O vice-presidente da Comissão Europeia (CE), Valdis Dombrovskis, destacou esta terça-feira, em Pequim, a importância de realizar uma investigação aprofundada, para garantir um comércio “justo” e “sem distorções” com a China no setor dos veículos elétricos.
Em conferência de imprensa, no final de uma visita de quatro dias ao país asiático, Dombrovskis enfatizou a necessidade de abordar os subsídios chineses à produção de carros elétricos, uma questão que o representante europeu levantou em várias reuniões com responsáveis chineses, incluindo o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, que copresidiu com o Comissário Europeu o décimo diálogo económico e comercial de alto nível UE — China.
Dombrovskis disse que a investigação vai incidir sobre os subsídios fornecidos à produção de veículos elétricos na China, com a intenção de garantir que cumprem os regulamentos da Organização Mundial do Comércio (OMC) e os regulamentos da União Europeia (UE).
O vice-presidente da CE sublinhou ainda que o bloco comunitário está empenhado em promover a eletrificação do parque automóvel e que está a fornecer subsídios à compra de veículos elétricos.
No entanto, ao contrário dos concedidos pela China, os apoios da UE “estão à disposição de todos os fabricantes”, independentemente da sua origem, e não dependem de requisitos como a compra de componentes a fabricantes locais.
Dombrovskis observou que o rápido crescimento da quota de mercado das marcas chinesas de veículos elétricos na UE, de 1% para 8%, é suscetível de “causar danos à indústria europeia”.
A possibilidade de conceder subsídios aos consumidores apenas para veículos elétricos produzidos na Europa, obrigando as marcas chinesas a localizar a produção, poderia ser questionável do ponto de vista da OMC e dos acordos comerciais bilaterais, disse Dombrovskis.
Ele mencionou que os subsídios que privilegiam a compra de componentes a fabricantes locais e a montagem local “suscitaram preocupações” junto dos Estados Unidos e que a UE não planeia seguir essa abordagem.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou este mês uma investigação sobre os subsídios que a China concede aos seus fabricantes de veículos elétricos.
Os mercados mundiais estão inundados de veículos elétricos chineses mais baratos e o seu preço é mantido artificialmente baixo graças a enormes subsídios estatais”, explicou, num discurso sobre o Estado da União.
A China expressou então “grande preocupação e forte descontentamento” com o anúncio da UE e acusou Bruxelas de praticar “protecionismo flagrante”.
As exportações de veículos elétricos pela China mais do que duplicaram (+110%), entre janeiro e agosto, segundo dados da Associação de Fabricantes de Automóveis da China.
No ano passado, foram vendidos na China quase seis milhões de carros elétricos — mais do que em todos os outros países do mundo juntos. A dimensão do mercado chinês e fortes apoios estatais propiciaram a ascensão de marcas locais, incluindo a BYD, NIO ou Xpeng.
O domínio chinês alarga-se também à indústria de baterias. As chinesas CATL e BYD são os maiores fabricantes mundiais. Pequim mantém ainda forte controlo no acesso a matérias-primas essenciais, incluindo terras raras.