O Hospital de São João, o segundo maior do país, já recebeu quase 180 minutas de indisponibilidade de médicos para realizarem mais do que as 150 horas extra previstas por lei, o que obrigou esta unidade hospitalar a “desacelerar” as cirurgias programadas, avança ao Observador o próprio hospital.
Até ao momento, o Hospital de São João garante que os 179 pedidos de escusa a mais horas extra que recebeu (maioritariamente das especialidades de Anestesiologia, Cirurgia Geral e Medicina Interna) não colocaram em causa o funcionamento de nenhum serviço nem diminuíram “a capacidade de resposta à população”.
No entanto, o São João, que é o hospital de referência na zona norte, admite que “os constrangimentos dos serviços de urgência de outros hospitais da região norte do país têm tido impacto” naquele centro hospitalar, nomeadamente no que diz respeito às cirurgias programadas. Perante a pressão provocada pelos encaminhamentos de doentes vindos de outros hospitais, e que precisam de intervenções cirúrgicas urgentes, o São João já se viu obrigado, ainda que “pontualmente”, a “desacelerar” a atividade cirúrgica programada para dar prioridade aos doentes urgentes.
Administração do São João preocupada com indisponibilidade de dezenas de médicos
Por causa da recusa de centenas de cirurgiões da zona norte em realizarem mais horas extra, o São João viu o número de doentes transferidos para a sua urgência cirúrgica mais do que duplicar só no mês de outubro, quando chegaram mais 128% de doentes de fora da área de influência do hospital, em relação ao mês de setembro.
Em causa estiveram doentes vindos dos hospitais de Viana do Castelo, Braga, Barcelos, Famalicão, Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Tâmega e Sousa e de Matosinhos, todos a braços com limitações ou mesmo encerramentos dos serviços de urgência cirúrgica.
Ao longos dos últimos meses, médicos de várias especialidades em todo o país têm apresentado pedidos de escusa à realização de horas extraordinárias além das 150 estabelecidas por lei, num protesto que começou no Hospital de Viana do Castelo e foi ganhando uma dimensão cada vez maior. A recusa dos profissionais de saúde, que estão em processo negocial com o governo para a revisão das condições de trabalho e salariais, têm provocado constrangimentos no funcionamento do serviço.
Novembro será o “pior mês” na história do SNS? Sem acordo, médicos antecipam “catástrofe”
A situação escalou até um ponto em que, no final de outubro, o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, admitiu que novembro seria o “pior mês” na história do serviço público de saúde desde que foi criado, há quase 50 anos.