A 11 de novembro, os 4.000 habitantes de Grindavík abandonaram as suas casas, com receio de que todos os edifícios pudessem ser engolidos pela erupção que prometia surgir do vulcão Fagradalsfjall. Na altura, a possibilidade de não passarem o Natal no conforto do lar nem lhes passou pela cabeça. Agora, além de já terem isso como garantido, têm medo de que se torne regra. E, pior, que a “cidade desapareça do mapa”.

Apesar de a erupção estar a dar sinais de enfraquecimento, a preocupação de que a cidade na península de Reiquejavique seja consumida pela lava continua mesmo a crescer na população. “É um pouco stressante”, confessou Andrezj, polaco, de 63 anos, à BBC.

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Tendo já vivido quatro erupções, o antigo pescador conhece bem o tipo de cenário que resta após os rios de lava navegarem por uma cidade. E teme que o pior aconteça à sua.

O receio não ocupa apenas a cabeça de Andrezj, como o de muitas outras que vivem no centro de acolhimento gerido pelas autoridades locais e pela Cruz Vermelha. No entanto, há quem escolha relativizar o perigo.

Vulcão entra em erupção na Islândia

“Estamos a viver numa cidade rodeada de lava. É o que é, quando se vive na Islândia. Há ameaças em todas as cidades. A nossa é este vulcão”, apontou Eggert Solberg Jonsson, que está no abrigo com os seus três filhos.

O islandês explica que “muitos estavam com medo de ver as imagens e vídeos” dos danos na cidade, mas as crianças foram as que reagiram melhor. “Elas já estão habituadas”, garantiu.

Além dos três filhos de Jonsson, há mais 497 crianças, com idades entre seis e 16 anos, no centro de acolhimento, que são “a prioridade principal” das autoridades. Contudo, nem todas são tão “sortudas” como elas.

Temos a sorte de alguns amigos já nos terem dito que podemos ficar em casa deles até à primavera. Nem todas as pessoas são tão sortudas, mas a rede de segurança aqui é forte”, assegurou.

Este esforço foi também garantido pelo presidente da Câmara Municipal, Fannar Jónasson, que, num comunicado divulgado na terça-feira à noite, sublinhou a necessidade de “enfrentar a crise da habitação” com “toda a força”, para assegurar que as famílias deslocadas ficam abrigadas nas próximas semanas e meses.

Segundo a CNN Internacional, Jónasson assegurou que as autoridades já estão a “trabalhar em várias soluções de alojamento” e que as estradas que conduzem à cidade vão continuar encerradas nos próximos dias.

Além disso, o presidente contrariou o medo da população de que algum edifício ou estrada esteja em risco imediato. No entanto, avisou que “se a lava começar a fluir para oeste, Grindavíkurvegur (estrada principal da cidade) poderá estar em perigo”.

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Apesar de não poderem passar o Natal em casa, os residentes de Grindavík puderam visitar a cidade esta quinta-feira, para reunir alguns pertences. Segundo o Independent, as pessoas não foram “registadas ou acompanhadas, mas as equipas de emergência estão na cidade e os carros que entrarem e saírem estão a ser verificados”.

E se, por um lado, o vulcão afasta os residentes — que garantem que “já faz parte das suas vidas” —, atrai outros, que querem testemunhar um acontecimento natural único.

Desde que o Fagradalsfjall entrou em erupção, na segunda-feira, que diversos turistas viajaram para o limite da zona de perigo — cercada pelos serviços de emergência — para tirar fotografias e vídeos às nuvens de fumo e explosões de lava.

Tal obrigou a um reforço por parte das autoridades, que têm tentado dispersar os carros estacionados na berma da estrada. “Estamos totalmente preparados. Sabemos como lidar com estas situações. As únicas pessoas que estão aqui a tirar fotografias e a fazer vídeos são turistas”, garantiu o agente Guorun à BBC.

Duas dessas pessoas eram os norte-americanos George e Matt, que voaram de Chicago para ver o que estava a acontecer em “tempo real”. “Quando estás nos Estados Unidos e vês um furacão, não podes desviar o olhar. Aqui, podemos mesmo ver o que se está a passar. Nunca vou esquecer isto”, garantiu.

A erupção vulcânica começou às 22h17 de segunda-feira, após um terramoto, que aconteceu perto das 21 horas, na península a sudoeste da capital do país. O The Washington Post chamou a atenção para o facto de esta ser bastante diferente de outras registadas no passado, desde logo porque não aconteceu num lugar remoto.

Aliás, além de Grindavík alojar mais de 4.000 pessoas, é também o lugar onde existe uma central elétrica e a famosa Lagoa Azul, que teve de ser encerrada em outubro, após terem sido detetados sinais de dilatação do solo perto da zona.

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A península de Reykjanes já tinha sofrido três terramotos desde março de 2021 — mês que colocou um fim à pausa de oito séculos de atividade sísmica na zona —, tendo atualmente 33 sistemas vulcânicos ativos, sendo a região mais vulcânica da Europa.