A quarta etapa da Vuelta tinha tudo para correr de forma tranquila para os candidatos à geral. Acontece que as mazelas que alguns nomes de relevo na luta pela camisola vermelha sofreram num início de competição atribulado podiam baralhar estes cálculos. A organização considerava a corrida desta terça-feira como de “média montanha”, o que até parece um insulto para tudo o que a Volta a Espanha ainda tem reservado. Ao longo de 183,4 km entre Andorra la Vella e Tarragona, os maiores desafios eram duas contagens de terceira categoria.

Um plano ousado podia passar por fazer um teste à concorrência na primeira subida e atacar na segunda. Claro que isso só seria possível para um um ciclista com as pernas mais frescas e o corpo sem vestígios de encontros inesperados com o chão. Acontece que os últimos 30 quilómetros realizavam-se num traçado descendente que dava sempre hipótese de recuperação. Por isso, era dia para os sprinters.

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A atenção desviava-se para a forma como Remco Evenepoel ia reagir ao acidente na terceira etapa para perceber se conseguia defender a camisola vermelha que conquistou esta segunda-feira. Já depois de cruzar a meta, o belga chocou com uma mulher que estava logo após a meta e saiu da bicicleta a sangrar. O ciclista da Soudal Quick-Step recebeu um pedido de desculpas da organização e confessou que não esperava encontrar um grupo de pessoas 50 metros imediatamente após a meta.

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Após alguns ponto no sobrolho e uma boa noite de sono, Remco Evenepoel, antes do início da quarta etapa, não mostrava fragilidades. “Em relação a músculos e ossos, está tudo perfeito, só tive um pequeno corte acima do olho e pronto. É especial ser líder de uma grande volta. É a minha segunda vez este ano. Vamos ver. Acho que hoje e amanhã será difícil vencer, mas acho que no dia seguinte temos uma grande chance. Veremos, temos sempre que ver a situação da corrida, mas aproveitaremos o máximo possível”, disse o belga que só queria “ficar livre de problemas”. A estrada ia escrutinar se se tratava de bluff  ou não. Geraint Thomas (Ineos) e Primoz Roglic (Jumbo-Visma) eram outros dois que caíram anteriormente e iam continuar a ter a condição física testada.

Uma vitória do suor, sem lágrimas e com muito sangue à mistura: Remco Evenepoel vence em Andorra e sobe à liderança, João Almeida faz top 10

Na Vuelta há que esperar tudo. Depois dos pioneses e pregos na estrada para que os corredores furassem os pneus, a polícia espanhola deteve esta segunda-feira quatro pessoas que se preparavam para derramar, a partir do topo de um túnel, 400 litros de óleo na estrada no momento da passagem do pelotão. Assim, todo o cuidado era pouco.

Eduardo Sepúlveda (Lotto Dstny), que já na corrida anterior tinha sido protagonista, desta vez teve a companhia de Ander Okamika (Burgos-BH) e de David González (Caja Rural-Seguros RGA) a orquestrar a fuga do dia, mas sem grande sucesso. O trio manteve-se destacado do pelotão, mesmo que não tenha se descolado muito mais de 1.20 minutos.

A perseguição, mesmo não sendo muito organizada, conseguia diminuir a distância para os dissidentes muito pouco cooperantes. No entanto, a fuga não foi anulada antes de Sepúlveda passar na frente da primeira contagem de montanha, no Alto de Belltall. Se no início da corrida o argentino estava empatado com Evenepoel no topo da classificação dos trepadores, com o arrecadar de mais três pontos, isolou-se no primeiro lugar.

Mesmo em longas retas, o pelotão seguiu sempre compacto. Apesar do grupo principal começar a avistar o trio da frente, Sepúlveda ainda passou na frente em Coll de Lilla, comando mais três pontos. Depois, a 24 km do fim, a fuga deixou de existir. A partir daí, começava-se a tentar perceber quais seriam os sprinters com mais capacidade para discutirem a vitória na etapa.

Bryan Coquard (Cofidis) era um dos possíveis vencedores, mas os problemas físicos descredibilizavam a sua candidatura. Com o acidente que o velocista sofreu a menos de cinco quilómetros da meta e que também envolveu Santiago Buitrago (Bahrain) e Kobe Goossens (Intermarché-Wanty), a cinco quilómteros do fim, o francês ficou definitivamente de fora. Depois da Ineos aumentar o ritmo, começaram-se a formar os comboios.

A Alpecin-Deceuninck e a UAE Team Emirates conseguiram o melhor posicionamento para as curvas finais. Sebastian Molano lançou o sprint bastante longe da meta. O colombiano liderou até aos metros finais, mas Kaden Groves apareceu para roubar a vitória ao colega de João Almeida e de Rui Oliveira. Mesmo assim, Remco Evenepoel conseguiu manter a camisola vermelha do líder da classificação geral. Não foi só a disputa da etapa que a queda no meio do pelotão afetou, mas também a classificação geral. Santiago Buitrago e Wilco Kelderman (Jumbo-Visma), envolvidos no acidente, saíram do top 10, permitindo a João Almeida subir de 13.º para 11.º.