No mundo do desporto, tornou-se usual usar a expressão dar o corpo às balas. Não passa de uma mera metáfora, como tantas outras que se infiltram neste universo, para designar os sacrifícios que são necessários para conseguir um determinado triunfo. Para Alexandr Dolgopolov, antigo tenista ucraniano, tais palavras tornaram-se um pouco mais literais a partir de 2022.

“Não me tornei um Rambo mas em cinco tentativas consigo acertar três na cabeça”: a nova vida na guerra do ex-tenista Dolgopolov

No ténis as armas usadas para atacar um adversário são pancadas que alternam entre o lado esquerdo e o lado direito, entre o efeito ou a força. Porém, Dolgopolov teve que alargar o seu arsenal. Em 2021, terminou a carreira de tenista e, com o estalar da guerra na Ucrânia, o manuseamento da raquete não lhe valeu de muito numa situação em que ter conhecimentos sobre como utilizar armas é bem mais útil. Assim, o antigo número 13 do mundo tornou-se especialista em comandar drones.

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“Mostramos onde atacar. Com o vídeo podemos trabalhar com mais precisão. Depois, reunimos informações para qualquer operação no terreno, talvez um ataque”, contou Dolgopolov ao Daily Mail sobre as tarefas que desempenha na linha da frente. “Quando os nossos soldados estão a atacar, nós controlamos a partir do céu. Percebemos quais são as armas que o inimigo possui, como estão as coisas, onde eles nos podem ver”.

Ao longo da carreira, Alexandr Dolgopolov, conquistou três títulos – Umag (2011), Washington (2012) e Buenos Aires (2017). No que a Grand Slams diz respeito, o melhor que o ucraniano conseguiu foi chegar aos quartos de final da edição de 2011 do Open da Austrália. Natural de Kiev, obteve a melhor posição no ranking mundial em janeiro de 2012 (13.º). Um dos melhores momentos do percurso de Dolgopolov foi a vitória frente a Rafael Nadal, no ano de 2015, em Queen’s. Hoje, ganhar ou perder é relativo.

“Perdemos uma pessoa muito boa há apenas duas semanas, um georgiano. Ele pediu um empréstimo ao banco para lutar pela Ucrânia. Então foi uma perda dolorosa para nós, ele tinha 25 anos. Sim, quanto mais tempo passa, mais pessoas morrem ao teu redor”, recordou. Dolgopolov descreve que há dias de trabalho de 15 horas em que os soldados ingerem bebidas energéticas para não parecerem “zombies”.

No mundo do ténis desde os três anos, a vida de Dolgopolov mudou radicalmente. “Não estou tão feliz como antes, a vida está mais stressante. Costumava ser uma pessoa muito descontraída, sempre a sorrir e a brincar. Ainda brincamos, mas pagamos o preço da guerra. É mentalmente exaustivo”, apontou. “Quaisquer projetos para o futuro têm de ser suspensos. Eu não planeio nada”, continuou. “Estamos em guerra, como posso fazer planos?”, concluiu.