Os chefes de diplomacia de Portugal e Itália reuniram-se esta sexta-feira em Roma e concordaram que os dois países têm “visões bastante convergentes” tanto sobre a situação geopolítica internacional, como sobre um reforço das relações económicas bilaterais.

Em declarações por telefone à Lusa depois do encontro com o seu homólogo italiano, Antonio Tajani, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, indicou que a reunião serviu para “fazer o ponto da situação e identificar oportunidades no relacionamento bilateral entre Portugal e Itália” e “comparar as ideias” sobre os desafios com que se confrontam, “particularmente enquanto União Europeia” (UE), em várias partes do mundo.

“No que diz respeito à relação bilateral, ela é muito boa. Não tem nenhuma dificuldade. Temos claramente potencial para fazer melhor em termos da relação económica e, para isso, combinámos estreitar relações entre as nossas agências de promoção do comércio e comércio exterior, portanto a AICEP no nosso caso e a congénere italiana”, indicou.

Somos países com economia de mercado livre, economia aberta, e, portanto, não damos instruções às nossas empresas, mas as nossas agências podem ajudar a identificar oportunidades”, justificou.

Sobre “o relacionamento da UE com outras partes do mundo”, o chefe da diplomacia portuguesa assinalou que esta sexta-feira as atenções não estiveram tão focadas na Ucrânia, “porque há grande convergência de visões” entre os dois países sobre a Ucrânia, mas sobretudo em “explorar ideias de cada lado sobre os desafios do Sahel e do norte de África”.

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A discussão teve como pano de fundo “a situação relacionada com o golpe de Estado no Níger, que se segue a golpes de Estado no Mali e no Burquina Faso, e que cria, portanto, toda uma faixa extremamente extensa do Sahel em que há regimes militares que têm demonstrado pouca capacidade de se confrontar com o desafio do terrorismo”, declarou João Gomes Cravinho, acrescentando que também foi abordado o Magrebe, onde se verifica “uma situação muito delicada, seja na Líbia, seja na Tunísia”.

Acreditamos, tanto um como o outro, que os ultimatos que têm sido feitos, no norte de África e na região do Sahel, não têm produzido resultados que sejam úteis para a política externa europeia, e que, portanto, precisamos de uma abordagem nova e uma abordagem focada mais no futuro do que em recuperar aquilo que não é recuperável em relação ao passado”, disse.

Segundo o ministro, “é muito importante a CEDEAO [Comunidade Económica dos Países da África Ocidental) ser valorizada enquanto organização regional africana”, e estabelecer o diálogo, pois “os militares devem estar nas casernas quando não estão ocupados a combater as ameaças terroristas e não devem estar envolvidos na política”.

“Agora, nós, para fazer regressar os militares às casernas, temos de ter um caminho que só pode passar pelo diálogo”, insistiu, indicando que Portugal e Itália são “países particularmente atentos àquilo que se passa na região do Sahel”, comentando que, também neste caso, as suas posições são “bastante convergentes”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros indicou que ainda que teve oportunidade de discutir as relações com a China com o seu homólogo italiano, que acabou precisamente de regressar de Pequim, afirmando que também aqui há “bastante convergência” no entendimento de que “as relações com a China estão numa fase em que a dinâmica, precisamente por ser dinâmica, não é fácil”, mas Portugal e Itália entendem que devem “estar entre os países que contribuem para uma relação positiva entre a China e a UE”.

Sublinhando que se trata de “uma relação em que a UE também estabelece aquilo que são as suas prioridades, os seus limites, os seus interesses e as suas linhas vermelhas”, o ministro apontou que, por outro lado, há também que “procura estimular um contacto positivo com a China”, que é “um parceiro em algumas matérias particularmente importantes para a Europa”.

“Não devemos imaginar que o mundo está destinado a uma clivagem bipolar entre China”, reiterou, rejeitando essa ideia fatalista de que esse é um cenário “que se vai materializar de uma maneira que nós não podemos evitar”.

Interessa-nos, enquanto europeus, criar circunstâncias para um contributo positivo da China para a globalização destes próximos anos, que será diferente da globalização dos anos anteriores”, declarou João Gomes Cravinho.

Também Antonio Tajani, que recorreu à rede social X (ex-Twitter) para fazer um balanço da reunião com o chefe da diplomacia portuguesa, destacou a grande sintonia entre Portugal e Itália nas diferentes matérias esta sexta-feira abordadas no encontro de trabalho em Roma.

Itália e Portugal estão plenamente de acordo sobre as prioridades da política externa, começando pela luta contra a migração irregular em África e no Mediterrâneo, e no relançamento com a América Latina. O nosso objetivo é reforçar ainda mais as excelentes relações económicas”, escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano.