“Uma empresa não existe no abstrato e não podemos adotar princípios axiomáticos sobre as empresas”, afirmou o ministro das Infraestruturas quando confrontado com a evolução dos governos socialistas sobre a privatização da TAP.
Em audição na comissão de economia e obras públicas do Parlamento, João Galamba respondia ao PCP sobre a intenção de vender a maioria do capital da TAP (admitindo até alienar a totalidade), quando no passado os socialistas foram contra a venda do controlo a privados. Quando o anterior governo socialista promoveu a recompra de 50% do capital em 2016 e quando injetou 3,2 mil milhões de euros, ficando com 100% do capital, os objetivos eram os mesmos: “Salvar a TAP e defender o interesse estratégico.”
“Isso não significa mudar de posição, significa reconhecer as circunstâncias” e a TAP “não pode ficar indiferente às tendências do setor” que, segundo o ministro, penalizam um acionista como o Estado e que traria à empresa dificuldades num mercado concorrencial. “Não podemos decretar que a realidade não existe”, atirou ao deputado Bruno Dias. Ou “ignorar a realidade e o contexto em que a TAP opera e achar que, por princípio absolutamente dogmático, deve manter-se pública”.
“Sim, o Governo (socialista) entendeu que a privatização de 2015 (feita pelo PSD/CDS) lesava o país e empenhou-se em corrigir. E agora entende que o melhor para a TAP é ser privatizada”.
Estas declarações são feitas uma semana depois do antecessor de Galamba na pasta e o responsável pela intervenção pública de 2020, Pedro Nuno Santos, ter defendido que era contra a venda da maioria do capital da TAP, ao contrário do que foi já aprovado pelo Governo.
Pedro Nuno Santos promete não ser oposição, mas está contra venda da maioria do capital da TAP
Já esta quarta-feira no debate parlamentar António Costa fez um mea culpa, corrigindo declarações feitas no passado recente que atribuíam a decisão de privatizar a companhia aérea a uma imposição da Comissão Europeia inscrita no plano de reestruturação.
Debate. Costa tocou na ferida do PSD, mas ficou com mazelas na TAP e na Saúde
A propósito destas nuances, a deputada do Bloco, Isabel Silva, compara a posição do Governo à de um catavento.
O deputado do PSD, Paulo Rios de Oliveira, considerou que a TAP “é um laboratório de experimentalismo do Governo socialista”. E acusou o plano de reestruturação de ter feito imensas vítimas entre os trabalhadores da TAP e os portugueses: “E o nosso dinheiro? Vão reembolsar?”
Na resposta, o ministro retoma a estratégia de resposta do seu antecessor aos ataques do PSD. “Vítimas tinham sido se tivéssemos deixado falir a companhia aérea. Continuamos sem saber o que raio faria o PSD naquela situação”.
Numa audição que os comunistas impuseram de forma potestativa — superando o voto contra do PS — e em que muitos dos intervenientes são os mesmos da comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, Galamba defendeu ainda que em 2020, “mesmo que a TAP fosse 100% privada, teria na mesma de ser resgatada pelo Estado porque os privados não tinham dinheiro para capitalizar a empresa”. A intervenção feita durante a pandemia teve como objetivo salvar a companhia e não foi feita com o intuito de assumir a totalidade do capital, acrescentou.