Era uma sexta-feira de janeiro, igual a tantas outras, dois dias antes de um jogo da quarta eliminatória da Taça de Inglaterra contra o Norwich. E logo de manhã, sem que ninguém estivesse à espera, uma era acabou: Jürgen Klopp anunciou que vai sair do Liverpool no final da temporada, encerrando um legado de quase uma década que inclui a conquista da Premier League, da Liga dos Campeões e do Mundial de Clubes.

Nas redes sociais, precisamente o meio que o clube escolheu para partilhar o vídeo onde o treinador alemão anunciava e justificava pessoalmente a decisão, depressa surgiram milhares de reações de adeptos. Entre choque, tristeza, incompreensão e a sempre constante gratidão, os adeptos do Liverpool ouviram as palavras de Jürgen Klopp como um verdadeiro fim de capítulo. E responderam com um momento que vai ficar na história do clube.

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Em Anfield, à entrada para o tal jogo da Taça de Inglaterra contra o Norwich, as bancadas do estádio ergueram-se para uma ovação de pé ao treinador enquanto este caminhava para o banco de suplentes. Entre bandeiras, cachecóis e tarjas com a figura de Klopp, os adeptos soltaram um You’ll Never Walk Alone ainda mais emotivo e sonoro do que o habitual, com o alemão a ter muita dificuldade na hora de esconder as lágrimas que estavam claramente a querer aparecer.

As ondas de choque da saída de Jürgen Klopp vão prolongar-se até ao final da temporada, até porque o Liverpool está ainda a lutar pela Premier League, a Liga Europa, a Taça de Inglaterra e a Taça da Liga, mas o surpreendente anúncio já trouxe as naturais consequências. Desde logo, a busca por um sucessor — numa lista onde por agora o nome de Xabi Alonso surge praticamente sozinho, entre o facto de ter representado o Liverpool durante vários anos e a época impressionante que está a fazer no Bayer Leverkusen.

Ainda assim, foi através das palavras de Virgil van Dijk que o universo dos reds ficou a perceber que a saída de Jürgen Klopp, mais do que a saída de um treinador, pode mesmo significar o espoletar de uma autêntica revolução no clube. Depois da goleada contra o Norwich, que carimbou o apuramento do Liverpool para a quinta eliminatória da Taça, o central neerlandês não deu como garantida a manutenção em Anfield com a chegada de um novo timoneiro.

“Essa é uma grande questão. Bem, não sei. Não sei mesmo. O clube terá uma grande tarefa em mãos e todos sabemos disso. Substituir o treinador, substituir a equipa técnica… Muita coisa vai mudar. O clube tem mesmo uma grande tarefa em mãos e estou muito curioso para perceber que direção vão tomar. Quando tudo for anunciado terei de ver a minha situação. Não posso dizer nada agora”, atirou o capitão do Liverpool, que tem contrato até junho de 2025.

Mais à frente, Van Dijk não quis comentar a possibilidade de a escolha recair em Xabi Alonso, preferindo sublinhar que este é “o fim da era de Jürgen Klopp”. “Estou muito contente por continuar a fazer parte dela e é por isso que não quero falar muito sobre isto. Ainda faço parte desta era. Esse é o meu objetivo principal agora e, se tudo correr bem, no final da temporada teremos o sucesso com que todos sonhamos e por que lutamos todos os dias. Mas nessa altura já teremos mais certezas sobre aquilo que o clube quer para o futuro e aí veremos”, acrescentou.

Pelo meio, começam a surgir pormenores sobre os bastidores da decisão do treinador alemão. O primeiro a falar sobre o assunto foi Gary Lineker, que garantiu que os jogadores tiveram conhecimento da decisão na manhã em que o vídeo foi partilhado — ou seja, pouco antes de sócios, adeptos e o resto do mundo. “Acho que os donos já sabiam há algum tempo, mas parece-me claro, e sei disto de fonte segura, que os jogadores não souberam de nada até à manhã do anúncio. Suponho que quisessem guardar segredo”, indicou o antigo internacional inglês, numa linha de pensamento que foi corroborada por Alan Shearer.

Já Rafa Benítez, que treinou o Liverpool durante seis temporadas e conquistou uma Liga dos Campeões e uma Taça de Inglaterra, deixou a ideia de que pode existir um motivo que não o cansaço a ditar a saída de Klopp. “Tenho uma vantagem, que é o facto de conhecer muita gente em Liverpool e dentro do clube. Sei o que aconteceu, basicamente. Sei mais umas coisas de dentro, que têm mais mérito do que decidir ficar. Ele decide isto e dá tempo ao clube para se reorganizar. O que, se olharmos bem para as coisas, é muito alemão. Não foi um choque”, defendeu o treinador espanhol.

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