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O secretário-geral das Nações Unidas expressou, esta segunda-feira, a sua preocupação com a situação humanitária em Gaza. Esta tarde, num briefing na sede da ONU, em Nova Iorque, António Guterres chamou a atenção para a devastação causada por Israel e pelo Hamas, bem como pelos milhares de civis mortos ao longo do último mês.

“Estou profundamente preocupado com as claras violações do direito internacional a que estamos a assistir”, disse o responsável, deixando claro que responsabiliza ambas as partes pela situação. “Deixem-me ser claro: nenhum lado de um conflito armado está acima do direito humanitário”.

Em particular, Guterres chamou a atenção para as crianças mortas desde 7 de outubro, dizendo que Gaza se está a transformar num “cemitério de crianças”, bem como para o enorme número de jornalistas que perderam a vida. “Mais jornalistas terão sido mortos nas últimas quatro semanas do que em qualquer conflito nas últimas três décadas, pelo menos”, lamentou.

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Número de mortos em Gaza perto dos 10 mil desde o início da guerra

Descrevendo o “pesadelo” em Gaza como “uma crise da humanidade”, onde “ninguém está seguro”, Guterres manifestou a sua solidariedade para com a população civil a viver sob os bombardeamentos. “Penso nos civis em Gaza, a maioria crianças e mulheres, aterrorizados pelos bombardeamentos”. Neste sentido, fez questão de salientar o quão extrema é a situação atual, bem como o seu impacto no plano internacional.

A intensificação do conflito está a abalar o mundo, a região e, o que é mais trágico, a destruir tantas vidas inocentes. As operações terrestres das Forças de Defesa de Israel e os bombardeamentos contínuos estão a atingir civis, hospitais, campos de refugiados, mesquitas, igrejas e instalações da ONU – incluindo abrigos. Ninguém está seguro”, disse.

Guterres apontou ainda que o grupo islamita Hamas e outros militantes continuam a utilizar civis como escudos humanos e a lançar foguetes indiscriminadamente contra Israel. “Nada pode justificar a tortura, morte, ferimentos e rapto deliberados de civis. A proteção dos civis deve ser primordial”, frisou.

O ex-primeiro-ministro português salientou que a catástrofe que se desenrola torna a necessidade de um cessar-fogo humanitário “mais urgente a cada hora que passa”. De acordo o líder da ONU, quer as partes em conflito, quer a comunidade internacional, têm a responsabilidade imediata e fundamental de pôr fim a este “sofrimento coletivo desumano” e “expandir dramaticamente a ajuda humanitária a Gaza”.

O caminho a seguir é claro: um cessar-fogo humanitário. Agora. Todas as partes respeitando todas as suas obrigações sob o direito humanitário internacional. Agora. A libertação incondicional dos reféns em Gaza. Agora. A proteção de civis, hospitais, instalações da ONU, abrigos e escolas. Agora”, afirmou.

“Mais alimentos, mais água, mais medicamentos e, claro, combustível (…) agora. Acesso irrestrito para entregar suprimentos a todas as pessoas necessitadas em Gaza. Agora. E o fim do uso de civis como escudos humanos. Agora. Nenhum destes apelos deve estar condicionado aos outros. E para tudo isto, precisamos de mais financiamento — agora”, insistiu.

Cemitério de Viena incendiado e vandalizado com suásticas em ataque antissemita

Paralelamente, o chefe da ONU disse estar profundamente preocupado com o aumento do antissemitismo e da intolerância anti-muçulmana ao redor do mundo, apelando a que a retórica de ódio e as ações provocativas cessem.

Também a possibilidade de o conflito se espalhar por toda a região foi abordada pelo secretário-geral, indicando que já se está a assistir a uma espiral de escalada desde o Líbano e a Síria, até ao Iraque e ao Iémen. “Essa escalada deve parar”, instou.

Guterres concluiu o seu pronunciamento defendendo uma solução de dois Estados, “com israelitas e palestinianos a viverem em paz e segurança”.

Diplomacia israelita diz que Guterres deveria ter vergonha do seu discurso

Pouco depois das declarações do líder da ONU, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Eli Cohen, usou as redes sociais para voltar a atacar o antigo primeiro-ministro português. “Que vergonha, António Guterres! Mais de 30 menores — incluindo um bebé de nove meses, bem como crianças que testemunharam o assassinato, a sangue frio, dos seus pais -, estão detidos contra a sua vontade na Faixa de Gaza”, afirmou Cohen, através de uma publicação na rede social X (antigo Twitter). O governante vincou que o Hamas “é o problema em Gaza” e não as ações de Israel para “eliminar esta organização terrorista”.

Também o embaixador israelita na ONU, Gilad Erdan, voltou a defender que Guterres não reúne condições para manter-se como secretário-geral da organização. “Passaram mais de 30 dias desde que crianças do Sul de Israel foram intencionalmente abatidas pelos terroristas do Hamas, mas tu não disseste nada sobre o ‘cemitério de crianças’ que o Sul de Israel se tornou”, criticou.

*Notícia atualizada às 21h55 com as reações da diplomacia de Telavive