Continuam a pingar jogadores nos principais clubes da Arábia Saudita. O Al-Ahli reforçou-se com Gabri Veiga, jogador espanhol de 21 anos. A transferência do internacional jovem espanhol do Celta de Vigo para a Liga Saudita veio romper com um padrão. Até aqui, a Arábia Saudita tinha recrutado apenas jogadores com provas dadas. A saída de Gabri Veiga da La Liga constitui a primeira aquisição de uma promessa. Toni Kroos, jogador do Real Madrid, deixou o seu parecer nas redes sociais: “Embaraçoso”.
EXCLUSIVE: Gabri Veiga to Al Ahli, here we go! Bid accepted by Celta, player also said yes ????????????????
Coach Jaissle was crucial for Veiga to accept.
Al Ahli sign their secret top target.
Saudi side want to invest on world best talents — and now they also got the gem Gabri Veiga. pic.twitter.com/8xfOMyiUTS
— Fabrizio Romano (@FabrizioRomano) August 23, 2023
Durante o Campeonato do Mundo do Qatar, em 2022, a Arábia Saudita surpreendeu ao ganhar à Argentina na fase de grupos. O país teve direito a um dia de feriado para comemorar a vitória. Era evidente que o futebol se tinha tornado num assunto de Estado para o país. Foi então que, no decorrer da mesma competição surgiram os primeiros rumores sobre a possibilidade de Cristiano Ronaldo rumar ao Al Nassr e dar início a um fluxo migratório de futebolistas sem precedentes. Ninguém acreditava. Aconteceu.
O interesse da Arábia Saudita no futebol não nasceu aí. A compra dos Newcastle em outubro de 2021 por 353 milhões de euros foi o primeiro passo do alastrar de influência saudita no meio. O desporto é um dos pilares fundamentais da Visão 2030 do país, um plano económico que tem como objetivo diminuir a dependência do petróleo e dinamizar outras áreas da economia. Apesar de integrar uma visão política autocrática, a ideia é transmitir uma ideia de abertura delineada pelo seu estratega: Mohammed bin Salman.
Mohammed bin Salman é o príncipe herdeiro da Arábia Saudita e é também o presidente do Fundo de Investimento Público que adquiriu os quatro principais clubes do país, o Al Ittihad, o Al Nassr, o Al Hilal e Al Ahli (este último promovido recentemente ao principal escalão mas com um vasto historial, tendo inclusivamente sido campeão). Portanto, na prática, bin Salman é o “patrão” de todos os futebolistas dessas equipas por liderar o maior proprietário de todos com cerca de 80% do capital social.
Com o estado de saúde do rei Salman bin Abdulaziz (87 anos) a tornar-se cada vez mais crítico, Mohammed bin Salman tem sido o principal rosto do país e reforçou esse estatuto ao tornar-se primeiro-ministro no ano passado, deixando a pasta da Defesa. O caminho até ao topo não foi feito sem “pisar” ninguém. O príncipe herdeiro calcou rivais políticos e de negócios para conseguir promover a abertura ao exterior ao mesmo tempo que desenvolvia novas formas para dinamizar a economia com recurso ao desporto, ao turismo e à cultura.
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Numa demonstração de autoridade, em 2017, bin Salman terá iniciado uma purga que durou 15 meses onde deteve centenas de membros da família real e de empresários que podiam constituir uma afronta ao poder no hotel Ritz-Carlton, em Riade. Os prisioneiros foram sujeitos a agressões e torturas e foram pedidas elevadas quantias de dinheiro para a sua libertação.
Mohammed bin Salman fez promessas de um país mais aberto e livre. Progressivamente, levantaram-se regras que proibiam as mulheres de conduzir ou de aceder a recintos desportivos, limitavam a liberdade religiosa ou que travavam o turismo e o acesso de cidadãos estrangeiros. Com o objetivo de passar essa imagem, o reino tem levado a cabo campanhas de comunicação, como foi possível assistir no vídeo de apresentação de Otávio quando foi apresentado como jogador do Al Nassr, onde se ouvia uma criança a dizer “a Arábia Saudita é um grande país com uma grande visão. Todos os que foram para lá estão felizes”.
Apesar das promessa, ativistas e opositores do regime continuam a ser perseguidos. A Arábia Saudita mantém a pena de morte e, segundo o The Guardian, as execuções praticamente duplicaram com o país debaixo da influência de bin Salman. Entre 2015 e 2022 foram mortas 129 pessoas em média por ano, o que representa um crescimentos de 82% face ao período entre 2010 e 2014. No ano de 2022 foram mortas 147 pessoas. A organização não-governamental Human Rights Watch destaca o problemas. “A Arábia Saudita gasta milhares de milhões de dólares na organização de grandes eventos de entretenimento, culturais e desportivos para se desviar do fraco registo de direitos humanos do país”.
As ações de Mohammed bin Salman tiveram em particular destaque no final de 2018 quando o jornalista Jamal Khashoggi foi assassinado por 15 agentes sauditas em Istambul. Segundo a CIA, o homicídio foi ordenado pelo príncipe herdeiro.
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A Arábia Saudita tem intensificado a atividade junto da fronteira com o Iémen, onde o país tem matado centenas de migrantes etíopes entre março de 2022 e junho de 2023 com recurso a engenhos explosivos e tiros à queima-roupa. De acordo com a informação da Human Rights Watch, entre as vítimas incluem-se mulheres e crianças. Segundo o The Washigton Post, a Arábia Saudita levou a cabo ataques aéreos no Iémen que têm como alvo casas, hospitais e torres de comunicações.
Mohammed bin Salman tem mantido relações próximas com vários países. Em 2022, recebeu o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o presidente dos EUA, Joe Biden. Este mês, visitou o presidente francês, Emmanuel Macron, em Paris, e foi convidado pelo primeiro-ministro, Rishi Sunak, para visitar o Reino Unido.
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O governante saudita tem um avião particular avaliado em 500 milhões de euros – no qual aterrou Neymar quando rumou ao Al Hilal – e um iate. Possui também um quadro de Leonardo Da Vinci que comprou por 415 milhões. Em 2015, comprou o Castelo Luís XIV, a propriedade mais cara do mundo, por 275 milhões.