O Lyon é o oásis da igualdade de género do futebol. Num ambiente aparentemente só possível no plano dos sonhos, no clube francês, homens e mulheres têm as mesmas condições de trabalho e recebem bónus monetários iguais. Foi aliás assim que os bastidores da equipa foram pintados por Jéssica Silva, internacional portuguesa que experimentou aquela realidade entre 2019 e 2021.
“Uma das coisas mais bonitas que vivi, quando estive lá fora – lá fora, nisso, estamos mais à frente – ia almoçar à cantina do Lyon e os jogadores da equipa masculina estavam lá também. Sentavam-se ao meu lado e comíamos juntos, não havia diferença. Já por cá, uma colega minha de Seleção quis pedir uma foto com um colega da equipa masculina e havia uma barreira. Então, a fotografia ficou com ela de um lado e ele do outro. Com uma barreira ali no meio. Não faz sentido algum”, explicou a jogadora numa entrevista ao Observador em setembro.
Quando se voltar a encontrar com jogadoras que vivem de mãos dadas com a igualdade dia após dia, Jéssica Silva vai estar a vestir a camisola do Benfica, campeão nacional português que vai defrontar o Lyon numa inédita eliminatória dos quartos da Liga dos Campeões. O clube da Luz celebrou o apuramento histórico para a fase eliminar da prova, alcançado na quinta jornada, com um empate que deixou a Europa de queixo caído contras as campeãs europeias do Barcelona (4-4), com a vitória a raspar as mãos das encarnadas nos descontos. A ter o privilégio de ter uma panorâmica do futebol feminino a partir do topo, a equipa de Filipa Patão, depois do segundo lugar no grupo A (nove pontos), vai ter o equilíbrio testado por um furacão.
O sorteio da Liga dos Campeões ditou que o Lyon vai ser o adversário do Benfica nos quartos de final, ou seja, um clube cuja história na vertente remonta a 1970 contra outro que lançou as bases do projeto na época 2018/19. Apesar de, sob a designação de Olympique Lyon, a equipa só existir desde 2004, as raízes da equipa estabeleceram-se há 54 anos com a criação do FC Lyon. O futebol feminino ganhou impulso debaixo da gestão do carismático presidente Jean-Michel Aulas, que se comprometeu em oferecer condições dignas às jogadoras. A consequência foi o emblema francês ser, por larga margem, a equipa com mais Ligas dos Campeões conquistadas (oito), assim como de campeonatos franceses (22).
“É muito importante, especialmente para jogadoras de alto nível, que se esperamos muito delas, então também devemos dar muito. Nesse sentido, pode ajudar a fazer crescer o jogo, porque o investimento que se faz compensa dentro do campo e o futebol feminino é promovido através das suas conquistas”, explicou o ex-presidente Jean-Michel Aulas, numa entrevista ao The Guardian em dezembro de 2020.
O Benfica e o Lyon defrontraram-se na fase de grupos Liga dos Campeões de 2020/21, sendo que as encarnadas perderam ambos os encontros por 5-0. Nessa temporada, as francesas acabariam por conquistar o troféu, que, desde então, não mais voltaram a erguer. Na temporada passada, a equipa treinada pela lusodescendente Sonia Bompastor foi eliminada nas grandes penalidades, contra o Chelsea, nos quartos.
Norueguesa Ada Hegerberg eleita melhor futebolista na Europa
Nos seus quadros, o Lyon conta com Ada Hegerberg, a primeira mulher a vencer uma Bola de Ouro em 2018. A internacional norueguesa leva 16 golos em 18 jogos esta temporada. O plantel das bicampeãs gaulesas conta com o núcleo duro da seleção de França. Wendie Renard, Eugénie Le Sommer, Kadidiatou Diani, Vicki Becho ou Selma Bacha são nomes às ordens de Sonia Bompastor e que ajudaram à obtenção do primeiro lugar do grupo B, onde também estavam Brann, Slavia Praga e SKN St. Pölten.