Os líderes de mais de 50 organizações internacionais de direitos humanos emitiram esta quarta-feira uma declaração conjunta a apelar à mobilização da comunidade internacional perante “o desastre que está a acontecer diante dos nossos olhos” no Sudão. Os líderes das organizações não-governamentais (ONG) acusam mesmo o Conselho de Segurança das Nações Unidas de “negligência” e afirmam: este organismo “deve passar do discurso à ação”.

Em causa, os combates em Cartum, capital do Sudão, que duram desde abril. O conflito opõe as forças armadas do país, lideradas pelo general Abdel Fattah Burhan, e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido, comandadas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo.

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As hostilidades alastraram-se entretanto ao Darfur e aos estados do Cordofão do Sul e do Nilo Azul. Pelo meio, há registo de violações dos direitos humanos, de acordo com os signatários da declaração a que o Observador teve acesso. A violência sexual está a aumentar, os civis enfrentam ataques generalizados, deliberados e indiscriminados e os jornalistas e ativistas dos direitos humanos estão a ser silenciados, alertam as organizações.

O Sudão já não se encontra à beira das atrocidades em larga escala. Caiu no precipício”, lê-se no documento.

As mais de 50 organizações não-governamentais apelam, assim, a que a comunidade internacional envie ajuda para o Sudão. E a ONU é a principal visada.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve passar do discurso à ação e iniciar negociações para aprovar uma resolução que reprima o clima de impunidade, que reforce que a lei internacional exige acesso livre e seguro à ajuda humanitária e que redirecione os esforços internacionais para proteger de forma mais eficaz os mais vulneráveis no Sudão”, acrescenta a declaração.

O apelo dos líderes das organizações dos direitos humanos, a que se referiram como uma tentativa de “fazer soar o alarme”, foi lançado esta quarta-feira de forma a coincidir com uma reunião do Conselho de Segurança sobre, precisamente, a situação no Sudão.

Tirana Hassan, diretora executiva da Human Rights Watch, citada no texto, acusa o Conselho de Segurança de “negligenciar a responsabilidade de responder com firmeza”. “O principal órgão do mundo para a paz e segurança internacionais não deve permanecer em silêncio perante graves crimes internacionais”, acrescenta a ativista.

Já Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional, avisa que “o Conselho de Segurança não pode continuar a desviar o olhar: deve exigir um aumento significativo do apoio humanitário ao Sudão e alargar o atual embargo de armas a todo o Sudão e garantir a sua aplicação”.

De acordo com a Human Rights Watch, mais de 20 milhões de pessoas no país, 42% da população sudanesa, enfrentam insegurança alimentar aguda e seis milhões estão a um passo da fome. Pelo menos 498 crianças morreram de fome até agora. Hospitais e médicos têm sido alvo de ataques em todo o Sudão e cerca de 80% dos principais hospitais do país ficaram fora de serviço desde o início dos combates.

Pelo meio, mais de cinco milhões de pessoas foram obrigadas a fugir de casa e centenas de milhares podem ser obrigadas a fazer o mesmo em breve.

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Nos últimos meses, temos visto os campos de refugiados onde trabalhamos no Chade ficarem repletos de pessoas forçadas a abandonar as suas casas”, afirma Mark Hetfield, presidente e diretor executivo da organização de proteção dos refugiados HIAS, também citado no texto conjunto.

Os deslocados do Darfur “estão a chegar com fome, feridos e traumatizados, precisam de assistência e proteção urgentes, mas também precisam que o mundo se mobilize para pôr fim à violência”, acrescenta.

O conflito já matou mais de 4.000 pessoas, de acordo com os números das Nações Unidas divulgados em agosto. No entanto, os médicos e ativistas afirmam que o número real de vítimas é muito superior.