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Os primeiros 20 camiões que transportam ajuda humanitária atravessaram este sábado de manhã o terminal de Rafah (Egito) a caminho do enclave palestiniano de Gaza, controlado pelo Hamas. Foram recebidos pelo Crescente Vermelho Palestiniano com o apoio da ONU, descarregados nos armazéns da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), onde a ajuda humanitária vai ficar armazenada até ser depois distribuída com base numa lista entregue pela Cruz Vermelha egípcia. Mas à porta da Faixa de Gaza ficaram mais de 200 camiões com cerca de 3 mil toneladas de ajuda, já que os esforços diplomáticos dos últimos dias só conseguiram desbloquear a entrada de 20 carregamentos que só podem ser distribuídos na região sul e que levam “uma gota de água” para o que é preciso.

Quem o diz são os grupos humanitários no terreno, numa altura em que ainda não é certo o que foi distribuído afinal. Segundo avançou uma fonte da à EFE, citada pela Lusa, este primeiro apoio destina-se apenas a hospitais.  Há, no entanto, vários meios de comunicação social que indicam que os camiões levavam 60 toneladas de comida, com latas de atum, farinha, massa, feijão e outros alimentos, 44.000 garrafas de água fornecidas pela UNICEF (o que a própria instituição afirma em comunicado), medicamentos, material médico, cobertores e colchões.

À EFE, a mesma fonte da UNRWA descartou a presença de água nos camiões. E Khaled Said, o presidente do Crescente Vermelho do Sinai do Norte, no Egito, sublinhou que os fornecimentos entregues ao lado palestiniano de Rafah são “apenas ajuda médica”. Também o diretor geral da Organização Mundial de Saúde corroborou a entrega de medicamentos e material médico numa publicação na rede social X.

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Egipto permite entrada de “até 20 camiões” de ajuda humanitária em Gaza

Uma coisa é certa quanto ao conteúdo da ajuda que entrou em Gaza este sábado, o combustível não faz parte de nenhuma das listas dos carregamentos entregues. O porta-voz militar israelita, Daniel Hagari, avançou que a entrega de combustível não é permitida para evitar que possa ser utilizado pelo grupo islamita Hamas para disparar foguetes contra o território israelita.

Os camiões que entraram de manhã (ver vídeo abaixo) já distribuíram a carga, de acordo o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, que, citado pelo New York Times, confirmou que já tinha sido entregue ao Crescente Vermelho para distribuição. Entretanto a CNN Internacional também já tinha dado conta do regresso dos camiões ao Egito, através da fronteira de Rafah onde ainda aguardam mais de 200 camiões com as tais cerca de 3 mil toneladas de ajuda.

Camiões que já entraram não são suficientes

Apesar de saudarem a entrada da ajuda inicial, os grupos humanitários advertem que 20 camiões não são suficientes para os cerca de 2,3 milhões de habitantes do enclave. O secretário-geral da ONU quer um compromisso para a entrada de mais ajuda e fez esse apelo através do X (antigo Twitter), escrevendo que “o povo de Gaza precisa de um compromisso para muito mais — uma contínua entrega de ajuda na escala em que é necessária“. António Guterres garante ainda que a ONU está a a trabalhar com todas as partes para que isso possa acontecer.

À Al Jazeera, a diretora executiva do Programa Alimentar Mundial, já tinha dito que se tem “de fazer chegar mais camiões” à população que está isolada deste os ataques do Hamas no dia 7 de outubro, a que Israel respondeu com o bloqueio da Faixa de Gaza. “A situação em Gaza é terrível. Não só não há alimentos, como também não há água, eletricidade ou combustível. E essa combinação não só é catastrófica como também pode levar a mais fome e doenças”, disse ainda  Cindy McCain.

Mark Owen Jones, professor na Universidade Hamad Bin Khalifa de Doha, no Qatar, afirmou que o número não é suficiente e que é “uma gota no oceano”. “Cerca de 100 mil toneladas de ajuda são suficientes para sustentar meio milhão de pessoas durante uma semana. Se considerarmos que há dois milhões de pessoas [em Gaza] e que apenas uma parte dessa ajuda está a passar, o que é que isso vai fazer?”, questionou.

“A ajuda que está a chegar é adicional ao facto de os stocks e fornecimentos existentes em Gaza já terem sido esgotados. Na verdade, é uma gota no oceano do que é necessário“, acrescentou também em declarações registadas pela Al Jazeera.

A UNICEF adiantou ainda outra contabilização relevante. No comunicado onde afirmou ter enviado 44 mil garrafas de água neste primeiro carregamento, acrescenta que elas são “apenas suficientes” para 22 mil pessoas por dia. Neste momento, a capacidade de produção de água na Faixa de Gaza está nos 5% dos níveis normais e os 2,3 milhões de residentes na Faixa de Gaza estão a sobreviver com apenas três litros de água por pessoa por dia, explicou citada pelo New York Times.

Mais ajuda humanitária à espera para entrar

A agência de saúde da ONU diz que ainda tem mais 930 toneladas de alimentos no lado egípcio da passagem e tem como objetivo ajudar 1,1 milhões de pessoas nos próximos dois meses. E a expectativa das Nações Unidas é que estes possam chegar à Faixa de Gaza na próxima segunda-feira. 

Guterres na passagem do Egipto para Gaza: “É impossível estar aqui e não ficar com o coração partido”

Também a OMS afirmou ter quatro camiões com “ajuda vital para Gaza”, a caminho da passagem de Rafah. Numa publicação na rede social X, a OMS detalha o material que quer fazer chegar a Gaza: material de trauma para 1200 pessoas, malas de trauma portáteis para estabilização no local para 235 pessoas, medicamentos para doenças crónicas para 1500 pessoas e material essencial de saúde para 300 mil pessoas para três meses.

Os primeiros 20 camiões que este sábado passaram o terminal de Rafah foram acordados pelo Presidente dos Estados Unidos e pelo Presidente do Egito. Na quarta-feira, Joe Biden adiantou que o seu homólogo Abdel Fattah al-Sissi concordou em “deixar até 20 camiões atravessarem” a fronteira. Joe Biden fez o anúncio após uma conversa telefónica com Al-Sissi e garantiu que o egípcio está “totalmente cooperativo” e que “merece muito reconhecimento” pela sua ação.