Trabalhadores da Global Media estão, esta quarta-feira, concentrados junto ao parlamento em Lisboa e ao Jornal de Notícias (JN) no Porto, dia em que o Diário de Notícias (DN), o JN, a TSF e O Jogo cumprem um dia de greve, até agora com adesão total, segundo delegados sindicais.

“Até ao momento a adesão é total. São números preliminares porque há turnos, mas na redação até ao momento há total paralisação”, disse à Lusa o representante dos trabalhadores da TSF, Filipe Santa Barbara.

Os sites e redes sociais do Jornal de Notícias, Diário de Notícias, O Jogo ou Dinheiro Vivo “estão parados” desde a meia-noite, assim como a TSF, que está a emitir apenas música. Na sua página da internet, o Diário de Notícias avançou ainda que a edição em papel de quinta-feira não estará nas bancas, devido à greve, regressando na sexta-feira.

Os trabalhadores do Global Media Group (GMG) estão em greve no mesmo dia em que termina o prazo de adesão às rescisões voluntárias, para mostrar repúdio pela intenção de despedir até 200 profissionais e pela defesa do jornalismo.

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Trabalhadores da TSF, DN, JN e O Jogo em greve desde as 00h00 contra despedimentos na Global Media

O delegado sindical d’ O Jogo disse, em declarações aos jornalistas, acreditar que os trabalhadores vão receber os ordenados em atraso, mas sublinhou que a “luta é muito mais do que apenas o salário de dezembro”.

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O nosso lugar está em risco, 150 a 200 pessoas podem sair deste grupo de media que consideramos fundamental à democracia e que tem sido tão historicamente atacado por várias partes”, afirmou.

Os trabalhadores querem demonstrar à sociedade civil que estão a lutar “não só pelo salário deste mês, mas por todos os salários”, para que não vivam constantemente na incerteza.

Os trabalhadores começaram a concentrar-se a partir das 9h00 na escadaria da Assembleia da República, antes de o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, com a tutela da Comunicação Social, prestar esclarecimentos na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, a partir das 10h00.

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Após a saída do ministro, jornalistas, técnicos e demais trabalhadores deslocam-se para as Torres de Lisboa para se concentrarem e manifestarem, a partir das 14h00, junto à sede do grupo.

Em frente às Torres de Lisboa, largas dezenas de trabalhadores do Diário de Notícias (DN), Jornal de Notícias (JN), da rádio TSF, do Dinheiro Vivo (DV), do desportivo O Jogo, entre outros títulos, estiveram concentrados esta tarde, onde marcaram presença também trabalhadores de outros órgãos de comunicação social.

Envergando cartazes onde se podia ler “pelo jornalismo livre” ou “todos diferentes, todos iguais, todos sem salário”, os trabalhadores aprovaram uma resolução na qual defendem a continuação da luta “até que haja uma clarificação do projeto do grupo e garantias da salvaguarda dos postos de trabalho e do pagamento do salário de dezembro e do subsídio de Natal”.

A secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, disse no local, à Lusa, estar solidária com a luta dos trabalhadores da Global Media, tendo também marcado presença pela defesa “do direito à informação, da liberdade de expressão, do direito a órgãos de comunicação social isentos, idóneos, transparentes, que transmitam de facto o que acontece”.

“A pressão que está a ser feita sobre os trabalhadores deste grupo, não dá essas garantias”, afirmou Isabel Camarinha.

O jornalista da TSF Filipe Santa Bárbara, porta-voz da Comissão de Trabalhadores da rádio considerou que este é “um grito de alerta para a sociedade” porque “o que está a ser posto em causa é o jornalismo”, além das “questões miseráveis” a que os trabalhadores do GMG estão sujeitos.

Só estamos a pedir que nos deixem trabalhar de forma livre, independente, sem ingerências e que nos paguem por esse trabalho”, realçou Filipe Santa Bárbara.

João Pedro Rodrigues, jornalista no DN desde 2006, que integra o Conselho de Redação do jornal, referiu o “emagrecimento sucessivo dos quadros” nos últimos anos, defendendo que a experiência prova que “não há virtudes em despedimentos coletivos, como os que se planeiam para o JN e TSF”.

“Já percebemos que não estamos a ser geridos por pessoas de boa-fé e é preciso apelar ao país que se interessa, ao país dos democratas, para que se mobilize para ter uma intervenção neste grupo empresarial”, acrescentou.

Alexandra Inácio, jornalista no JN há 24 anos, disse estar preocupada com o posto de trabalho e com a sua sobrevivência e a dos filhos, mas sobretudo com a “ameaça” que paira sobre o jornal considerando que “não é um mero despedimento coletivo com base em resultados financeiros, mas um ataque à imprensa livre”.

Por sua vez, o subchefe de redação de Lisboa do jornal O Jogo, António Pires, apontou as dificuldades diárias em “fazer sair o jornal todos os dias” com uma redação “muito reduzida” de oito pessoas, e, sobretudo, quando está na calha um despedimento coletivo.

Luís Reis Ribeiro, jornalista no Dinheiro Vivo, explicou que aquilo que o levou a participar no protesto foi, além dos salários em falta, “o sentido de urgência em saber qual o futuro para este projeto”, em nome do bem que disse mais prezar, “que é o jornalismo”.

A greve desta quarta-feira foi convocada pelo Sindicato dos Jornalistas (SJ), pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (SITE-Norte) e pelo Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações e Comunicação Audiovisual (STT), abrangendo todos os trabalhadores, independentemente da função.

Em 6 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva do GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.

Os trabalhadores não receberam o salário de dezembro, nem o subsídio de Natal que, segundo a administração, será pago em duodécimos durante este ano, o que viola a lei.

O grupo anunciou também o fim das prestações de serviços a partir de janeiro, num aviso com poucas horas de antecedência.

Mais de 200 pessoas manifestaram-se no Porto “pelo Jornalismo e pela Democracia”

Mais de 200 pessoas manifestaram-se esta quarta-feira no Porto “pelo Jornalismo e pela Democracia”, naquele que esperam ser “um ponto de viragem” na crise que o setor enfrenta e em solidariedade com os trabalhadores do Global Media Group (GMG).

O protesto foi marcado pelos trabalhadores do GMG que enfrentam uma ameaça de despedimento, salários e subsídios em atraso, e juntou jornalistas de vários órgãos de comunicação social nacionais, figuras da política nacional e local.

Penso que este é um ponto de viragem para o jornalismo. Começou por ser uma luta nossa, de títulos que merecem ser respeitados, temos títulos com muita história (…), mas todos nós sabemos que temos vivido, há vários anos, em ambiente de crise no jornalismo e este parece ser um momento ideal para todos juntos, em unidade, refletirmos sobre as dificuldades do setor e sobre as condições de que necessitamos para fazer um trabalho sólido que não esteja vulnerável por condições económicas”, afirmou a diretora demissionária do JN, Inês Cardoso.

“Sabemos há muito tempo que o grupo tinha resultados deficitários, tinha dificuldades (…) há vários anos que lidávamos com apelos à redução de custos e constrangimentos, mas esse esforço tinha vindo a ser feito de forma sustentada e, portanto, foi bastante inesperado [o anúncio de necessidade de despedimentos no GMG]”, explicou a responsável.

Os trabalhadores da gráfica do grupo — Naveprinter – estiveram também presentes no protesto e criticaram aquilo que chamaram ser “uma chico-espertice” que permitiu que os jornais saíssem hoje para as bancas.

“Foram para outra gráfica imprimir os jornais, 25 mil do JN e 10 mil de O Jogo”, explicou à Lusa o trabalhador da Naveprinter e também dirigente sindical Álvaro Pinheiro.

Segundo Álvaro Pinheiro, nunca tal tinha acontecido: “Os jornais foram sempre impressos na Naveprinter, mas como eles [a Administração da GMG] sabia que nós íamos mobilizar [para a greve] arranjaram maneira a ‘tirar’ os jornais noutro sítio”.

Site-Norte acusa Global Media de usar gráfica fora do grupo para imprimir jornais

O Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (Site-Norte) acusou, ao início da tarde, a GMG de violar o direito à greve ao recorrer a uma gráfica fora do grupo para imprimir os jornais de hoje e prometeu acionar os mecanismos possíveis para que aquele comportamento seja sancionado.

O protesto começou por volta das 14h00, em frente à “torre do JN”, com jornalistas e trabalhadores do GMG e de vários outros órgãos de comunicação a marcharem, entoando palavras de ordem contra o “fundo desconhecido” que comprou o GMG e “pela Democracia e Jornalismo”, até à Câmara Municipal do Porto, onde se juntou ao protesto o autarca da cidade.

Olho para isto com uma enorme preocupação pelos direitos dos trabalhadores do JN, da TSF e de O Jogo. O desaparecimento destes órgãos de comunicação social é uma tragédia. É uma tragédia para o país, para o Norte e, neste caso específico, para o Porto”, considerou Rui Moreira, que chamou a atenção para o financiamento da comunicação social.

Segundo o autarca, esta não é uma “altura de tomar medidas paliativas”, mas sim de “olhar para isto como uma situação de fundo”, salientando que não se compreende porque é que na contratação pública as autarquias estão sujeitas a limitações.

“Isto não é um serviço qualquer, o serviço que é prestado à população por um jornal não é um serviço qualquer. Como é que se compreende que o Estado seja tão paternalista que permite que ele próprio, possa participar em órgãos de comunicação social, e bem, mas por que é que não permite que os municípios possam participar nos jornais”, afirmou Rui Moreira, questionando se “é por desconfiança do poder autárquico em Portugal”.

“Este protesto, esta greve, vai além da luta pelo nosso posto de trabalho, é pelo futuro dos vários títulos do GMG, por um jornalismo livre e pela democracia”, explicou à Lusa o delegado sindical do JN, Augusto Correia.

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“Estas chamadas rescisões amigáveis, cujo prazo de adesão acaba hoje (quarta-feira), não são mais do que despedimentos disfarçados e que vão destruir o grupo. É contra isso que aqui estamos. Continuamos com o salário do mês de dezembro por pagar, o subsídio de Natal, não sabemos quando vamos receber, os nossos colaboradores que só receberam o mês de outubro em finais de dezembro também não sabem se vão receber”, explicou o sindicalista.

Notícia atualizada às 17h50 de 10 de janeiro de 2024