2.195 dias, 18 horas, 20 minutos e 52 segundos de invencibilidade. Novak Djokovic caiu do trono no Open da Austrália e, na chegada à final, mesmo que sem a presença do jogador de 36 anos, essa ainda era a notícia. O sérvio, recordista de títulos em torneios do Grand Slam e vencedor máximo do major australiano, perdeu e perdeu-se perante uma das caras do futuro. Jannik Sinner, aos 22 anos, alcançou a primeira final de um Grand Slam e levou Djokovic a afirmar que viveu “um dos piores encontros” a este nível em toda a carreira.

Se Sinner absorveu os poderes de Djokovic, então estava bem encaminhado para ser o primeiro tenista desde 2018 a vencer um Open da Austrália em que Djokovic participou. “Estou feliz por estar aqui, feliz por jogar a minha primeira final em Melbourne, mas, na minha cabeça, sei que posso e ainda tenho que melhorar”, assinalou. Pela frente tinha Daniil Medvedev e ambos reeditavam um duelo que se viu por cinco vezes no ano passado, quatro delas em finais. O italiano tinha vencido os últimos três confrontos diretos, porém a experiência estava do lado do russo que, de regresso à final do Open da Austrália, confiava que à terceira fosse de vez.

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Sinner tirou o rei Djokovic do trono e Medvedev usou o karma a seu favor: Open da Austrália vai ter vencedor inédito

Medvedev, após virar uma desvantagem de dois sets contra Zverev e vencer o alemão na meia-final, fez questão de perguntar às bancadas se a expressão “à terceira é de vez” também era usada na Austrália. Com agrado, percebeu que sim. “A primeira final [de um Grand Slam] é sempre diferente”, disse em relação ao adversário que ia encontrar na partida decisiva. “Espero que a experiência me possa ajudar, vamos ver como estará o Jannik. Tenho experiência. Vou dar o meu melhor, lutar com minha vida e vamos ver quem ganha”.

Depois de derrotar Zverev, Medvedev dirigiu algumas palavras para a bancada. Aparentemente, parecia estar a dizer “karma”, numa referência a declarações que Zverev tinha feito em relação à sua eliminação na primeira ronda da edição de 2023 de Roland Garros na série da Netflix, Break Point. Mais tarde, o russo desmentiu. “Não, não foi isso. Tentei não entrar no Twitter, mas entrei no Twitter e vi isso em todo o lado. Fiquei… Ó, meu Deus”, explicou. De qualquer modo, Medvedev sente-se confortável em jogos mentais como aquele em que quis entrar com Sinner, em 2021, nas ATP Finals, onde bocejou em frente ao italiano quando este celebrava.

Apesar de tudo, Medvedev foi o tenista que, na Rod Laver Arena, acordou mais cedo e quebrou Sinner logo ao terceiro jogo, confirmando o break com um impositivo jogo em branco. O número três do mundo não estava a ser penalizado pelos vários erros não forçados que cometia, porque, ao longo do primeiro set colocou 86% de primeiros serviços (19/22) e conquistou 84% desses pontos. O italiano, conhecido também pelas cenouras que come durante os jogos, tentou começar a mastigar mais o encontro, prolongar os pontos e esperar que russo vacilasse, algo que se verificou com menos frequência. Com três set points à disposição, Medvedev colocou-se em vantagem (3-6).

Sinner acabava de perder tantos jogos de serviço num set (dois) como em todo o caminho até à final (dois), num percurso em que, além de Djokovic, teve que eliminar nomes como Karen Khachanov e Andrey Rublev. Spoiler alert: o descalabro não ficou por aí. Apesar de, no segundo set, o break de Medvedev só ter aparecido ao quatro jogo, o domínio era vincado. Os jogos de serviço do carrasco de Nuno Borges terminavam num ápice e, em simultâneo, a luta que dava no serviço de Sinner tornava previsível o desfecho do parcial (3-6).

No entanto, na ponta final do segundo set, Sinner corrigiu alguns dos erros que vinha a cometer, tendo conseguido o seu primeiro break do encontro e ameaçado o segundo. Medvedev desperdiçou um set point com uma dupla falta e passou um período de instabilidade no serviço, mas, à segunda oportunidade que teve para fechar o parcial, não vacilou. O lado positivo foi o ressurgimento do número quatro do ranking que se galvanizou para fazer com que Medvedev pelo menos tivesse que olhar para os dois lados antes de atravessar a estrada que o separava do segundo Grand Slam da carreira.

A eficácia que Sinner começou a exibir ao nível dos primeiros serviços, inclusivamente conseguindo quatro ases, ainda não se tinha visto até ao terceiro set. Em simultâneo, também a resposta agressiva ao serviço do adversário esteve guardada até então. O facto de ter perdido um rally que em cada uma das 31 pancadas injetou mais entusiasmo na final, podia ter comprometido as aspirações de forçar um novo set, mas Medvedev acabou mesmo quebrado (6-4).

Depois de ter passado por uma fase em que a derrota parecia uma inevitabilidade, Sinner regressou do fundo da piscina, onde foi apanhar balanço para sobreviver, mais disponível e com hipóteses reais de levar as decisões até ao limite. Logo no início do quarto set, a raposa teve um break point que não aproveitou. Igualmente, no quarto jogo de serviço do italiano, Medvedev desperdiçou a oportunidade de se colocar em posição muito favorável para levantar o troféu numa fase em que, para si, servir uma segunda vez era praticamente sinónimo de perder o ponto. Porém, os momentos decisivos do quarto set foram copiados do terceiro (6-4).

Medvedev tornou-se no primeiro tenista de sempre a participar em quatro jogos decididos no quinto set. Num encontro que durava há mais de três horas, o último esforço foi o que contou. Sinner, mais fresco e com o break na mão, fez o 4-2, colocando-se em vantagem face a um Medvedev que tentava ao máximo atrasar o ritmo da partida. O italiano acabaria mesmo por fechar o encontro (6-3) e garantir o primeiro título do Grand Slam na primeira final que disputou.