Este texto foi inicialmente publicado a 27 de dezembro de 2023 e agora adaptado e lançado de novo a pretexto da morte de Navalny
Alexei Navalny, o principal opositor do Presidente Vladimir Putin, morreu esta sexta-feira, dia 16 de fevereiro, na colónia penal IK-3, localizada em Kharp, na região de Yamal-Nenets, que fica a cerca de 1.900 quilómetros a nordeste de Moscovo, depois de ter sido dado como “desaparecido” no final de dezembro.
Há quase uma semana que paradeiro de Alexei Navalny é uma incógnita
A notícia do “reaparecimento” de Navalny surgiu no dia de Natal, por meio do seu porta-voz, que confirmou que o prisioneiro foi localizado numa das mais setentrionais colónias penais russas. Na terça-feira, foi o próprio Navalny que afirmou estar “bem” e a acrescentar que “os 20 dias da transferência foram bastante cansativos”.
Navalny diz que está bem após ter sido localizado em penitenciária no Ártico russo
Alexei Navalny ficou numa colónia prisional conhecida como “Lobo Polar”. A prisão foi fundada em 1960, é considerada uma das prisões mais difíceis da Rússia e pode alojar até 1.050 prisioneiros, escreve a Reuters.
Segundo os apoiantes do opositor de Putin, esta mudança teve apenas um objetivo: aumentar o isolamento de Navalny a poucos meses das eleições presidenciais.
No “Lobo Polar” os invernos são rigorosos devido à sua localização, prevendo-se que em janeiro as temperaturas cheguem aos -28º Celsius. A maioria dos prisioneiros que ali se encontram cometeram crimes graves.
As condições nas colónias de regime especial são terríveis, é evidente que se trata de uma detenção de isolamento máximo. Navalny foi enviado para tão longe precisamente para garantir o máximo isolamento físico possível, em que até lá chegar é um problema”, disse o ativista dos direitos humanos Igor Kalyapin ao The Moscow Times.
Junto à IK-3 localiza-se a IK-18, outras das prisões mais “difíceis” da Rússia e que é conhecida como “Coruja Polar”. Na zona não existe praticamente mais nada, registando-se apenas um pequeno hotel que acolhe aqueles que visitam os prisioneiros na Sibéria.
As duas prisões foram construídas na década de 60 do século passado e chegaram a fazer parte dos Gulag, a Direção Principal dos Campos Correcional, sistema soviético de campos de trabalho forçados.
Apesar de ter ganhado fama nos últimos dias, a IK-3 já teve outros “famosos”, como é o caso de Platon Lebedev, antigo parceiro de negócios do antigo oligarca Mikhail Khodorkovsky, que foi condenado por evasão fiscal, branqueamento de capitais e fraude, e que terá sido detido por razões políticas.
Segundo Ivan Vostrikov, ex-coordenador regional da equipa de Navalny em Tyumen, citado pelo The Moscow Times, “é quase impossível escapar” da prisão de Kharp, devido às “centenas de quilómetros de tundra de um lado e as montanhas dos Urais polares do outro”.
A mesma fonte cita vários antigos prisioneiros da IK-3, que revelaram que o ambiente na prisão é hostil, com condições precárias, brutalidade e sobrelotação. Recentemente, alguns prisioneiros queixaram-se da falta de roupas e outros objetos essenciais, partilhou o Vyorstka.
Esta versão é corroborada pelo Ministério Público do distrito de Yamal-Nenets que, desde o ano passado, denunciou pelo menos duas situações de incumprimento das leis laborais, dos regulamentos de segurança contra incêndios e das normas sanitárias.
Quando os prisioneiros entram na colónia, são levados para os chuveiros. Quando uma pessoa se despe para tomar banho, a água é desligada e entram guardas com máscaras que começam imediatamente a bater. Comigo, durou cerca de meia hora. Eram cerca de 15 pessoas, entre prisioneiros e guardas. Colocaram-me no chão e bateram-me com bastões e com os punhos nas nádegas, na cabeça, na cara e nas costelas. Depois não prestaram qualquer assistência médica”, contou Mikho Khulilidze, que cumpriu pena na prisão, ao Vytorska.