O poeta e ensaísta Manuel Gusmão, 77 anos, morreu, esta quinta-feira, em Lisboa, disse à agência Lusa o editor Francisco Melo, das Edições Avante.

Nascido em Évora, no dia 11 de dezembro de 1945, Manuel Gusmão licenciou-se em Filologia Românica, em 1970, pela Universidade de Lisboa. Estreou-se como poeta em 1990, com a publicação de “Dois Sóis, A Rosa — À Arquitetura do Mundo”.

Manuel Gusmão foi politicamente ativo desde os tempos universitários, tendo sido membro do Comité Central do Partido Comunista Português, deputado à Assembleia Constituinte (1975/1976), membro do Conselho da Comunicação Social e, em 2004, mandatário ao Parlamento Europeu.

Dirigiu a revista a revista Caderno Vermelho, do Setor Intelectual da Organização Regional de Lisboa do PCP, desde o primeiro número, em 1996.

Ao longo da sua carreira recebeu o Prémio do P.E.N. Clube Português para Melhor Obra de Poesia, em 1997, com “Mapas, o Assombro e Sombra”, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava relativos a 2001, com “Teatros do Tempo”, entre outras distinções.

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Em 2011 foi-lhe atribuído o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, por “Tatuagem e Palimpsesto: da Poesia em Alguns Poetas e Poemas” e, em 2014, o Prémio de Poesia António Gedeão, pelo “Pequeno Tratado das Figuras”.

Oito anos depois foi distinguido com a Medalha de Mérito Cultural como reconhecimento do Governo português pelo “inestimável trabalho de uma vida dedicada à produção literária e à poesia, difundindo amplamente, em Portugal e no estrangeiro, a Língua e a Cultura portuguesas, ao longo de mais de cinquenta anos”.

Durante o seu percurso académico, Manuel Gusmão deu cursos, conferências ou ciclos de conferências, sobre cultura, literatura portuguesa ou literatura francesa nas Universidades de Colónia, Lovaina, Bolonha, Paris III, Veneza, Autónoma de Barcelona e, no Rio de Janeiro, na Universidade Federal e na Pontífica Universidade Católica.

É autor do libreto da ópera “Os Dias Levantados”, de António Pinho Vargas, estreada em 1998, no contexto dos 25 anos da Revolução de Abril.

“Um ícone de integridade e ética”

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, lamentou a morte de Manuel Gusmão, que adjetivou como “um dos nomes maiores das letras portuguesas contemporâneas”. “Gusmão foi ao mesmo tempo um extraordinário poeta e um ensaísta brilhante, que nos deixa chaves de leitura indispensáveis para a compreensão da poesia portuguesa do século XX – de Pessoa a Herberto Helder, passando por Ruy Belo, Fiama ou Carlos de Oliveira”, realçou.

Pedro Adão e Silva apontou ainda que Manuel Gusmão foi também “um professor invulgar, com uma obra decisiva no domínio da teoria literária e uma reflexão acutilante sobre o que significa pôr os estudantes a pensar sobre aquilo que leem”.

Igualmente através das redes sociais, o ator, encenador e escritor André e. Teodósio recordou Manuel Gusmão como “ícone de integridade e ética”. “Manuel Gusmão, um intelectual incrível, uma pessoa boa, um ícone de integridade e ética”, escreveu André e. Teodósio, das companhias Teatro Praga e Cão Solteiro, na sua conta oficial na rede X, ex-Twitter.

A Fundação José Saramago e a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) da Câmara de Lisboa também utilizaram as redes sociais para lamentar a morte do ensaísta.

A EGEAC lembrou “o poeta e ensaísta com reconhecida obra sobre diferentes autores, nomeadamente Fernando Pessoa”, e a Fundação José Saramago manifestou tristeza, “recordando a sua vida e obra”.