A polémica estalou em outubro e em poucos dias deu origem à maior crise de sempre da Web Summit. Um tweet do então CEO, Paddy Cosgrave, sobre o conflito entre Israel e a Palestina, levou à demissão do próprio e a uma catadupa de desistências de empresas e oradores. Agora, um mês depois, a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), faz as contas ao “boicote” ao evento tecnológico que se instalou em 2016 em Lisboa. Segundo um inquérito da AHP, a maior parte dos inquiridos (77%) não sentiu qualquer impacto nas reservas, enquanto 22% notaram um impacto negativo.
Mas as taxas de ocupação ressentiram-se face ao evento do ano anterior. Se em 2022, 82% dos hotéis respondentes de Lisboa reportaram uma taxa de ocupação entre os 91% e os 100%, em 2023 essa percentagem baixou para 57%. Aumentou, por sua vez, a percentagem de estabelecimentos que registaram uma ocupação entre 81% e 90%, de 15% para 21%. No total, 78% dos estabelecimentos de Lisboa tiveram uma ocupação superior a 81%, quando no ano passado tinham sido 97% os hotéis com essa ocupação.
Também aumentou significativamente a percentagem de hotéis lisboetas cuja ocupação se situou entre 71% e 80%: passou de 1% para 10%. Os mesmos 1% de 2022 transformaram-se em 9% em 2023 quando a ocupação reportada foi de 50% a 70%. E se no ano passado não tinha havido qualquer estabelecimento a registar uma ocupação inferior a 50% durante a Web Summit, este ano houve 3%. A tendência foi semelhante quando a análise se estende a toda a Área Metropolitana de Lisboa (AML). Segundo números da organização da Web Summit, estiveram no evento cerca de 70 mil participantes.
Segundo a apresentação conduzida por Cristina Siza Vieira, presidente executiva da AHP, o preço médio por quarto nos estabelecimentos durante a Web Summit aumentou 27 euros face ao ano passado, de 210 para 237 euros. O aumento, sublinhou Siza Vieira, esteve em linha com o registado a nível nacional desde o início do ano. Recuando até 2019, a subida dos preços nos dias da cimeira foi de 82 euros. “A Web Summit não teve impacto nem na ocupação nem nos preços”, concluiu a líder da AHP.
A estada média foi de dois a três dias e os mercados emissores de visitantes mais referidos pelos empresários da hotelaria foram os Estados Unidos, que aumentaram de 52% para 59%, Portugal, que subiu de 33% para 41%, e o Reino Unido, que registou um decréscimo acentuado de 51% para 39%. Da Alemanha, Brasil e Espanha o número de visitantes também baixou, mas nenhum mercado registou uma quebra tão grande como França, que passou de figurar em 43% das respostas para apenas 19%. “Foram compensados por outros mercados”, disse Siza Vieira.
O inquérito foi conduzido entre 20 de novembro e 10 de dezembro junto de 295 estabelecimentos hoteleiros.
Ocupação aumenta no Natal e passagem de ano. Preços também
Como é habitual, a AHP apresentou também esta terça-feira as suas perspetivas para o Natal e para o Ano Novo na hotelaria. Para o período do Natal, que a associação delimita entre 22 e 26 de dezembro, os números não diferem muito de 2022. No ano passado, a ocupação média nacional foi de 50%, sendo que em 2023 as reservas já feitas apontam para 44% e as perspetivas chegam aos 56%. Com a exceção da região Centro e dos Açores, todas as regiões esperam subidas na ocupação face ao ano passado. O preço médio dos quartos deverá subir de 118 euros para 135 euros.
O cenário muda no Reveillon. Para o período compreendido entre 30 de dezembro e 2 de janeiro, as expetativas são mais otimistas, revelou Cristina Vieira da Silva. No ano passado, a taxa de ocupação a nível nacional foi de 61%, mas em 2023 deverá ficar acima. As reservas já feitas estão nos 58% e as perspetivas apontam para os 75%.
Os maiores acréscimos deverão ter lugar na Madeira, que espera ultrapassar os 90% de taxa de ocupação, face aos 76% do ano passado, no Algarve, que espera passar de 61% para 74%, e em Lisboa, que poderá saltar de 70% para 83%. No Alentejo e no Algarve, as reservas já ultrapassam os valores finais de ocupação de 2022.
No preço, o aumento médio a nível nacional não será expressivo: apenas cinco euros, passando de 164 euros para 169 euros. O Algarve será a região com maior crescimento, de 133 euros para 161. Lisboa deverá ultrapassar os 200 euros (202) e a Madeira também, mas na região autónoma a tendência é para uma quebra dos preços. No ano passado o preço médio por quarto foi de 268 euros, que deverá baixar para 250 na passagem para 2024. No Norte também haverá uma quebra.
Os mercados emissores mais representados nas respostas dos hoteleiros são Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, Brasil e Alemanha. Todos, à exceção do Brasil, crescem face a 2022. O mercado nacional foi apontado por 81% dos inquiridos como um dos três principais mercados emissores de turistas.
Uma das questões da AHP no inquérito deste ano prendeu-se com a situação geopolítica e económica atual. A associação quis saber se o conflito em Israel teve algum impacto nas reservas. Para 29%, teve um impacto negativo, mas a maior parte dos inquiridos (65%) não sentiu qualquer impacto. Ja 6% sentiram um impacto positivo. Ainda assim, na Região Centro, AML e Açores mais de 40% dos hoteleiros consideram haver um impacto negativo. Na Madeira, pelo contrário, 25% apontam um impacto positivo.
A AHP deixou ainda uma nota de preocupação sobre os Açores. “A Ryanair tinha dois voos diários e passou a ter dois voos semanais, o que tem um impacto muito grande na operação de inverno”, sublinhou Siza Vieira. “Temos inquiridos com preços muito modestos”. A SATA e a TAP aumentaram as operações “mas não foi significativo”.