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Brás, ostras com ervas marinhas ou pregado. O novo restaurante da rua Áurea é uma ode às algas

Este artigo tem mais de 6 meses

São 600 as espécies identificadas na costa portuguesa e são essas que o chef Pedro Mendes trouxe para Lisboa. À frente do Áurea, apresenta uma carta onde as algas são o ingrediente principal.

O Áurea é o restaurante do Art Legacy Hotel
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O Áurea é o restaurante do Art Legacy Hotel

O Áurea é o restaurante do Art Legacy Hotel

História

A rua revela o seu nome mesmo antes de haver espaço para apresentações. Áurea, em homenagem àquela rua que tantos referem como do Ouro, é o restaurante do novo hotel de cinco estrelas da baixa pombalina. Para quem cá passa é difícil não dar por ele. Com uma estética clássica, o edifício onde o Art Legacy nasceu, mesmo no coração da cidade de Lisboa, destaca-se pela sua imponência. Em tempos casa da Companhia de Seguros Sagres, volta agora a abrir as portas dos números 175 e 181, um século depois. Dessa época áurea pouco ficou. A fachada manteve-se, mas, por dentro, o edifício ganhou outra vida, pelos olhos do arquiteto português Luís Rebelo de Andrade.

É cá dentro que o Áurea habita. No piso térreo, convida locais, passantes, turistas e hóspedes do Art Legacy a entrar, a sentar e a mergulhar na carta, que se apresenta como um mar de algas. Mas já lá vamos. Antes disso, há uma viagem que as trouxe do Algarve até à capital.

Pedro Mendes foi o chef desafiado a desafiar a cozinha do Áurea. Natural de Lisboa, traz consigo anos de trabalho com algas

O convite caiu-lhe no colo em meados de outubro. O chef da bolota e das algas regressou à sua cidade, com pouco tempo para preparações, e com vontade de servir aos portugueses aquilo que de melhor Lisboa tem para oferecer, assim como os seus anos de pesquisa em torno das algas e do oceano Atlântico. Pedro Mendes aceitou assim o desafio e o Áurea abriu portas no início de dezembro. Vindo do Algarve, o chef trouxe consigo alguns do seus pratos clássicos, sem deixar para trás as influências que a região sul — mencionando também o Alentejo — têm tido no seu trabalho.

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Espaço

Podia ser apenas o único hotel e restaurante, na Europa, totalmente decorado com peças do universo Moooi, mas, o Art Legacy destaca-se também a nível mundial. Conhecida pelas suas cores ousadas e padrões exóticos, a marca holandesa de design moderno de móveis, interiores e iluminação foi a escolhida pelo arquiteto Luís Rebelo de Andrade para dar vida a estes dois espaços. Ao passar as portas, entra-se no mundo da Moooi, ou numa galeria, como descreve Carlos Faustino, diretor do Art Legacy, uma vez que todas as peças presentes podem ser adquiridas. Da mesa à cadeira, passando pelos candeeiros e pelo papel de parede, aqui “tudo é Moooi”.

O Art Legacy é o único hotel do mundo totalmente decorado com peças da marca Moooi

Mas desengane-se quem pense que tanto no Áurea como nos 53 quartos do Art Legacy a decoração é a mesma. “O ambiente do restaurante tem mais glamour, é mais charmoso. Quando sobe aos quartos é mais atrevido. Temos um choque de estilos”, descreve Carlos Faustino. Enquanto lá em cima as cores vibram e variam consoante o andar — há vermelho, azul, verde e amarelo —, cá em baixo o ambiente torna-se mais sóbrio, com os tons do verde seco escuro e do bordeaux a destacarem-se e com os dourados a surgirem pontualmente. Já a luz, é a característica de Lisboa.

No entanto, apesar das diferenças, os espaços complementam-se de forma harmoniosa, uma vez que, a ajudar, não há nenhuma barreira física entre os dois. “Todo o espaço funciona como um só”, o que faz do Áurea o ponto de ligação entre os hospedes, os passantes, os clientes e a equipa. À equação junta-se também a cozinha, que, segundo o arquiteto, é uma extensão da sala. Aberta, deixa que se revelem os seus segredos, principalmente a quem estiver sentado ao balcão, face à vista privilegiada. Lá atrás, quem se destaca é o papel de parede criado pela Moooi que “faz um elogio aos animais extintos”, explica o diretor do hotel.

Todas as peças da Moooi expostas no Áurea e no Art Legacy estão disponíveis para venda

Comida

“Onde é que estamos? Estamos em Lisboa”, responde o chef Pedro Mendes à sua própria pergunta para dar ênfase à importância de privilegiar na carta o local onde nos encontramos. Assim, no Áurea, Lisboa tem de estar muito presente à mesa. Mas, mais do que Lisboa, presente à mesa também tem de estar o chef e o trabalho que tem feito no últimos anos. Natural de Lisboa, Pedro Nunes viu a sua carreira chegar ao Algarve, onde, no início dos anos 2000, descobriu as algas. “Há 600 espécies identificadas na nossa costa. Nem uma é venenosa, dos estudos todos que já foram feitos. As algas têm propriedades nutricionais estupendas”, explicou, afirmando que o seu trabalho agora é promover o uso dos diferentes tipos.

São estas que guiam a carta do Áurea. Inspirada em Lisboa, no Algarve e no Alentejo — sem esquecer a bolota —, esta convida a uma viagem que tem início à tona da água e que continua até chegar ao fundo do mar. Antes de lá irmos, uma primeira nota ao amuse bouche, que, servido ao balcão, dá logo a conhecer os dias do chef no Algarve — com o crocante de algas com bivalves e ervas marinhas —, no Alentejo — com a bolota com cabeça de xara — e em Lisboa — com o pastel de nata de bacalhau.

É nas entradas do menu do Áurea que a viagem começa, e começa com as ervas marinhas. A primeira surge nas ostras (18€), que vindas do Sado são acompanhadas por alho francês, e apresenta-se como se tivesse geada por cima: são as ervas do gelo. De seguida, a alface do mar, que, segundo o chef, faz daquele um dos pratos mais lisboetas da casa. O nome parece familiar mas o twist chega cedo. O brás de algas com vieiras laminadas (18€) é um clássico de Pedro Mendes e aqui o chef utiliza uma alga que se encontra “com fartura” no estuário do Tejo, mesmo à beira de Lisboa.

O brás de algas é um dos pratos clássicos do chef Pedro Mendes

Já do Algarve o carabineiro (24€) traz um xerém feito com quatro tipo de algas diferentes. A cor também o denuncia: o verde surge da combinação do kombu com o esparguete do mar, a wakame e a alface do mar. No topo, há ainda lugar para a spirulina. Nos principais, o pregado (28€) chega com bivalves, ervas marinhas e com a mesma micro alga do xerém. “Vou utilizando as algas em praticamente todas as preparações”, afirma o chef, revelando que também nos pratos de carne está a presença das mesmas, uma vez que “Lisboa é mar”.

A começar pelo bife à portuguesa (29€), sendo o Áurea uma casa da capital, o kombu é um dos ingredientes da demi glace, depois transformada no molho. Também com a mesma alga é feita a feijoca com mouras e toucinho branco (16€). Nas sobremesas a coisa muda. Aqui, em vez de ingrediente, as algas surgem como apontamento, como é o caso da fresca e crocante maçã com poejo e caramelo (10€) e do arroz doce e amêndoa amarga (11€). Quanto aos cocktails, ainda nenhum segue esta linha do mar, mas, revela o chef, a carta assinada por Fábio Guerreiro pode vir a ter brevemente uma adição.

Nas sobremesas as algas surgem como apontamentos

“Cuidado, está quente” é uma rubrica do Observador onde se dão a conhecer novos (e renovados) restaurantes e cartas.

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