Duas pessoas morreram no estado indiano de Querala, a 30 de agosto e 11 de setembro, vítimas de uma infeção com o vírus Nipah. Há, pelo menos, mais quatro casos confirmados, noticiou o jornal The Times of India.

As autoridades locais encerraram todas escolas e alguns escritórios no distrito de Calicute, declararam nove povoações como zonas de contenção — recomendando que não haja ajuntamentos, incluindo nos locais de culto — e iniciaram a testagem ou vigilância de centenas de pessoas para conterem o surto do vírus.

O Conselho Indiano de Investigação Médica já solicitou a entrega de doses de anticorpos monoclonais contra o vírus para tratar os doentes, reportou o jornal Hindustan Times.

Não devemos ter medo, mas [devemos] enfrentar esta situação com cautela”, disse Pinarayi Vijayan, ministro-chefe de Kerala, sobre o quarto surto do vírus desde 2018.

O primeiro surto do vírus Nipah em Querala, no sudoeste do país, aconteceu em 2018, quando se registaram 21 mortes e confirmaram 23 casos — foi, então, o terceiro surto de vírus Nipah na Índia. Na altura, mais de 230 foram testadas com a perspetiva de identificar precocemente uma potencial infeção nas pessoas com quem os infetados tinham contactado. Agora, já estão identificados, pelo menos, 950 contactos, de acordo com o jornal The Washington Post.

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“Querala é conhecido por alcançar resultados impressionantes na saúde com valores modestos, quando comparado com o resto dos estados da Índia. Assim, Querala confiou nos pontos fortes do seu sistema de saúde para conter o surto”, escreveu a OMS sobre o surto de 2018. “Contudo, a resposta ao surto foi caracterizada por um grande grau de improvisação na fase inicial da resposta”, acrescentou a organização, deixando alguns conselhos.

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Em maio, uma investigação da Reuters já tinha identificado algumas zonas de Querala como as que tinham o maior risco de surto de vírus com origem em morcegos de todo o mundo. Por um lado, a região alberga mais de 40 espécies de morcegos. Por outro, os habitats dos morcegos têm sido muito destruídos, o que faz aumentar a proximidade e contacto entre morcegos e pessoas.

Na quinta-feira à noite, a polícia de Querala registou uma queixa contra um homem de 40 anos por, alegadamente, publicar informação falsa nas redes sociais relacionada com o surto do vírus Nipah no estado. Anil Kumar vive no Koyilandi (distrito de Calicute) e “fez circular ‘fake news’ nas redes sociais relacionadas com o Nipah”, acusou a polícia. “Na publicação, ele alegou que o Nipah era uma narrativa falsa criada pelas farmacêuticas.” O homem acabou por retirar a publicação que, entretanto, já se tinha tornado viral.

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Vírus Nipah tem uma taxa de letalidade elevada

O vírus Nipah foi identificado pela primeira vez em 1999, na Malásia, num surto numa pecuária onde, pelo menos, 300 pessoas foram infetadas e 100 acabam por morrer em resultado de infeção.

A infeção com estes vírus pode ir de assintomática até provocar problemas respiratórios graves e inflamação fatal do cérebro, e tem uma taxa de letalidade que pode ir dos 40 aos 75% — consoante o surto e a capacidade de identificação dos doentes — releva a OMS. Os sintomas iniciais incluem febre, dores de cabeça, dores musculares, vómitos e garganta irritada, e podem ser seguidos por tonturas, sonolência, consciência alterada, problemas neurológicos ou pneumonia atípica. Cerca de 20% dos sobreviventes ficam com sequelas neurológicas.

O reservatório natural deste vírus são os morcegos da família Pteropodidae, que se alimentam de frutas e néctar, e que não parecem apresentar sintomas de doença quando são portadores do vírus. Já os porcos infetados podem adoecer, o que provoca grandes perdas económicas para as populações. Nos porcos, os sintomas podem incluir febre, dificuldade para respirar e sintomas neurológicos, como tremores e espasmos musculares.

Deve-se suspeitar do vírus Nipah se os porcos também apresentarem uma tosse incomum ou se houver casos humanos de encefalite”, alerta a OMS.

O vírus pode, assim, ser transmitido por morcegos, por porcos (que comem as fezes dos morcegos), por alimentos contaminados (como as frutas de que se alimentam os morcegos frugívoros e onde os animais deixam a saliva) ou entre humanos (sobretudo, na transmissão dos doentes para os cuidadores).