O cardeal Américo Aguiar garantiu esta quinta-feira que a sua primeira prioridade como bispo de Setúbal será a de trabalhar para que ninguém “se sinta para trás” na diocese, em cuja população reconheceu que existem vários problemas sociais e de pobreza.

Num breve discurso improvisado durante a cerimónia de tomada de posse, na catedral de Setúbal, Américo Aguiar sublinhou que vivem “perto de 900 mil pessoas” no território abrangido pela diocese e assegurou que quer trabalhar em prol de cada uma delas. “Não podemos permitir que um que seja se sinta abandonado, se sinta para trás”, afirmou, sustentando que terá como preocupação “libertar” os diocesanos de “quaisquer amarras” que impeçam a dignidade humana.

Américo Aguiar pediu também a todos que tenham “a coragem de sonhar”, evocando as palavras do Papa Francisco durante a JMJ de Lisboa, em agosto deste ano. É preciso, disse o cardeal, sonhar, lutar pelos sonhos “e colocar poesia nisto”.

Garantindo que, apesar do seu currículo político (foi deputado municipal em Matosinhos, durante a juventude), não pretende ser presidente de câmara ou deputado, Américo Aguiar disse que como bispo está em Setúbal para “fazer o mesmo”, ou seja, para lutar pelo bem comum. Perante as autoridades civis, incluindo vários autarcas e representantes de forças de segurança e outras entidades, o novo bispo de Setúbal frisou que vai “bater à porta” das autoridades para pedir ajuda no seu trabalho pelas pessoas da diocese.

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Américo Aguiar nomeado bispo de Setúbal. Ao fim de quase dois anos sem bispo, diocese ganha um cardeal

Américo Aguiar, que tomou posse de uma diocese que esteve quase dois anos sem bispo, disse também que não pretendia “prometer absolutamente nada”, admitindo que ainda precisa de conhecer o território que o Papa Francisco lhe atribuiu. Mas garantiu: vai começar a fazê-lo já “amanhã às nove da manhã”.

“Isto vai ser olhos nos olhos, coração a coração. Não vai ser com papéis ou com decretos”, frisou, pedindo a todos os diocesanos de Setúbal que o ajudem “a identificar os sonhos de Deus para este povo de Setúbal”. “Que ninguém se sinta dispensado”, destacou.

Durante o seu discurso, Américo Aguiar recordou o primeiro bispo de Setúbal, Manuel Martins, que também era natural de Leça do Balio — e que o ainda seminarista Aguiar conheceu bem. O novo bispo agradeceu também aos padres da diocese de Setúbal, que aguentaram a diocese durante quase dois anos sem bispo, desde que, no início de 2022, o bispo José Ornelas foi nomeado bispo de Leiria-Fátima.

O cardeal aproveitou também para deixar um rasgado elogio aos padres portugueses, que classificou como “heróis nacionais” e “benfeitores da humanidade”, dizendo que “a esmagadora maioria dos sacerdotes merece a nossa homenagem”.

Trabalho de Américo Aguiar na JMJ é “motivo de uma jubilosa esperança”

Antes da intervenção de Américo Aguiar, das assinaturas protocolares e de algumas intervenções musicais e poéticas, foi o padre José Lobato, de 78 anos, que ao longo dos últimos dois anos liderou interinamente a diocese de Setúbal, quem fez uma intervenção de boas-vindas ao novo bispo.

Nessa intervenção, José Lobato recordou o primeiro bispo de Setúbal, Manuel Martins, bem como os seus sucessores, Gilberto Reis e José Ornelas, e destacou que Américo Aguiar “é diferente dos antecessores” e traz “uma riqueza para a Igreja”. Sublinhando a “alegria e a esperança” dos diocesanos de Setúbal com a chegada de um novo bispo, há muito aguardado, o padre José Lobato elogiou o trabalho de Américo Aguiar na organização da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa.

“Os dons que manifestou neste acontecimento são para nós, em especial para os muitos jovens desta diocese, motivo de uma jubilosa esperança”, disse o padre José Lobato, que evocou o lema da JMJ — “Maria levantou-se e partiu apressadamente” — para dizer que também a diocese tem “pressa” de conhecer o seu novo bispo.

Dizendo que Américo Aguiar é “ágil no seu falar e no seu caminhar”, José Lobato destacou: “Também nós estamos com pressa (…) de o conhecer, de lhe falar de nós, de o escutar, de percorrer ágeis consigo os caminhos do presente e do futuro desta igreja de Setúbal.”

O cardeal Américo Aguiar tomou esta quinta-feira posse como bispo de Setúbal numa celebração na sé daquela cidade, ao fim de mais de quatro como bispo auxiliar de Lisboa. Na quarta-feira, Américo Aguiar tinha participado, na sé de Lisboa, numa celebração em que o patriarca de Lisboa, Rui Valério, classificou Aguiar como o “rosto eclesial” da Jornada Mundial da Juventude e garantiu que o cardeal ficará “ligado, para sempre, a um dos momentos históricos mais marcantes vividos pelo patriarcado”.

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Nascido em Leça do Balio em 1973, Américo Aguiar foi ordenado padre na diocese do Porto em 2001 e, durante quase duas décadas, foi um dos principais responsáveis daquela diocese. Chefe de gabinete de sucessivos bispos, foi também o responsável pelo gabinete de comunicação e teve um percurso eclesiástico marcado pela proximidade ao universo comunicativo. Nos últimos anos foi o presidente do Grupo Renascença Multimédia.

Em 2019, foi nomeado bispo auxiliar de Lisboa, para trabalhar de modo próximo com o cardeal Manuel Clemente, de quem tinha sido chefe de gabinete nos tempos do Porto.

Em Lisboa, Américo Aguiar assumiu desde o princípio a liderança da Fundação JMJ, a entidade criada pelo patriarcado de Lisboa para organizar a Jornada Mundial da Juventude de 2023. Durante os últimos quatro anos, foi o principal rosto da Igreja Católica em Portugal na organização do evento que trouxe o Papa Francisco e cerca de 1,5 milhões de jovens a Portugal em agosto deste ano. Nesse cargo, acabaria por tornar-se no mais mediático dos bispos portugueses.

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Em julho deste ano, poucas semanas antes do arranque da JMJ, Américo Aguiar foi nomeado cardeal pelo Papa Francisco, o que levantou várias dúvidas sobre o seu futuro, já que dificilmente se manteria como bispo auxiliar de Lisboa na qualidade de cardeal. Já depois da JMJ, o Vaticano anunciou a nomeação de Américo Aguiar como bispo de Setúbal.