Michael Phelps foi ao fundo da piscina e aproveitou a proximidade com o solo para ganhar um novo impulso e voltar a subir. A água nunca causou grande atrito no nadador que deslizava como poucos, o que não significa necessariamente que tenha fugido às flutuações do seu bem-estar. O caminho para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, os últimos do norte-americano, foi árduo. As seis medalhas que ganhou em 2016, no Brasil, das quais cinco de ouro, não mostram as dificuldades que o atleta sentiu para as alcançar.

Depois dos Jogos Olímpicos de Londres, Phelps colocou uma vírgula na carreira. O percurso como nadador acabaria por ser retomado, mas o que se passou em 2012, após deixar temporariamente a natação, mostrou que um dos desportistas mais reconhecidos de sempre também cede. “Serei lembrado, no meu pós-carreira, pelas medalhas, que são incríveis, mas não são o que eu sou. Quero ajudar pessoas que estão a passar por momentos difíceis. Quero salvar vidas. Também pensei em suicídio e quero ajudar essas pessoas. Há luz no fim do túnel. Falar sobre esses assuntos salvou a minha vida”, disse o norte-americano no World Business Forum, evento que se está a realizar em Madrid.

Michael Phelps preocupado com saúde mental dos desportistas

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O antigo nadador sabe do que fala. Em Londres, a pressão de vencer levou a que se sentisse mal por ter conquistado apenas quatro medalhas de ouro (e duas de prata). “Quando não alcancei o meu objetivo em 2012 tive a pior sensação possível. Perdi uma hipótese. Mas talvez se tivesse vencido em Londres não teria nadado no Rio. Usei esse resultado como motivação para ganhar mais medalhas. Depois de me ter retirado pela primeira vez, fiquei um ano e meio sem competir, mas quando voltei, aos 31 anos, estava com mais fome do que nunca. Em 2016, senti-me como um rapaz de 15 anos. Consegui preparar-me bem para o final da minha carreira. Depois da minha primeira reforma odiei o desporto. Depois, na segunda, fiz o que queria, que era retirar-me em grande”.

Michael Phelps revela o momento mais negro da sua vida

Os problemas de saúde mental de Michael Phelps começaram em 2004 quando treinava com atletas oito anos mais velhos. A bala de Baltimore considera que a natação “é um desporto solitário” em que “não se pode falar com ninguém, nem ouvir música” e que, por isso, começou a sentir os primeiros problemas de saúde mental. Depois de duas depressões, o norte-americano assume que hoje em dia está “confortável”, mas continua consciente de “que há muitas pessoas que têm problemas de saúde mental” e nota: “Uma em cada quatro pessoas tem um problema de saúde mental e não falam sobre isso. Se todos falássemos sobre isso, a situação ficaria normalizada. Com a pandemia, tudo evoluiu. Se alguém se sente sozinho, como aconteceu na pandemia, é bom que partilhe as suas emoções. Ao partilharmos o que acontece connosco e os nossos sentimentos, podemos ajudar-nos muito uns aos outros. Nada é perfeito na vida, mas ajuda se nos abrirmos”.

Michael Phelps terminou a carreira com 28 medalhas em Jogos Olímpicos, sendo que 23 são de ouro. “No mundo do desporto, muita gente duvidava de tudo, dos meus objetivos. Na realidade, era algo que era viável. As pessoas pensavam que ganhar uma medalha de ouro era impossível e eu ganhei 28. Quero ensinar às crianças que não importa o que se persegue, é sempre possível alcançá-lo”. O antigo nadador arrecadou também 33 pódios em Mundiais. Ainda que alguns dos seus recordes estejam a ser progressivamente batidos, o norte-americano continua a ser considerado um dos melhores atletas de sempre.

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