O presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, foi afastado do cargo esta terça-feira, depois de oito representantes do seu próprio partido terem votado a favor da sua destituição. “O cargo de speaker da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos é agora declarado como estando vazio“, anunciou o congressista Patrick McHenry, que presidia à sessão, após o fim da votação.

É a primeira vez na História norte-americana que um presidente da câmara baixa do Congresso é afastado por votação dos membros. Moções semelhantes foram propostas por duas vezes no passado, mas não foram aprovadas.

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O afastamento de McCarthy do cargo surge depois de o seu colega no Partido Republicano Matt Gaetz ter apresentado na véspera uma moção para que fosse destituído. Com uma curta maioria republicana na Câmara dos Representantes (apenas nove mandatos de vantagem), bastou a Gaetz convencer outros sete colegas da área mais radical do partido para que McCarthy fosse afastado.

Ao longo do dia, ainda pareceu haver esperança para McCarthy, caso pelo menos alguns membros do Partido Democrata decidissem apoiá-lo. Mas o líder dos democratas na Câmara, Hakeem Jeffries, desfez o tabu a meio da tarde, sinalizando ao partido qual deveria ser a posição a tomar.

Tendo em conta a falta de vontade deles de se distanciarem do extremismo MAGA [sigla ‘Make America Great Again’, lema da campanha de 2016 de Donald Trump] de forma autêntica e abrangente, a liderança democrata da Câmara vai votar a favor da moção republicana”, anunciou.

A fação mais radical do Partido Republicano na Câmara dos Representantes abriu guerra a McCarthy depois de este ter chegado a acordo com os democratas para evitar um shutdown (encerramento de algumas agências federais), a propósito do acordo sobre o aumento do teto da dívida, recuando na exigência de alguns cortes orçamentais defendidos por vários congressistas republicanos.

Gaetz anunciou logo na segunda-feira à noite que decidiu avançar com a moção para comprovar a conivência do presidente da Câmara com o Partido Democrata: “Se ele conseguir manter-se no poder, vai ficar a trabalhar para os democratas”, afirmou, segundo o Washington Post. “Este é um exercício revelador e acho que vai mostrar ao país quem manda.”

No X (antiga rede social Twitter), McCarthy reagiu de forma desafiadora, escrevendo “Venham eles”.

A votação expôs ainda mais a divisão interna dentro do Partido Republicano na câmara baixa do Congresso, que já tinha sido visível aquando da eleição de McCarthy, em janeiro. Na altura, o candidato não reuniu o apoio de muitos republicanos radicais, que recusaram apoiar o candidato do partido em várias rondas de votação. McCarthy acabaria por ser eleito apenas à 15.ª tentativa.

Não é claro como será agora o processo para encontrar um sucessor para McCarthy. O atual número dois dentro do partido naquele órgão, Steve Scalise, está doente com cancro e atualmente a submeter-se a tratamentos de quimioterapia. O atual número três, Tom Emmer, não é visto pela fação mais à direita do Partido Republicano como suficientemente apto para o cargo, aponta o New York Times, razão pela qual podem boicotar a sua nomeação. E há sempre a possibilidade de os outros representantes do partido voltarem a apresentar o nome de McCarthy para o cargo — antevendo tempos ainda mais complicados e divididos para os republicanos na câmara baixa do Congresso.