Ambos em busca de um eleitorado de direita que não se revê na Aliança Democrática, André Ventura e Rui Rocha enfrentaram-se sem tréguas, com o líder do Chega a procurar colar a Iniciativa Liberal aos ricos e à ideia de que está “desligada do país real” e com Rui Rocha a retribuir, acusando o adversário de ser “socialista, estatista” e de querer “andar nos carrosséis todos”.

O debate até arrancou num tema em que Chega e IL se entendem — a descida de impostos —, mas Ventura não perdeu tempo e começou a aproveitar todas as brechas para picar Rui Rocha. Primeiro, criticou o líder da Iniciativa Liberal por não ter conseguido explicar perante Pedro Nuno Santos que benefícios traz a redução dos impostos para os portugueses e depois iniciou uma narrativa a que voltaria mais tarde ao referir que a IL apenas pretende “privatizar e despedir”.

Rui Rocha não se ficou e criticou as injeções de capital público em empresas como a TAP, um assunto que serviu de arma de arremesso, já que é uma “coisa com a qual André Ventura concorda”. O líder do Chega argumentou que a TAP é “estratégica” para o país e que há premissas das quais o Chega não abdicaria em caso de privatização, desde logo a permanência do hub de Lisboa. Mas a companhia aérea foi a desculpa certa para Ventura destapar um ataque que já tinha ensaiado: “A IL conhece só duas palavras: privatizar e despedir, independentemente dos efeitos que haja.”

O presidente liberal trazia para a troca e desvendou o trunfo do socialismo. Dando o exemplo de várias medidas do Chega em que há pontos de contacto com o PS, incluindo o aumento do Salário Mínimo Nacional para 1000 euros e o aumento das pensões para o salário mínimo (medida que custaria 9 mil milhões de euros), Rui Rocha foi perentório: “Isto é socialismo.” Defendeu que “às vezes” quando se fala com Ventura mais parece que se está a falar com Pedro Nuno Santos, assegurou que o Chega pretende em diversas medidas é “impossível”, acusou Ventura de querer “enganar idosos” e concluiu que “em democracia não vale tudo“.

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E, perante o ataque, André Ventura provou Rui Rocha para dizer que a IL está “completamente desligada do país real”. Assegurou que as medidas em causa não são “socialismo“, mas sim “ter consciência social do país” e, mais uma vez sem especificar, justificou apenas que a fiscalização será a chave para travar a corrupção e a economia paralela que, aos olhos do Chega, pagam as medidas mais ambiciosas do programa eleitoral.

Para Rui Rocha, “André Ventura parece uma criança que quer andar nos carrosséis todos” porque quer “aumentar tudo e todos”, mas também “baixar impostos, sem qualquer critério. “É uma enorme aldrabice“, atirou, já com o debate a aquecer cada vez mais e a levar André Ventura a concluir que a IL “não é o partido dos portugueses”, mas o “partido dos ricos”.

Chegado o tema da governabilidade, Rui Rocha aproveitou para desafiar André Ventura a comprometer-se com uma luz verde para um governo da Aliança Democrática e Iniciativa Liberal. “Cabe ao Chega e ao PS decidirem se viabilizam esta solução ou se a viabilizam. André Ventura não tem sido claro sobre esta matéria”, apontou o líder liberal, o que levou André Ventura a sublinhar que “um partido que está com 4 ou 5% [nas sondagens] não impõe linhas vermelhas” por uma “questão de humildade“.

E explicou que “sempre disse que haveria acordo de governo ou não haveria” essa solução, apontando para temas indispensáveis como o combate à corrupção a sério, a imigração ilegal e descida de impostos. E já depois de várias farpas de Rui Rocha, André Ventura seguiu para o ataque: “Já percebi que IL está doidinha para se meter na cama com o PSD ou com qualquer partido que dê.”

O líder liberal ainda teria tempo para sublinhar (mais uma vez) que a IL não se entende com “partidos socialistas e estatistas” e que não alinhará com o Chega em qualquer circunstância.

O diálogo mais revelador

Rui Rocha: André Ventura parece uma daquelas crianças que vai para um parque de diversões, vê os carrosséis e quer andar em todos. E por isso é que digo que é socialismo, quer aumentar tudo e todos, sem critério, é baixar impostos e aumentar pensões, não é o mundo real. André Ventura tem de ser chamado à realidade, tudo isto é uma enorme aldrabice.

André Ventura: A IL está confortável com pessoas a ganhar 800 euros e pensionistas a ganhar 200 e 300 euros. (…) Há dias em que me pergunto qual é o vosso país. Vocês querem viver num mundo abstrato em que as pessoas vivem na miséria. Vocês não são o partido dos portugueses, vocês são o partido dos grandes grupos económicos, vocês são o partido dos ricos.