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ModaLisboa. A festa de Luís Carvalho, as influencers de Gonçalo Peixoto e os abraços de Dino Alves a encerrar o último dia

Este artigo tem mais de 1 ano

O primeiro celebrou uma década de marca. O segundo escolheu a dedo onde sentar quem "vende a marca". O terceiro não resistiu a abraçar caras amigas. Chegou ao fim mais uma ModaLisboa.

Inês Castel-Branco abriu e fechou o desfile de Luís Carvalho
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Inês Castel-Branco abriu e fechou o desfile de Luís Carvalho

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Inês Castel-Branco abriu e fechou o desfile de Luís Carvalho

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

26 coleções, três aniversários, dois concertos, um rebranding e muito — mas mesmo muito — calor. Neste outubro com gostinho a agosto, chega ao fim mais uma edição da ModaLisboa, desta feita com um regresso ao Pátio da Galé e aos claustros que tanto brilho viram passar entre os dias 6 e 8. Antes desta edição (com o tema À La Carte), foi no mesmo espaço junto ao Terreiro do Paço, em Lisboa, que a organização se instalou ao longo de seis anos consecutivos, até 2016.

O último dia ficou marcado por uma festa ao som de Best Youth para celebrar uma década de Luís Carvalho, mas o primeiro momento musical foi protagonizado por MimiCat no sábado, para assinalar os 25 anos da marca Carlos Gil. Também 10 anos celebrou discretamente Olga Noronha no último dia. “Costumo dizer que sou a intrusa mais bem-vinda da ModaLisboa”, comentou a criadora com o Observador na sala de imprensa, ao início da tarde.

Seguiu-se uma emotiva apresentação de Buzina, depois de um ano “atribulado e caótico”, nas palavras da própria Vera Fernandes. “Pensei muito antes de fazer esta edição. Não sabia se estaria preparada.” Mas a luzinha que a guiou a Babel, uma linha que marcou um corte com o passado, foram as clientes. “Estou aqui hoje porque elas me apoiaram, respeitaram e sempre acreditaram em mim.”

Continue a ler para conhecer os destaques do terceiro — e último — dia de desfiles na ModaLisboa À La Carte. E, já agora, aproveite também para espreitar o que se passou no streetstyle.

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Streetstyle “À La Carte” em mais uma edição da ModaLisboa

E se um vestido fosse feito de Kombucha?

O dia arrancou na Galeria Monumental, em Lisboa. Apresentar fora da passerelle é “intuitivo” para Ivan Hunga Garcia, jovem designer de 23 anos que se tem posicionado também pela forma performática como apresenta as criações, cruzando a moda e a arte. “É mesmo a forma mais pura de representar o meu trabalho”, diz Ivan no backstage. “Alexander McQueen sempre foi a minha maior referência dentro do panorama da moda”.

Na galeria de arte lisboeta, modelos envergaram peças criadas a partir de moldes que são compostos e depois semeados. O conceito, que Ivan designa como “Botanical Apparel”, e que mostrou pela primeira vez no concurso Sangue Novo em março de 2022, configura uma abordagem experimental que é um reflexo das quatro estações do ano e das suas propriedades botânicas.

O resíduo da fermentação da kombucha foi utilizado como matéria-prima para Ivan Hunga Garcia

Ugo Camera

Materiais como relva ou kombucha são impulsionadores de criatividade para criar objetos efémeros que se vestem. Falando deste segundo: foi através de uma parceria com a marca portuguesa Aquela Kombucha que Ivan Hunga Garcia trabalhou com o que fica da fermentação da bebida, submetendo esse resíduo desperdiçado a um processo de secagem ou hidratação. O resultado “é uma simulação de pele”, simplifica. Coordenados em tons rosados e pêssego mostram a versatilidade do material, e chamam a atenção da imprensa internacional, que exaltam o trabalho experimental de Ivan. “O conceito geral deste tipo de peças, não apenas desta coleção, é perceber como faço uma coleção que, se não for consumida, se auto-destrói sem criar nenhum impacto colateral”, resume.

Olga Noronha mostrou obras dignas de museu

“Costumo dizer que sou a intrusa mais bem-vinda da ModaLisboa”, comenta Olga Noronha. Assim é há 10 anos, desde que a designer brilhou no concurso Sangue Novo, “sem saber o que era uma coleção ou uma série de peças”. Na última década, tornou-se símbolo de inovação e irreverência, ultrapassando as fronteiras do rótulo de designer de joalharia de autor, graças à aproximação às artes plásticas e à escultura. Este domingo, transformou o Pátio da Galé num “Museu de Arte Contemporânea da ModaLisboa”, com peças expostas quais obras de arte, penduradas e legendadas como tal.

Inspirada no período entre a vigília e o sono, um estado hipnótico propenso a alucinações, Noronha convidou os presentes a descobrir obras que abraçam o corpo, mas que também o extravasam. “Nunca trabalhei na área da joalharia para ser portátil, para ser tecnicamente utilizável. Ninguém se pode sentar com as minhas peças, ninguém pode cumprimentar outra pessoa porque senão magoam-se, é normal. A intenção é que as peças tanto vivam no corpo como fora dele.”

As peças de Olga Noronha expostas no museu imaginado no Pátio da Galé

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

A designer despertou a atenção da Fundação Serralves que acaba de adquirir uma peça da sua assinatura para a coleção do museu no Porto, avança Noronha ao Observador. Trata-se de uma obra pertencente à coleção “Na Hora Suave”, que apresentou em outubro de 2020 na semana de moda. Na série, explora a ideia de liberdade em tempos de clausura (foi a primeira edição do certame após o início da pandemia de covid-19).

A criadora recolheu pássaros que estavam indevidamente em cativeiro e criou uma estrutura que funcionava como um ecossistema onde os animais pouco antes da performance habitavam. Depois, foram libertados e devolvidos à natureza. É uma dessas esculturas que, de acordo com Noronha, entrará para a coleção do Museu de Arte Contemporânea de Serralves. “Dá-me uma responsabilidade gigantesca e é um sonho que tinha há muitos anos. Achava que ainda não tinha maturidade artística para o atingir, mas pelos vistos parece que aos 33 anos realizei esse grande sonho”, diz. “Agora é criar outro.”

50 tons de azul, as bodas de prata de Carlos Gil e uma chuva de estrelas a encerrar o segundo dia de ModaLisboa

Vera Fernandes depois de um desfile “muito emotivo”: “Foi um ano atribulado para a Buzina, caótico.”

As lágrimas de Vera Fernandes quando pisou a passerelle, no emotivo final do desfile da Buzina, não passaram indiferentes a quem esteve pelas 16h30 no Pátio da Galé. Em plenos agradecimentos, um grupo de clientes invadiu o campo e abraçou a criadora comovida, enquanto o público aplaudia com entusiasmo. “Foi um desfile muito emotivo, para mim teve um significado diferente dos outros”, confessou ao Observador já na sala de imprensa. Ao fim de um ano “conturbado, atribulado e caótico”, esta linha surge como homenagem às suas clientes. “A Buzina passou por algumas transformações, as coisas não correram da melhor maneira. Para voltar [ao calendário da moda], tinha de lhes agradecer. Estou aqui hoje porque elas me apoiaram, respeitaram e sempre acreditaram em mim. Vieram cá hoje mostrar isso mesmo. Esse desfile foi para elas.”

Os veludos foram uma das grandes novidades nesta "mudança" da Buzina

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Antes de falarmos com a designer natural de Joane, a evidência de alguma mudança já tinha estado a desfilar. Pela primeira vez, a Buzina introduziu veludos e tules na coleção, menos colorida do que o habitual, mas com novos padrões, entre as rosas e o leopardo. “Pensei muito antes de fazer esta edição. Não sabia se estaria preparada.” Chamou-lhe Babel porque “no meio do caos, encontrei alguma inspiração e saí um bocadinho da minha zona de conforto. Trabalhei coisas que nunca tinha trabalhado”, continua. O tal caos foi impulsionado por atrasos na produção depois de apresentar na última ModaLisboa, em março, seguindo-se a primeira internacionalização, na Semana da Moda de São Paulo. “Não tive como dar resposta às pessoas. Nunca parei, nunca desisti, mas foi pesado.”

O padrão das rosas foi um dos destaques na passerelle

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

“São Paulo foi mágico, intenso e uma experiência única que quero repetir”, recorda. “Eles têm uma visão de moda um bocadinho diferente da nossa, vive-se a moda com mais intensidade. Conhecer aquela cultura, estar no meio daqueles designers todos foi muito gratificante.” Foi também esta sinergia com o Brasil que levou Fernanda Lima a procurá-la — e foi assim que a estrela brasileira acabou por ser convidada para abrir este desfile. “Já tinha muita vontade e necessidade de fazer uma coisa diferente. Muitos dos fittings desta coleção já vêm de São Paulo. Precisava mesmo de mudar.  A coleção andou meio perdida, mas depois percebi que no caos também há beleza.”

Uma emocionada Vera Fernandes agradece ao público

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Valentim Quaresma usou objetos pessoais numa linha sem título

“Quando comecei a fazer esta coleção, o meu objetivo era que quem visse as peças conseguisse fazer uma leitura própria”, conta sobre a linha sem título que desfilou este domingo na ModaLisboa. Os acessórios statement foram, desta vez, construídos e decorados com objetos pessoais, todos eles com uma história. “A minha fonte de inspiração, que já faz parte do meu processo criativo, é ir à Feira da Ladra procurar objetos de outras pessoas. Desta vez, usei coisas que fui herdando, que me deram. Tenho algumas histórias com eles, foram muitos anos a colecionar coisas.” Relógios, chaves, fotografias, rosas de metal, corações, amuletos que foi recebendo, alguns de pessoas que estima, e que agora ganham uma nova vida.

Valentim Quaresma incorporou objetos que lhe ofereceram na coleção

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

A abordagem sem imposições interpretativas estende-se ao próprio styling sem género— “houve uma altura em que foi pensado, mas agora já é orgânico”, explica — e à construção de peças sem estação. “Já não trabalho com estações. Neste momento, para fazer moda de autor, já nem faz sentido. Não quero estar a apresentar uma coleção que só vou vender daqui a seis meses. Os meus clientes chegam e querem comprar as coisas logo.“ Na roupa, preto, verde-tropa, castanho e cobre foram as cores predominantes. Sobre a confeção da coleção, conta que se sentiu “bastante confortável.”  E explica: “Já são muitos anos. É sempre um desafio quando tenho material novo, mas nesta coleção estava confortável para manipular tudo.”

A linha não tem título. "O meu objetivo era que quem visse as peças conseguisse fazer uma leitura própria”, explica o criador

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Gonçalo Peixoto: “Sou um designer comercial e isso não me chateia”

Basta olhar para a primeira fila para identificar um desfile de Gonçalo Peixoto. Os bancos corridos enchem-se de influenciadoras digitais, de iPhone em riste, vestidas com os últimos modelos do criador. “É uma marca que cresceu no Instagram. Não vou mentir. Devo-lhes uma parte da minha vida e da minha carreira”, começa por dizer ao Observador, logo após o desfile. As influencers “são as pessoas que vendem a marca”. “Por isso, o meu trabalho é fazê-las felizes”, diz com naturalidade. Isso é rendas, brocados, transparências, flores, mini-vestidos, crop tops, muito cor-de-rosa e lantejoulas em barda.

O designer de 26 anos encontrou uma fórmula de sucesso numa indústria que luta por se manter à tona. Pouco lhe importa o rótulo de “designer de influencer”: “adoro”, responde. Uma coisa é certa: quando faz scroll nas redes sociais não demora a encontrar as suas criações. “Só sou designer porque efetivamente alguém usa as minhas peças. Ter só uma manequim a desfilar não é ser designer de moda, para mim. O mais importante de uma roupa é ser usada”, comenta. “Sou um designer comercial e isso não me chateia”.

Gonçalo Peixoto motivou grande afluência à sala de desfiles no último dia de ModaLisboa

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Nascido em família ligada à confeção têxtil, desde cedo que Gonçalo Peixoto percebeu que tinha, também, de ser um empresário. Aposta numa estratégia puramente digital (o único ponto de venda físico da marca é a loja Grab Good Goods, no Chiado, em Lisboa),  e sabe reconhecer qual será o bestseller de cada coleção. “Neste caso, foram os últimos vestidos a serem feitos. Disse à equipa ‘está tudo muito bonito, mas não temos aqui o nosso ganha-pão dos próximos seis meses. Temos que arranjar’”, lembra.

Se não pensasse nas vendas, “não estava cá”, garante. “Não dá para ter uma estrutura. Como é que tenho dez pessoas diariamente dentro do escritório se não faturar? Se calhar estaríamos aqui um ou dois anos e depois iríamos embora às nossas vidas. Não, isto é um negócio, tem que dar dinheiro, sou mesmo muito pragmático nisso.” Tão pragmático que, no dia anterior ao desfile, esteve a assistir às apresentações dos colegas de profissão para perceber em que lugar a organização da ModaLisboa planeava sentar as criadoras de conteúdo. “E disse: vamos ter de trocar. As influencers não podem ficar naquele sítio porque os stories delas não vão estar bonitos. Estão numa parte curva, não apanham a roupa. Isto não é uma brincadeira para mim.”

Brilho, lantejoulas, cor-de-rosa e decotes pronunciados fazem parte do imaginário de Gonçalo Peixoto para a próxima estação quente

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Com um concerto e a musa de sempre, Luís Carvalho fez da passerelle uma festa

Cada um com as suas estrelas. Eterna musa de Luís Carvalho, Inês Castel-Branco abriu e fechou o desfile com um sorriso no rosto. Aos 10 anos de marca, o criador quis celebrar, num desfile com direito a concerto dos Best Youth, dupla composta por Catarina Salinas e Ed Rocha Gonçalves. “São amigos”, diz o designer de Vizela. “Sempre os quis ter num desfile meu e achei que era o momento certo”. A playlist composta por temas que passaram nos desfiles na última década fechou com um novo single da dupla do Porto, “Back With a Bang”, lançado esta semana.

Eterna musa de Luís Carvalho, Inês Castel-Branco abriu e fechou o desfile da coleção primavera-verão 2024

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Já na coleção, “Shelter 2.0”, Luís Carvalho propôs-se a olhar para a primeira coleção apresentada na ModaLisboa. Uma década depois, surge de novo o metalizado holográfico e a recriação do padrão desenvolvido em 2013, numa série de peças agora pensadas também para o público masculino. A paleta de cores foi atualizada em tons de azul marinho, branco, areia, cor-de-rosa, bem como o verde em materiais como o crepe, o cetim de seda e os tafetás.

“Os detalhes, as superposições, as camadas, os toques ganharam outras proporções [nesta coleção], são um bocadinho mais exagerados, mas adaptados ao que faço hoje em dia. Mas se pegássemos na coleção de há 10 anos e a metessemos aqui no meio, ela faria sentido com esta”, pondera.

Tecido holográfico, um concerto, padrões revisitados e muitos sorrisos no desfile de Luís Carvalho

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Dino Alves fechou o evento com uma homenagem à sua “claque”

Com o título DNLVS, uma sigla que tem “timidamente” vindo a introduzir, Dino Alves quer identificar um movimento, “como se fosse uma claque”, explica na sala de imprensa, minutos depois do desfile. “Adoraria que se tornasse um daqueles fenómenos, quase como as T-shirts da Levi’s”, confessa. A encerrar a ModaLisboa, o criador perdeu algum tempo a cumprimentar os amigos que viu entre o público, quando as luzes estavam apontadas para o ver agradecer. “Há dois ou três desfiles que tenho sentido esse impulso. Há sempre uma timidez quando subimos a um palco ou vamos agradecer. Podemos até ter intenções e não conseguirmos cumpri-las quando chegamos lá.” Desta vez, não teve medo de ocupar o seu espaço — e quer que as coisas assim se mantenham. “Fazer moda neste país não é fácil. O carinho do público é o pagamento imediato do nosso esforço. Aconteceu isto e percebi que podia ser uma espécie de assinatura do desfile, ficar com as pessoas e não ir a correr lá para dentro.”

A linha de Dino Alves foi uma homenagem aos operantes do atelier

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Há exatamente uma semana, estava a pisar o palco do Coliseu dos Recreios para agradecer o Globo de Ouro que distinguiu o melhor que se faz na moda. “Faço moda porque sinto que tenho coisas a dizer”, referiu, ao recordar esse momento. Nesta linha, recriou o ambiente do atelier para homenagear os operantes. Fez uma viagem aos ateliers do passado — “sempre virado para o futuro” — e foi por isso que usou o bastidor em algumas peças. Entre os elementos, destaque para os moldes desenhados nas peças, pespontos ampliados e cortes a laser em forma de círculos, que representam a equipa, várias pessoas que criam um ecossistema.

Os "moldes" desta vez protagonizaram nas próprias peças

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

O apoio da Betclic  “é importante”, refere. Vem na sequência de um convite para um projeto da empresa do qual será diretor-criativo, mas não pode avançar mais detalhes. “Ainda está a ser cozinhado”, mas inclui apoios à cultura, à música e, de alguma forma, também ao desporto. “É sempre bom, porque quando fazemos o bem sentimo-nos mais felizes e realizados. Não devemos vir a esta vida a passeio.”

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