Passava pouco das seis da manhã desta terça-feira quando a jornalista Ariane Lavrilleux ouviu o barulho da campainha de casa. Quando abriu a porta, diversos agentes da Direção-Geral da Segurança Interna (DGSI) e um juiz de instrução entraram de rompante. O que se seguiu foram dez horas de buscas, que terminaram com uma detenção por alegada “violação dos segredos da defesa nacional”.

Em causa está uma investigação publicada em 2021, no site Disclose, que denunciou uma operação de espionagem francesa no Egito, cujas informações eram usadas pelo Cairo para fomentar “‘uma campanha de assassinatos arbitrários’ contra contrabandistas que atuavam ao longo da fronteira com a Líbia”, explica o The Guardian.

Nesta investigação, Ariane Lavrilleux usou centenas de documentos confidenciais dos serviços secretos franceses, que foram divulgados. Por quem? É isso que a DGSI quer descobrir.

Segundo a agência AFP, citado pelo jornal britânico, a jornalista está a ser interrogada pelos agentes, que pretendem que esta revele as fontes usadas para a sua investigação. Algo que a publicação Disclose considera “um inaceitável ataque à liberdade de imprensa”.

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O objetivo deste último episódio de intimidação inaceitável contra os jornalistas do Disclose é claro: identificar as nossas fontes que ajudaram a revelar a operação militar ‘Sirli’ no Egito”, escreveu o site, num comunicado.

Entretanto, também o Sindicato Nacional de Jornalistas das Televisões de França e a organização Repórteres Sem Fronteiras pronunciaram-se sobre o assunto, ficando do lado da jornalista.

“A RSF denuncia a custódia de Ariane Lavrilleux e as buscas na sua casa e no seu equipamento informático por denunciar segredos da defesa nacional. Tememos que as ações da DGSI comprometam o sigilo das fontes”, escreveu a organização numa publicação da rede social X (antigo Twitter).

Virginie Marquet, advogada da jornalista e do Disclose, também disse estar “preocupada com os ataques à liberdade de informar” e que esta busca pode colocar “em causa a confidencialidade das fontes de jornalistas”.

A investigação sob a Ariane Lavrilleux começou em julho de 2022, quando o ministro das Forças Armadas francês fez uma queixa formal ao Ministério Público, pela divulgação dos documentos confidenciais.