O secretário-geral do PCP defendeu esta quarta-feira que a primeira situação a resolver no grupo Global Media é “dar tranquilidade” aos seus trabalhadores e salientou que o Estado tem instrumentos para garantir o pagamento dos salários e retribuições em atraso.

Em declarações aos jornalistas após uma reunião com a Ordem dos Médicos, em Lisboa, Paulo Raimundo foi questionado se considera que se deve avançar para a nacionalização do Global Media Group (GMG), que detém títulos como o Diário de Notícias, TSF, Jornal de Notícias ou o Jogo, e cujos profissionais estão esta quarta-feira em greve.

Na resposta, o secretário-geral do PCP advertiu que a situação dos trabalhadores do grupo é “de insegurança brutal”, com “salários em atraso” e uma “perspetiva de curto prazo muito precária”.

Trabalhadores da TSF, DN, JN e O Jogo em greve desde as 00h00 contra despedimentos na Global Media

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“E, portanto, o que é preciso fazer já? É tranquilizar esses trabalhadores, desde logo criando as condições para que os seus salários, os que estão em atraso, e todas as questões de retribuição sejam resolvidas. Há instrumentos do Estado para fazer face a essa emergência“, salientou.

Paulo Raimundo defendeu que “o Estado tem vários instrumentos ao seu dispor para intervir, nomeadamente na questão dos salários”, dando o exemplo do que aconteceu em setembro na Autoeuropa.

“Ainda há poucos meses assistimos à situação — que nós não concordámos com ela, mas o Estado decidiu avançar assim — que foi pagar milhares de trabalhadores num lay-off completamente desnecessário, que foi responsabilidade apenas da empresa, que foi no caso da Autoeuropa”, disse.

Questionado sobre que instrumento em específico o Estado deve utilizar neste situação, Paulo Raimundo salientou que depende das particularidades, tendo em conta que “há programas que só podem entrar em vigor depois de um determinado tempo de salários em atraso”.

“Há vários programas, há várias saídas. Não é por falta de instrumentos que o Estado tem ao seu dispor que os trabalhadores deixarão de receber os seus salários em atraso e essa é a primeira questão a resolver: dar tranquilidade”, defendeu.

Já questionado novamente sobre a nacionalização do grupo, Paulo Raimundo voltou a defender que “não se pode descartar essa possibilidade”, salientando que o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias já foram jornais públicos, mas considerou que “é um passo que não vale a pena estar a precipitar agora”.

“O que é preciso precipitar agora, hoje, nas próximas horas, é: que garantias têm os trabalhadores de reaverem os seus salários e outro tipo de retribuições que têm em atraso e de salvaguardem os seus postos de trabalho”, disse.

Por outro lado, Paulo Raimundo considerou também que a situação no GMG “tem de ser investigada”, salientando que é “muito complexa” e é preciso “conhecer exatamente o que se passou, o que se está a passar e quais são os objetivos”.

O secretário-geral do PCP pediu ainda que não se desresponsabilize os acionistas do grupo pela situação a que se chegou, em particular as “responsabilidades que têm no presente e no futuro face ao grupo e, acima de tudo, face aos seus profissionais”.

Nestas declarações aos jornalistas, Paulo Raimundo foi ainda questionado sobre o acordo entre PS e PSD para lançar o concurso para o projeto do TGV entre Lisboa e o Porto, tendo respondido que o PCP é favorável a esse projeto, mas salientando que, ainda há poucos dias, lhe mostraram capas de jornais de há 20 anos que já anunciavam o lançamento de uma linha de alta velocidade.

“A experiência que temos tido sobre estas matérias talvez não ajude a ter grande esperança e confiança, mas, também desse ponto de vista, quanto mais força o PCP e a CDU tiverem, mais se estará em condições para pressionar, para que promessas passem do papel para a vida”, disse.