A Organização Internacional para as Migrações (OIM) alertou esta terça-feira para o facto de mais de 2,8 mil milhões de pessoas poderem estar expostas a ondas de calor até 2090 “num cenário de aquecimento elevado”.

Num comunicado divulgado ao mesmo tempo em Genebra e em Berlim, a Organização Internacional para as Migrações cita uma nova análise feita pelo Instituto de Dados Globais (IDG) da própria instituição, que refere que esse número, que corresponde a mais de um terço (35%) da população mundial atual, é “mais do dobro” do que um cenário de aquecimento reduzido.

Até 2,8 mil milhões de pessoas poderão estar expostas a ondas de calor até 2090 num cenário de aquecimento elevado, mais do dobro do que num cenário de aquecimento reduzido”, indica a Organização Internacional para as Migrações.

Embora a capacidade de prever os efeitos das alterações climáticas nos movimentos populacionais a nível mundial “continue a ser limitada”, admite a Organização Internacional para as Migrações, prevê-se que quase metade das pessoas potencialmente afetadas pelas ondas de calor (até 1,300 mil milhões) viva no sul da Ásia.

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As ondas de calor não são exclusivas da Península Ibérica e existem vários países a sofrer com temperaturas extremas

De facto, salienta a Organização Internacional para as Migrações, que cita igualmente o Centro de Monitorização de Deslocações Internas, o sul da Ásia assistiu a 59,7 milhões de deslocados, situação relacionada com o clima na última década.

“Os cenários de aquecimento baixo e alto representam diferentes trajetórias futuras das concentrações de gases com efeito de estufa, conduzindo a um aumento da temperatura global provavelmente inferior a 2° C e de 3-4° C até 2100, respetivamente”, refere a Organização Internacional para as Migrações.

O Instituto de Dados Globais examina a relação entre os riscos climáticos, a densidade populacional e a vulnerabilidade socioeconómica das comunidades em todo o mundo.

Estas variáveis mostram o nível de exposição humana aos riscos climáticos no novo painel de controlo dos Impactos da Mobilidade Climática, uma ferramenta interativa de acesso livre lançada esta terça-feira no Portal de Dados sobre Migração.

“Na última década, mais de 200 milhões de pessoas foram deslocadas devido a inundações, tempestades e incêndios florestais. Compreender de que forma as alterações climáticas afetarão o momento e o local em que estes impactos ocorrerão é crucial para a adoção de medidas e soluções eficazes de antecipação”, afirmou Koko Warner, diretor do Instituto de Dados Globais da Organização Internacional para as Migrações.

Com 2023 a apresentar-se como o ano mais quente desde que há registos, os impactos das alterações climáticas são cada vez mais visíveis nas comunidades, desde o Corno de África até às ilhas do Pacífico, acrescenta o instituto da Organização Internacional para as Migrações.

A nova ferramenta identifica os locais onde se prevê que a exposição aos riscos, a elevada densidade populacional e a vulnerabilidade económica venham a coincidir no futuro, explica.

Estes dados, prossegue o Instituto de Dados Globais, fornecem uma visão granular sobre onde dar prioridade a medidas de apoio proativas e orientadas para o futuro das comunidades em risco de deslocação relacionada com o clima.

Além das ondas de calor, outros riscos que as pessoas enfrentam incluem inundações fluviais, secas, quebra de colheitas, incêndios florestais e ciclones tropicais.

O painel de controlo mostra que, até 2090, o aquecimento global deverá expor até 39 milhões de pessoas a inundações fluviais num cenário de aquecimento elevado, sendo a África Subsariana a região mais afetada.

Os riscos climáticos são já um importante fator de mobilidade humana em todo o mundo, pelo que se prevê que aumentem de gravidade e frequência em muitas partes do mundo, sustenta o Instituto de Dados Globais.

Embora haja uma compreensão cada vez mais precisa de onde e quando ocorrerão os riscos climáticos e de quantas pessoas estarão expostas a eles, prossegue o instituto da Organização Internacional para as Migrações, ainda há pouco conhecimento sobre a forma como a mobilidade humana responderá a esses riscos, como mostra um estudo recente sobre as várias projeções disponíveis.

“Ainda não existe um consenso sobre a forma como a mobilidade humana global responderá aos impactos das alterações climáticas”, afirma Robert Beyer, analista de dados e investigador do Instituto de Dados Globais.

“No entanto, à medida que os dados e os modelos estão a melhorar, esse consenso está cada vez mais ao nosso alcance. Isto é crucial para desenvolver ações concretas no terreno que minimizem os impactos adversos das alterações climáticas na mobilidade humana”, conclui Beyer.

Este alerta da Organização Internacional para as Migrações, agência do sistema da Organização das Nações Unidas, é lançado quando está a decorrer no Dubai a 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28).