Desde 2016 que não era visto em público. Nos últimos tempos, Dmitry Utkin manteve-se longe de quaisquer holofotes, gerindo nos bastidores o funcionamento do grupo Wagner, que fundou em 2014. Aliás, foi este homem, que ia a bordo do avião que se despenhou esta quarta-feira em Kuzhenkino, quem escolheu o nome da milícia, uma vez que era admirador do compositor alemão Richard Wagner, que era o músico favorito de Adolf Hitler.

Aliás, Dmitry Utkin associava-se a grupos neonazis e admiraria Adolf Hitler. Não é de estanhar, portanto, que tenha tatuado no corpo uma suástica, uma águia, entre outros. Além disso, o homem terá tido, como nota a revista Time, uma função de relevo no Movimento Imperial Russo, assumidamente ultranacionalista e de supremacia branca — e que foi considerado pelos Estados Unidos uma organização terrorista.

Utkin terá nascido a 11 de junho de 1970 em Asbest, uma cidade na província russa de Sverdlovsk – há versões contraditórias que apontam que nasceu na Ucrânia. Certo é que o homem cresceu na aldeia de Smoline, na província ucraniana de Kirovohrad, e vivia com apenas com a mãe, que era engenheira civil. De acordo com uma investigação da Dossier Center, uma organização fundada pelo opositor do Kremlin Mikhail Khodorkovsky, era um jovem “arrogante”, ainda que fosse bom aluno.

Quando terminou a escola secundária, Dmitry Utkin saiu da Ucrânia e mudou-se para São Petersburgo, onde ingressou na carreira militar. Não é claro qual o percurso, mas terminou a trabalhar no serviço de informações do Ministério da Defesa russo (GRU) em Pskov, perto da fronteira com a Estónia. Também lutou na segunda guerra da Chechénia, o que faz aumentar a sua reputação entre as chefias militares russas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em 2002, três anos após lutar na Chechénia, Utkin foi nomeado comandante de tropas especiais em Pechory, perto de Pskov. Oito anos depois, quando fez 40 anos, subiu na hierarquia militar e tornou-se tenente-coronel, mas foi para a reserva em 2012. Insatisfeito com esta nova fase da vida, começou a relacionar-se com algumas milícias privadas, como os Corpos Eslavos. Foi com este grupo de mercenários que foi lutar para a Síria em 2013 — mas sem o aval do Estado russo, o que levou a que fosse detido. 

Não esteve preso durante muito tempo, contudo. Em 2014, na sequência da anexação da Crimeia e do início da guerra no leste da Ucrânia, o Kremlin necessitava mais do que nunca de soldados profissionais. E libertou Dmitry Utkin, que, por essa altura, fundou o grupo Wagner, juntamente com Yevgeny Prigozhin, se bem que nunca tenha sido divulgado onde é que os destinos dos dois homens se cruzaram.

Inicialmente, como um dos principais líderes da milícia dos Wagner, Dmitry Utkin desempenhou um papel fundamental no controlo da Crimeia e na guerra no Donbass, como conta o projeto Putin’s List que denunciou os negócios e a vida dos aliados de Vladimir Putin. 

A partir de 2015, Dmitry Utkin geriu os combates do grupo Wagner um pouco por todo o globo — na Síria, no Sudão e na Líbia —, servindo como braço armado do Kremlin. Em novembro 2017, o mercenário, que tem cinco filhos, passou a exercer também o cargo de diretor geral da empresa de catering de Yevgeny Prigozhin, a Concorde, deixando de desempenhar funções militares — e a ficar ainda mais na sombra.

Certo é que, mesmo longe da ribalta, os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Europeia olhavam com preocupação para o que Dmitry Utkin podia fazer. Esta quarta-feira, ao lado de Yevgeny Prigozhin — a quem se terá mantido fiel —, o homem de 53 anos morreu no acidente de avião que vitimou mais oito pessoas.

Notícia alterada às 12h38 de dia 24 de agosto