Victor Vidal é o vencedor do Prémio LeYa 2023, galardão que distingue anualmente um romance inédito de língua portuguesa, com o livro Não há Pássaros Aqui, anunciou esta terça-feira o júri.

Vidal, escritor brasileiro de 32 anos, sucede assim ao escritor e matemático (também brasileiro) Celso José da Costa, distinguido na edição do ano passado com o seu romance de estreia, A Arte de Driblar Livros.

Na justificação do prémio, o júri destaca “a coerência entre a escrita correntia tão adequada à inserção de uma história invulgar de grande violência e de segredos escondidos na aparente banalidade do quotidiano” presentes na obra. Por outro lado, acrescenta, está patente “o acerto da análise psicológica, tanto no resgate da memória da infância, quanto perante os acontecimentos mais brutais das relações familiares”.

Formado em História da Arte, com especialização em arte japonesa, Victor Vidal assina o seu primeiro livro com Não há Pássaros Aqui. Numa curta declaração aquando do anúncio do prémio, Manuel Alegre confirmou que teve oportunidade de informar o autor acerca da distinção, numa curta conversa telefónica em que este se mostrou “muito surpreendido e emocionado”.

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“Tudo parece um sonho, estou muito honrado”

Ao Observador, Victor Vidal contou que soube que tinha vencido o Prémio LeYa “cerca de 20 minutos antes” do anúncio oficial, e confessou ainda estar a tentar processar a notícia. “Estou ainda sem acreditar nas palavras tão generosas com as quais o meu livro foi descrito, tudo parece um sonho. (…) Ainda não parece real, estou muito, muito honrado”, disse.

Ainda que Não há Pássaros Aqui seja o seu primeiro romance, Victor Vidal sublinhou que a escrita é algo que o tem acompanhado “a vida inteira”. A obra agora premiada é, por isso, resultado de um período longo de criação e maturação. “Agora foi quando tomei coragem de mostrar o meu trabalho, agora que considero que o meu texto está maduro e bom o suficiente para mostrar”.

A história de desenrola-se em torno “uma personagem por volta dos 30 anos, que recebe um telefonema informando sobre o desaparecimento da sua mãe”, com quem está há vários anos de relações cortadas.

“Aí ela precisa retornar à sua casa de infância para tentar compreender o que aconteceu… O livro vai e volta no tempo, mostrando como era a infância dela, qual a relação que tinha com a mãe”, revelou. Vidal admitiu também que, ainda que a ação não decorra num local específico, tinha a cidade natal, o Rio de Janeiro, presente enquanto escrevia.

O também historiador de arte brasileiro confessou que ainda não foi capaz de estabelecer planos para o futuro. No entanto, uma vez que consiga superar o choque novidade, Victor Vidal disse esperar que o Prémio LeYa lhe abra novos caminhos e que permita expandir os existentes.

“Quero poder conversar bastante com as pessoas sobre a história, sobre o livro, e espero que o prémio me dê oportunidade de continuar escrevendo, de continuar falando sobre escrita e conversando sobre literatura”, disse, acrescentando que uma eventual vinda a Portugal pode estar em cima da mesa. “Espero conseguir fazer essa viagem”.

Gabriela Ruivo: “Entre a vida e a literatura, qual é que imita qual? Não sei a resposta”

Criado em 2008, o Prémio LeYa distingue anualmente obras inéditas escritas em língua portuguesa no género do romance, abrangendo todo o mundo lusófono. Desde 2008, premiou autores como Murilo Carvalho, João Paulo Borges Coelho, Gabriela Ruivo Trindade, Afonso Reis Cabral, Itamar Vieira Júnior e Celso José da Costa, entre outros. O número de obras a concurso a este ano foi um recorde na história do prémio: 907 candidaturas vindas de 14 países, de Portugal aos países da CPLP, também com submissões vindas das comunidades em países como EUA, França ou Alemanha. Em 2023, o valor monetário associado ao prémio é de 50 mil euros.

O painel de jurados para a edição deste ano contou com o poeta e histórico socialista Manuel Alegre, o também poeta e ensaísta Nuno Júdice, o ex-Reitor da Universidade de Maputo Lourenço do Rosário, a jornalista e crítica literária Isabel Lucas, a também jornalista e historiadora brasileira Josélia Aguiar (que integrou o júri este ano), o professor universitário José Carlos Seabra Pereira e a poeta e historiadora Ana Paula Tavares.