Depois de muita tensão, de trocas de acusações e da ameaça do regresso dos combates à Faixa de Gaza, os 13 reféns israelitas nas mãos do Hamas que seriam entregues a Telavive este sábado acabaram por ser libertados e voltaram para Israel, já ao final da noite. O Hamas entregou também à Cruz Vermelha quatro reféns tailandeses, trabalhadores agrícolas raptados a 7 de outubro.

No filme do dia, e após o relativo sucesso da primeira troca de prisioneiros palestinianos por reféns israelitas, na sexta-feira, esperava-se que tudo corresse como planeado. Mas não foi assim. Cerca das 16 horas (menos duas em Lisboa), o principal conselheiro do braço político do Hamas acusava Israel de estar a violar o acordo em vigor para o cessar-fogo e a troca de prisioneiros. Em causa, segundo Taher al-Nunu, estavam condições relativas à troca de prisioneiros e à entrada de ajuda humanitária no norte de Gaza.

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As declarações de al-Nunu já deixavam antever o que se seguiria. O Hamas considerava que Israel tinha violado o acordo e, por isso, decidiu adiar a troca de prisioneiros até que Israel aderisse “aos termos acordados no que diz respeito à entrada de camiões no norte de Gaza”. “Houve violações ontem [sexta-feira] e hoje isso está a repetir-se”, queixava-se um oficial sénior do Hamas, acusando Telavive de ter disparado contra civis palestinianos que se deslocavam para o norte da Faixa de Gaza.

Perante o impasse, os responsáveis israelitas nas negociações com o Hamas deixavam o aviso: se os reféns não fossem libertados até à meia noite, hora local (menos duas em Lisboa), a operação militar terrestre em Gaza iria ser retomada.

Neste momento, Qatar e Egito já desenvolviam intensos esforços diplomáticos para tentar ultrapassar o impasse e desbloquear a concretização da troca dos reféns pelos prisoneiros palestinianos. A intervenção dos dois país, que têm mediado as negociações entre Israel e o Hamas, terá sido decisiva. Soube-se mais tarde que o presidente norte-americano Joe Biden falou com o emir do Qatar para o instar a agir no sentido de o acordo ser cumprido.

Pouco depois, o Ministério dos Negócios Estrangeiros qatari e o próprio Hamas avançavam que seriam 20 os reféns libertados: 13 israelitas e 7 estrangeiros — um número que acabou por não se confirmar. Em troca, Israel libertaria, como estava previsto, 39 prisioneiros palestinianos (33 crianças e seis mulheres).

O grupo extremista islâmico acabou por entregar à Cruz Vermelha 17 reféns e não os 20 inicialmente avançados: 13 israelitas e quatro tailandeses, que seguiram até ao Egito através da passagem de Rafah. De seguida, entraram em Israel e foram encaminhados para vários hospitais e para junto das respetivas famílias, escoltados pelas forças especiais israelitas e pelo Shin Bet, o serviço de segurança interno israelita.

Entre os 13 israelitas libertados estão oito crianças e cinco mulheres.

As irmãs Alma Or, de 13 anos, e Noam Or, de 17, são filhas de Dror Or, que tem nacionalidade portuguesa. O pai das jovens também foi raptado no dia 7 de outubro e ainda está refém do Hamas. Já a mãe de Alma e Noam, Yonat Or, foi assassinada durante o ataque do grupo extremista islâmico ao kibbutz Be’eri, onde a família vivia. A família paterna de Dror, o pai, é uma família sefardita que viveu no Império Otomano, falava ladino e hoje inspira a famosa série da Netflix “Beauty Queen of Jerusalem”.

Esta é a lista completa dos reféns libertados este sábado:

  • as irmãs Alma Or (13 anos) e Noam Or (17 anos), cujo pai, Dror, ainda é refém do Hamas;
  • Hila Rotem (14 anos), do kibbutz Be’eri, cuja mãe, Raya, se mantém em cativeiro;
  • Emily Hand (8 anos);
  • Sharon Avigdori (52 anos) e a sua filha Noam (12 anos);
  • Shoshan Haran (67 anos);
  • Shiri Weiss (53 anos) e a sua filha Noga Weiss (18 anos). Ilan, o marido e pai, continua desaparecido.
  • Maya Regev (21 anos);
  • Adi Shoham (38 anos) e os seus filhos Yahel (3 anos) e Naveh (8 anos). Tal, o marido e pai das crianças, continua em cativeiro.

Desta vez nem todas as famílias saíram juntas, como aconteceu com a mãe de Hila Rotem, Raya, que permanece em cativeiro.