A possibilidade de os carros eléctricos arderem sem aviso ou motivo aparente é conhecida há muito, mas quanto mais veículos eléctricos a bateria se vendem, mais frequentes são os casos e mais assustados ficam os potenciais clientes de veículos que adoptam esta tecnologia. É certo que o risco de incêndio apenas surge quando algo corre mal, seja uma falha na montagem, uma célula da bateria defeituosa ou um acidente anterior (ou pancada forte na zona inferior) que venha a provocar perda de electrólito. Mas a verdade é que há casos em que carros novos, que nunca bateram e com emblemas de marcas reconhecidas pelo seu controlo de qualidade, geraram incêndios de tal forma destrutivos que as perdas vão (muito) para além do próprio veículo.
Um dos exemplos mais recentes aconteceu na Florida, com um Mercedes EQE 350+ de 2023. Um casal deixou o seu Mercedes na oficina e recebeu como carro de substituição o SUV eléctrico do construtor alemão. Regressou a casa e estacionou-o na garagem da vivenda, tendo sido surpreendido às 8h30 com uma explosão, seguida de fumo e um incêndio que devorou o Mercedes, a garagem e grande parte da habitação.
Este caso é mais um a sobrecarregar a Mercedes, que recentemente se viu igualmente implicada, juntamente com a BMW, no rol dos suspeitos por ter um dos seus veículos eléctricos como causador do incêndio que quase afundou o “Fremantle Highway”, um navio Ro-Ro porta veículos com 3783 automóveis a bordo, 498 dos quais alimentados exclusivamente a bateria. Mas a realidade é que todos os veículos eléctricos que recorram a baterias de iões de lítio convencionais, ou seja, com níquel, podem arder caso algo corra mal, como aconteceu a este casal da Florida.
Já publicámos no Observador vários casos em que eram modelos com motor a combustão que ardiam sem motivo aparente, sempre com danos catastróficos, da mesma forma que já publicámos diversas histórias sobre as mais variadas marcas de veículos eléctricos que também viram os seus carros arder sem causa, o que nos permite afirmar que este risco é transversal a toda a indústria, pelo que deixemos aos analistas do sector determinar quais os construtores cujos modelos alimentados por bateria revelam mais tendência para arder, face ao número de unidades em circulação.
Mas, de uma forma ou outra, é fundamental que os fabricantes encontrem uma solução para terminar com estes incêndios sem motivo aparente, que decididamente podem “matar” a vontade de muitos potenciais clientes adquirir um veículo eléctrico. Ou, no mínimo, de estacioná-lo em casa, na garagem ou à entrada.
A Mercedes foi contactada pela imprensa norte-americana sobre o incêndio do EQE 350+ na Florida, tendo declarado estar a investigar os motivos que provocaram o incidente com um carro novo. E como o casal afirma ter prejuízos de 1 milhão de dólares, espera-se que as respostas surjam rapidamente. Para ajudar à confusão e segundo o vídeo do canal de notícias News4Jax, o EQE 350 era alvo, desde Maio, de um recall devido a um defeito no sistema de gestão da bateria, que poderia não informar o utilizador de que existia um erro no sistema de alta voltagem. De acordo com a imprensa norte-americana, a chamada à oficina envolve o sistema de aviso e não necessariamente um risco de incêndio, pelo que resta aguardar que a Mercedes divulgue as suas conclusões, no que será acompanhada pela EPA, a organização que defende os consumidores e segue de perto tudo o que pode colocar os utilizadores em risco.