O ex-Presidente sul-africano Jacob Zuma, destituído em 2018 por corrupção e ainda com vários processos, declarou este sábado que não votará no Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde o fim do apartheid, nas eleições gerais de 2024.

Zuma, com 81 anos, não deixará o partido que enterrou o apartheid e do qual é há muito um pilar, mas que tem dificuldade em “reconhecer hoje sob a atual direção”.

Não fará campanha pelo ANC e apelou para a votação num recente pequeno partido radical, denominado Umkhonto We Sizwe (MK), como o antigo braço armado do ANC, durante uma conferência de imprensa no Soweto.

“Não posso, nem farei mais campanha pelo ANC do [atual Presidente Cyril] Ramaphosa”, declarou, num texto lido pela filha Duduzile.

“A minha consciência não me permite mentir ao povo sul-africano e fingir que o ANC de Ramaphosa é o mesmo de [Nelson] Mandela e [Oliver] Tambo”, acrescentou.

“Após muita reflexão, sinto-me verdadeiramente triste por constatar que o ANC de hoje não é o grande movimento que amávamos e pelo qual estávamos dispostos a sacrificar a vida”, insistiu.

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Nas próximas eleições na África do Sul, que deverão realizar-se entre maio e agosto, o ANC poderá perder pela primeira vez na sua história a maioria parlamentar e também a presidência do país, de acordo com peritos em sondagens.

Em agosto, Jacob Zuma recebeu um “perdão especial” presidencial que lhe permitiu evitar ser reencarcerado para cumprir uma pena de prisão de 15 meses, como anunciou na altura o governo sul-africano.

Ramaphosa chegou à presidência em 2018 para substituir Jacob Zuma, obrigado a renunciar ao cargo antes do fim do mandato pelo seu partido, o ANC, após nove anos de governo envoltos em escândalos e acusações de má gestão pública.

Jacob Zuma estava em liberdade condicional médica desde 06 de agosto de 2021 fora da prisão onde estava a cumprir uma pena de 15 meses por se recusar a comparecer perante uma comissão de inquérito sobre corrupção pública no período em que foi Presidente, entre 2009 e 2018.

Em julho de 2021, a África do Sul viveu uma onda de violência durante mais de uma semana no seguimento da detenção do ex-presidente, que causou mais de 300 mortos e originou mais de 2.500 detenções, segundo a Presidência sul-africana.

Esta foi a primeira vez na história da África do Sul que um ex-Presidente foi condenado a uma pena de prisão.