A escritora britânica AS Byatt, vencedora do Prémio Booker em 1990 com o romance “Possessão, uma história de amor”, morreu na quinta-feira, em Londres, aos 87 anos, informou, esta sexta-feira, a sua editora, Chatto & Windus, do grupo Penguin Random House.
“O seu modo de escrever compulsivamente, com um caderno sempre à mão, e a sua capacidade de criar enredos complexos eram notáveis”, disse a editora Clara Farmer, citada no comunicado do grupo britânico sobre a morte da escritora.
Lamentamos a sua morte, mas é reconfortante saber que a acutilância das suas obras irá marcar leitores das próximas gerações”, prosseguiu Clara Farmer, acrescentando que “os livros de Antonia são jogos maravilhosos de histórias e ideias.”
Antonia Susan Byatt nasceu em 24 de agosto de 1936, em Sheffield, no Yorkshire, norte da Inglaterra. Estudou em Cambridge e depois em Oxford.
Ensinou literatura inglesa e americana na Universidade de Londres, antes de se dedicar apenas à escrita, a partir de 1983, cerca de 20 anos após a publicação do seu primeiro romance, “Shadow of a Sun” (1964).
O seu primeiro livro fala de uma jovem mulher que cresceu sob o domínio paterno. O segundo, “The Game”, surgido em 1967, estuda a relação de atrito entre duas irmãs.
Byatt era filha do escritor John Drabble e irmã da romancista Margaret Drabble, autora de “Sobe a maré negra” com quem teve um relacionamento difícil, facto que o jornal britânico The Times recorda, esta sexta-feira, no perfil que dedica a AS Byatt: “Escritora e crítica conhecida pela erudição deslumbrante, grande poder descritivo e pela rivalidade com a irmã Margaret Drabble”.
A entrega de AS Byatt à escrita, em exclusivo, surge pouco depois de iniciar a tetralogia dedicada a uma família do Yorkshire, com “The Virgin in the Garden” (1978), a que se sucederam “Still Life” (1985), “The Tower of Babel” (1996) e “The Whistling Woman” (2002).
Em 1995, viu “Angels and Insects” adaptado para cinema por Philip Haas, o que também aconteceria, sete anos mais tarde, a “Possessão” (“Possession”), transposto para filme por Neil LaBute, com Gwyneth Paltrow e Aaron Eckhart como protagonistas.
“Possessão” é o seu livro mais popular, mais conhecido. “Eu sabia que as pessoas iam gostar”, disse Byatt numa entrevista citada pelo jornal The Times. “É o único romance que escrevi para ser apreciado, e fi-lo, em parte, para me exibir. Na verdade, pela primeira vez, estabeleci um ritmo tendo em conta a capacidade de atenção do leitor”.
Os romances de AS Byatt multiplicam-se em vozes, perspetivas e até mesmo em estilos de escrita, conforme as personagens e as situações.
“Gosto de romances com um grande número de pessoas e perceções, não daqueles que têm um único ponto de vista, estreito, limitado ao autor ou a uma das personagens”, afirmou.
O nível de exigência levou-a a criticar a saga Harry Potter, em 2003, num texto de opinião no The New York Times, no qual afirmava que os livros de J.K. Rowling eram escritos “para pessoas de imaginação circunscrita a desenhos animados, ao mundo das novelas, dos ‘reality shows’ e aos ‘mexericos’ de celebridades”.
Na altura, encontrou apoio na escritora Fay Weldon (1931-2023), a autora de “Vida e Amores de Uma Mulher Demónio”, para quem Byatt estava “a ser uma desmancha-prazeres”, recordando porém, ao mesmo tempo, que “muitas vezes os desmancha-prazeres têm razão”.
Em 2009, Byatt voltou a seduzir o público com “The Children’s Book”, um dos romances selecionados para o Prémio Booker desse ano, vencedor do James Tait Black Memorial. A coletânea de contos “Medusa’s Ankles”, publicada em 2021, é o seu último livro.
Byatt recebeu as ordens do Império Britânico, CBE e DBE, em 1990 e 1999, respetivamente, e o grau de Cavaleira da Ordem das Artes e das Letras de França, entre outras distinções.
Em Portugal, de acordo com o catálogo da Biblioteca Nacional, foram traduzidas as suas obras “O Caixão de Vidro”, por Isabel Cisneiros (Tempus, 1997), “A Fábula do Biógrafo”, por Fernanda Pinto Rodrigues (Temas e Debates, 2003), e “Possessão: Uma História de Amor”, por António Pescada (Sextante, 2008).