O calendário era, como sempre, ambicioso: nove dias e mais de 100 desfiles. Para trás estavam já todas as outras semanas de moda, mas uma nova estação não pode começar sem Paris dar as suas indicações, por isso, a elite da moda rumou à cidade das luzes para conhecer as propostas primavera/verão 2024 e nem uma praga de percevejos parou o espetáculo. De 25 de setembro a 3 de outubro, a semana teve uma série de momentos-chave dentro e fora das passerelles e, antes que as tendências arrefeçam, preparamos um resumo para saber o essencial em apenas alguns minutos.
Veja imagens dos desfiles e de celebridades convidadas na galeria no topo do artigo.
Comecemos então pelo espetáculo, porque afinal não há semana de moda sem a magia dos desfiles. Rick Owens apresentou a sua coleção no pátio do Palais de Tokyo. Os looks, dramáticos pela sua volumetria e pelos véus sobre os rostos, foram acompanhados por nuvens de fumo colorido, como amarelo ou rosa, e ainda disparos de pétalas de rosa. Não resistimos a mencionar também as rosas de Balmain e o vestido de unhas de Schiaparelli. No primeiro caso, Olivier Rousteing mergulhou nos arquivos da casa e transformou as flores de Mr. Balmain em esculturas tridimensionais que envolvem o corpo e em arrojados bordados.
No segundo caso, Daniel Roseberry continua a “brincar” com a herança surrealista da fundadora, Elsa Schiaparelli. Tem criado verdadeiros momentos com as suas peças tanto nos desfiles como em passadeiras vermelhas, lembremo-nos que foi ele o autor do vestido com cabeça de leão na semana de Alta Costura no passado mês de janeiro. Nesta coleção, a peça mais deu que falar terá sido um vestido desfilado por Kendall Jenner coberto por cerca de 3650 unhas postiças vermelhas, segundo a Vogue.
A passerelle montada no grande hall da Escola Nacional Superior de Belas Artes também dava o mote artístico ao desfile de Valentino. A performance da artista britânica FKA Twigs e das suas bailarinas começou por “aquecer” o público antes da coleção de Pier Paolo Piccioli se revelar e o destaque vai certamente para as peças escultóricas que combinam, graciosamente, motivos barrocos recortados sobre o corpo numa nova técnica com o nome “swirly moulure”. A coleção foi uma mensagem de liberdade feminina e o designer aproveitou para criticar uma onda de violações contra mulheres que aconteceu em Itália este verão e também a resposta dos políticos que responsabilizam as mulheres e que Piccioli considerou ser “um grande retrocesso”.
Ainda sob a batuta de uma moda com aspiração ativista, na casa Dior misturou-se a arte feminista da artista italiana Elena Bellantoni, que proporcionou o cenário do desfile, com uma caça às bruxas, mas neste caso apenas para servirem musas inspiradoras. As mulheres e a herança da casa de moda voltaram a ser o ponto de partida da coleção de Maria Grazia Chiuri.
Por falar em ativismo não podemos dar por concluído este mês de moda sem falar na PETA. Sim, a People for the Ethical Treatment of Animals, que ao invadir o desfile da Hermès, em Paris, fez uma espécie de Bingo das semanas de moda, depois de já ter interrompido o desfile da Coach em Nova Iorque, da Burberry em Londres e da Gucci em Milão. Na passerelle da marca francesa, a ativista caminhou com uma mensagem sobre a cabeça que dizia “Hermès: Deixem as peles exóticas”.
Que não faltem os clássicos e os seus twists. Há marcas que sabemos que nos vão dar o que sabemos que queremos e ainda o que não sabemos que vamos querer. É a capacidade que as grandes maisons têm de manter as suas imagens de marca com inesperadas reviravoltas a cada estação. Na Chanel, Virginie Viard inspirou-se numa villa da década de 1920 no sul de França criada pelo arquiteto Robert Mallet- Stevens para uns amigos da própria Gabrielle Chanel, villa Noailles. O resultado na passerelle traduziu-se em flores e geometria, ou seja, muitos padrões e bem coloridos, sem nunca desafiar o reinado do clássico tweed. A Louis Vuitton tomou de assalto a própria loja nos Campos Elísios e apresentou a nova coleção em modo de voo. O espaço está em obras e foi modificado para parecer o interior de um balão de ar quente.
Paris é a última paragem do mês de moda. A viagem pelas tendências de primavera/verão 2024 é longa, agitada e com entradas e saídas a meio do caminho. Foi o caso de Sarah Burton, a designer aos comandos da casa Alexander McQueen desde a morte do fundador em 2010. Ficou a saber-se em meados de setembro que a autora do vestido de noiva de Kate Middleton iria deixar a casa de moda onde trabalhou durante mais de 25 anos e o seu último desfile foi uma emotiva celebração de despedida com direito a ovação de pé e abraços. A coleção foi uma combinação de homenagens à herança McQueen, ao corpo feminino e à Rainha Isabel II. Dias mais tarde foi revelado que Seán McGirr será o sucessor.
Gabriela Hearst também teve a sua despedida da Chloé nesta semana de moda, ao fim de três anos de compromisso. E terminou com a que a própria disse ser a sua melhor coleção de sempre. “Estou obcecada com esta coleção”, cita a Vogue. A designer que tornou a Chloé sustentável, trouxe flores, feminilidade leve e uma escola de samba diretamente do Rio de Janeiro para encerrar o desfile. Despedidas à parte foram as britânicas que estiveram especialmente saudosistas. Victoria Beckham, por seu lado, refugiou-se nas suas paixões pelo campo britânico e pela dança para criar a sua coleção. Já Stella McCartney homenageou a sua família e montou um verdadeiro mercado ao ar livre e sustentável com 21 bancas no Mercado Saxe-Breteuil, que os convidados puderam explorar antes do desfile.
Já se sabe que em semana de moda também brilham as estrelas do street style, que fazem os seus próprios “hapenings” entre a porta do carro que as transporta e a entrada do desfile a que vão assistir. Houve também verdadeiros exércitos de influencers nos desfiles de Chanel, Dior e Louis Vuitton. E houve ainda Pamela Anderson que andou pelos corredores da moda sem maquilhagem. Ousadia ou o início de uma tendência? Veremos.