Espancados, humilhados e obrigados a ler confissões em que admitem ser destrutivos e egoístas pela sua identidade sexual e/ou de género.  Na Rússia, onde toda a comunidade LGBTQ+ foi banida por ser considerada “extremista”, alguns pais estão a pagar para que os seus filhos e filhas queer sejam obrigados a entrar em centros privados para os “curar” através de terapia de conversão. Os rituais violentos física e psicologicamente são constantes durante meses nos campos russos concebidos, originalmente, para tratar a toxicodependência e o alcoolismo.

Através dos relatos de vítimas raptadas e mantidas em cativeiro, o The Washington Post reconstituiu o dia-a-dia num destes “centros de tratamento”. Ada Blakewell,  transgénero não binária de 23 anos, ativista e jornalista, sofreu nove meses de tratamento de conversão, de agosto de 2022 a maio de 2023, num centro localizado na Sibéria.

Blakewell relatou espancamentos e sessões de exercício físico forçado em que se sentia mal e “ficava a ver tudo branco”. As pessoas submetidas ao tratamento tinham de nadar num rio todos os dias às 8 da manhã, antes das orações matinais, mesmo no inverno e com temperaturas negativas. As tarefas associadas à masculinidade que lhe eram atribuídas tinham sempre o mesmo objetivo: conta que lhe era dito que serviam para ajudá-la a “tornar-se um homem”. Tinha de cortar lenha e abater galinhas, perus e porcos. Num incidente perturbador, a obrigação passou por castrar um porco, sendo-lhe dito que estava a assistir a uma cirurgia de alteração de sexo. “Deram-me uma faca cirúrgica e deram-me instruções de como fazê-lo”, afirmou, confessando que não conseguiu terminar o ato e que acabou por ter um grave ataque de pânico na sequência do pedido.

Rússia quer proibir o “movimento internacional LGBT” por extremismo

O jornal norte-americano cita Vladimir Komov, advogado de um grupo de defesa legal LGBTQ+ russo, contando que vários jovens internados estão a fugir do país, em busca de segurança no ocidente, e que muitos saíram dos centros “mentalmente destroçados”, acreditando que havia algo de errado com eles.

Segundo o The Washington Post, desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, a violência contra cidadãos trangéneros russos aumentou. Isto com base nos ideais que Vladimir Putin pretende cimentar — uma nação repressiva e profundamente conservadora, em que as pessoas LGBTQ+ são utilizadas como bodes expiatórios, colocados na mesma caixa dos ativistas anti-guerra. Mas a retórica também faz parte da tentativa do presidente russo de alistar nações socialmente conservadoras em África e no Médio Oriente para apoiar a Rússia na sua guerra contra a Ucrânia, aproximando-se da sua linha de crenças e encorajando a antipatia pelos direitos das pessoas queer.

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