ou sentimental com a vítima e que eram apenas “parceiros de negócios” — não obstante afirmar que Edwin o “obrigou” a terminar a relação com a namorada de longa data e a fazer “coisas que nunca tinha feito”.
Daniel garante que não foi coagido pela polícia a assumir a autoria do crime: “Não me bateram nem fizeram mal”. Sobre o porquê de ter confessado, admite que sentiu que não tinha opção. “Eles tinham provas do meu ADN, isso é tudo”.
No domingo, o filho de Rodolfo Sancho participou com as autoridades numa reconstituição do crime e acompanhou os agentes tailandeses aos locais onde várias partes do corpo de Edwin Arteaga foram encontradas: num aterro de lixo foi recuperada uma pélvis e partes de intestino; noutro local, um saco encobria parte dos membros inferiores, junto com uma camisa e uns calções. Por encontrar estão ainda vários restos mortais (incluindo a cabeça), mas amostras de ADN já tornaram possível identificar a vítima como sendo Arteaga.
Daniel Bronchalo está formalmente acusado de homicídio premeditado e desmembramento para esconder a morte ou as suas causas. Esta segunda-feira, o jovem foi transferido do posto de Koh Pha Ngan para a ilha vizinha de Ko Samui e presente a tribunal, onde se declarou culpado diante do juiz. Caso venha a ser condenado, o código penal tailandês prevê pena de morte para homicídios (geralmente reduzida para prisão perpétua por decreto do Rei da Tailândia).
À EFE, o jovem confirmou que tem estado em contacto com a família, incluindo com o pai, e que Rodolfo Sancho deverá viajar até à Tailândia ainda esta semana para acompanhar o processo do filho. Em comunicado, a família de Daniel pediu privacidade e instou os meios de comunicação a “absterem-se de publicar qualquer juízo precipitado e lançar informações” que pudessem interferir com o desenrolar do processo judicial. “[Pedimos] o máximo respeito, quer pelo próprio Daniel Sancho, quer por toda a família, nestes momentos delicados e de confusão máxima”, pode ler-se.
(Notícia atualizada às 10h15 do dia 8 de agosto com a informação de que Daniel se declarou formalmente culpado)