Os professores trabalham em média mais de 50 horas por semana, mais 15 do que o horário legalmente definido, em tarefas como preparar aulas, apoiar alunos com dificuldades, corrigir testes mas também tarefas burocráticas. E há professores com mais de 11 turmas atribuídas, mais de 200 alunos ou a dar aulas a vários níveis de ensino, revela um estudo da Fenprof.
O horário dos professores é de 35 horas semanais, mas, em média, os do 2.º e 3.º ciclos assim como os do ensino secundário trabalham 50 horas e 15 minutos, segundo os dados preliminares de um inquérito realizado pela estrutura sindical, entre setembro e outubro de 2023 e que envolveu 4.471 docentes de todo o país.
Em média, estão a trabalhar mais 15 horas por semana do que está previsto na lei e para realizar todas as tarefas têm de roubar tempo “à sua vida pessoal”, disse à Lusa Vitor Godinho, delegado sindical da Fenprof.
Muitas das horas que dedicam aos alunos e às escolas não são pagas, “são trabalho pro bono“, criticou o sindicalista, referindo que a situação se agravou nos últimos anos.
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Em 2017, os professores trabalhavam, em média, 47 horas por semana, agora são mais três horas e meia por semana.
O inquérito a que a Lusa teve acesso revela que os professores gastam, em média, 16 horas e 35 minutos a dar aulas, e outras 18 horas para desenvolver tarefas como preparar as aulas e realizar as avaliações dos seus alunos.
Estas duas componentes atingem praticamente a duração semanal legal do horário, que são 35 horas, mas os professores têm muitas outras tarefas, alertou o sindicalista.
Há o trabalho feito nas escolas que vai desde cargos pedagógicos, a apoio a alunos, tarefas administrativas, reuniões, substituição de colegas que faltam ou coadjuvações em sala de aula.
Em média, os professores despendem 15 horas e 45 minutos na “componente não letiva de estabelecimento”, lê-se no inquérito.
No caso dos docentes com cargos de direção de turma ou com coordenação de departamento, o estudo indica que ultrapassam largamente as horas que lhes são atribuídas para esse efeito.
Os diretores de turma têm duas horas para desenvolver esse trabalho, mas o estudo indica que gastam, em média, quatro horas e 18 minutos.
Vitor Godinho acredita que a realidade seja ainda mais preocupante, uma vez que estes professores têm de realizar reuniões com colegas, estar disponíveis para resolver problemas de alunos e receber pais, responder e enviar emails aos encarregados de educação, além de outras missões como fazer o levantamento das faltas dos estudantes, “uma a uma, de todos os alunos a todas as disciplinas”.
A excessiva carga burocrática é outro dos problemas, consumindo mais de quatro horas semanais.
Atualmente, “os professores gastam mais uma hora por semana em tarefas burocráticas do que em apoio aos seus alunos”, lamentou o sindicalista.
O apoio aos alunos representa quase três horas semanais, segundo o estudo que revela uma “flagrante situação de sobretrabalho” e muitas tarefas a serem desenvolvidas em horas não registadas.
A Fenprof tem por isso um conjunto de medidas que quer ver aplicadas e que passam por limitar o número de alunos e turmas atribuídas e por redefinir o que é componente letiva e não letiva.
Há professores com mais de 200 alunos ou mais de 11 turmas atribuídas
No inquérito da Fenprof, é também referido que há professores com mais de 11 turmas atribuídas, mais de 200 alunos ou a dar aulas a vários níveis de ensino são casos denunciados no inquérito da Fenprof, que alerta para o perigo de mais casos de “burnout“.
O sobretrabalho já tinha sido denunciado em 2017 pela Fenprof, que na altura disse que se registavam semanas de trabalho de 47 horas, mas “a situação agravou-se” nos últimos sete anos, sublinhou o dirigente sindical Vitor Godinho, em declarações à Lusa.
A trabalhar mais 15 horas por semana, os professores são obrigados a sacrificar a sua vida pessoal e familiar, o que os pode levar “à exaustão”, havendo muitas “situações de burnout“, alertou, lembrando que também fica em causa a qualidade de ensino.
Mais alunos e mais turmas atribuídas são sinónimo de mais trabalho, que se nota em tarefas como preparar aulas ou corrigir testes e trabalhos de casa.
O inquérito divulgado, esta quinta-feira, mostra que 43,2% dos professores têm mais de 100 alunos: 38% tem entre 100 e 200 estudantes e os restantes 5,3% têm mais de 200 alunos.
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Vitor Godinho garante que os dados do inquérito podem ser extrapolados para o universo da classe, uma vez que estão representados todos os grupos etários, regiões do país, grupos de recrutamento ou sexo.
Os professores com muitos alunos acabam por ter maiores dificuldades em fazer um acompanhamento personalizado. “Os professores já não estão a dar o melhor de si”, disse, explicando que “ao terem 200 alunos a cargo torna-se difícil conhecê-los a todos” e a frustração pode dar lugar ao ‘burnout‘.
O estudo mostra que apenas metade dos docentes tem menos de cinco turmas atribuídas, o que para a Fenprof deve ser o limite máximo de turmas atribuíveis a cada docente. Já um em cada cinco docentes (19,5%) tem sete ou mais turmas a cargo, havendo mesmo 4,2% dos professores com 11 ou mais turmas atribuídas.
Ter mais alunos e turmas é sinónimo de mais trabalho, sendo que há casos de professores que têm turmas de vários níveis de ensino: A Fenprof defende que o máximo devem ser três níveis, mas 10% têm quatro níveis e 6,8% têm, pelo menos, cinco.
A trabalhar mais de 15 horas semanais do que o previsto por lei, o sindicalista diz ser “preciso impedir que a ilegalidade se instale” e pede aos responsáveis políticos que olhem para os resultados do inquérito “para que o inferno não seja o limite”.
A Fenprof volta a apresentar um conjunto de medidas para garantir a aplicação dos horários de 35 horas, que vão desde “uma distinção séria e clara entre componentes letiva e não letiva do horário dos professores”, voltando a componente letiva a englobar todas as atividades diretas com alunos.
Garantir que os professores têm no máximo 100 alunos, cinco turmas e duas disciplinas, níveis ou áreas curriculares é outra das reivindicações.
A redução da componente letiva de base para 20 horas semanais e a redução de horas para quem tem cargos de natureza pedagógica “em número de horas condizente com as funções e tarefas a desempenhar” também fazem parte do caderno reivindicativo.