Há um ano tudo mudou, um ano depois tudo continua a mudar. Quando durante o Campeonato do Mundo do Qatar foi anunciada a rescisão de contrato entre Manchester United e Cristiano Ronaldo, e perante uma aparente falta de propostas de clubes europeus habituados a jogar a Champions, sobravam dúvidas em torno do que poderia ser o futuro do avançado então com 37 anos. E os dias que se seguiram não ajudaram nessa meta de ambicionar seguir a carreira na Europa, tendo em conta a perda da titularidade na Seleção Nacional para Gonçalo Ramos. No final do ano, aquilo que era há muito ventilado tornou-se mesmo uma realidade: o Al Nassr, da Arábia Saudita, confirmava a contratação de CR7. Mais do que um jogador, estava em causa um ícone (pago como tal), uma marca e uma referência. Contas feitas, o que mudou não foi propriamente aquilo que o número 7 era capaz de fazer em campo mas sim todo o impacto que teve fora dele.

O ídolo dos que marcam continua a marcar: Al Nassr soma oitava vitória consecutiva com bis de Ronaldo

Um ano depois dessa saída, basta recordar a última partida do Al Nassr para se ver onde está Ronaldo a nível de rendimento: mais dois golos de grande qualidade na Liga saudita, um total de 24 noutros tantos encontros oficiais realizados esta temporada e a garantia de que o futebol no país vai dando o “salto” com a chegada de muitas outras estrelas das principais competições europeias. E o peso do capitão da Seleção não ficou por aí, tendo inaugurado este sábado o seu novo museu em Riade na companhia do seu irmão Hugo. “Esta é a minha história. Da Madeira para a Arábia Saudita, o meu ‘CR7 Signature Museum’ está agora aberto”, disse.

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“O Cristiano é um jogador diferente. É o melhor do mundo e quando se tem o melhor jogador do mundo tudo se torna mais fácil para nós. É estranho quando o Cristiano não marca, não quando marca”, destacou Luís Castro, técnico do Al Nassr, sem esquecer também o papel do outro português no seu grupo. “O Otávio nasceu para jogar futebol. Encontramo-lo em todo o lado no campo. Temos sorte em ter um jogador do calibre do Otávio. A nossa equipa tem um bom grupo que resolve todos os problemas que temos. Admiro a coesão coletiva que temos na equipa. O nome não é tudo, o que é importante é o trabalho. Tenho jogadores com potencial, mas o potencial não representa o que é importante. O que é importante é o trabalho. Peço sempre aos jogadores que trabalhem para serem melhores do que ontem”, acrescentou a esse propósito.

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O Irão disse “Somos Ronaldo” no dia em que a Champions do português mudou: Al Nassr vence Persepolis na Liga dos Campeões asiática

Nem de propósito, a receção ao Persepolis surgia como mais um desafio a essa capacidade enquanto equipa de resolver os problemas perante uma expulsão ainda antes dos 20 minutos iniciais. O momento do Al Nassr não poderia ser melhor, com mais oito vitórias seguidas após o deslize com o Abha na Liga (2-2) que quebrou uma série de dez triunfos consecutivos, mas o encontro com os iranianos que podia confirmar a passagem à fase seguinte na primeira posição teve esse condicionamento da inferioridade numérica que impediu voos mais altos do que segurar o empate e consequente apuramento direto para os oitavos da Liga dos Campeões da Ásia numa partida marcada também por um gesto de fair play de Ronaldo logo nos minutos iniciais.

O encontro começou praticamente com esse momento em que Ronaldo viu um remate após cruzamento de Sadio Mané prensado num defesa, conseguiu intercetar depois a bola que a equipa do Persepolis não tirou da zona de perigo e caiu na área envolvido com um defesa contrário. O árbitro assinalou de pronto a falta para grande penalidade, Ronaldo levantou-se de pronto para dizer que não deveria ser penálti num lance que deu inicialmente a ideia de ser daqueles “chapa 5” e a decisão foi mesmo revertida após análise das imagens no VAR (3′). O golo não apareceu aí mas parecia que podia surgir a qualquer momento pelo grande domínio da partida. Depois, tudo mudou: Mehdi Torabi deixou um primeiro aviso num remate que saiu ao lado (13′) e Ali Lajami foi expulso com vermelho direto por uma entrada imprudente sobre um adversário ainda no meio-campo contrário (17′). Luís Castro via-se obrigado a prescindir de Sami Al-Najei para colocar outro central, Mohammed Al-Fatil, e perdia o elemento que fazia a ligação entre meio-campo e ataque.

O Persepolis ainda teve um lance com relativo perigo numa altura em que o Al Nassr não conseguira ainda reorganizar-se mas com Al-Fatil a desvantagem numérica acabou por ser quase “anulada” com o encontro a chegar ao intervalo sem golos e sem mais oportunidades entre alguns lances com Otávio, o melhor da equipa de Riade, a motivarem pedidos de cartões. Seria nesses moldes que o Al Nassr iria tentar levar a partida nos moldes em que a mesma se tinha colocado a partir da expulsão, defendendo de forma segura, evitando as transições, aproveitando as faltas que muitas vezes eram necessárias para travar a maior valia técnica do conjunto da casa e procurando algo mais no último terço, sendo que Ronaldo fez o único remate nessa fase mas ao lado da baliza de Alireza Beiranvand, internacional iraniano que passou pelo Boavista (45′).

O segundo tempo começou com um lance mais aparatoso entre o guarda-redes e o português mas cedo se percebeu que haveria mais lances de perigo, primeiro com um golo anulado a Shahab Zahedi por fora de jogo (53′) e depois com um remate de Ronaldo a rasar o poste naquela que foi a melhor jogada da partida até esse momento (57′). Afinal, foi sol de pouca dura. E o próprio Al Nassr assumiu a questão do empate que dava o apuramento direto para os oitavos nos últimos 15 minutos, quando o português foi substituído ainda com visíveis queixas na zona do pescoço que fizeram com que seguisse diretamente para o balneário.