O primeiro frente-a-frente televisivo para as legislativas opôs Pedro Nuno Santos, do PS, a Rui Rocha, da IL, e também opôs um “país fantástico” a um mundo “mágico”. A ideia de irrealismo foi arremessada de ambos os lados, com o socialista a atirar às propostas fiscais da IL e do “rombo” que vão provocar nas contas públicas e o liberal a expor os problemas que oito anos de PS no poder não conseguiram resolver nos serviços públicos.

A maior picardia entre os dois foi em matéria fiscal, com Pedro Nuno Santos a trazer um número estudado, com contas feitas às propostas de redução fiscal (em IRS e IRC) que a IL inscreveu no programa eleitoral. Serão 9 mil milhões de euros por ano: “Só no IRS são 3.500 milhões e no IRC são entre 1.500 e 2 mil milhões. É uma brutalidade”, afirmou o socialista que insistiu durante toda esta parte do debate que o que a IL quer verdadeiramente é “cortar no Estado social” com a redução de receita do Estado que as suas medidas fiscais implicariam.

Rui Rocha  foi sempre garantindo que os números trazidos pelo líder socialista eram “errados”, contrapondo com a conta da IL: entre quatro a cinco mil milhões de euros. Aproveitou o tema para trazer ideologia para cima da mesa do debate e acusar o PS de achar “que o Governo deve dirigir a economia e que Pedro Nuno Santos deve dirigir o Governo.” Para o líder da IL, o que é preciso é “aliviar famílias”, argumentou, apontando “a taxa que a IL propõe” como um “sistema progressivo que se baseia em isenções até ao salário mínimo nacional”.

Mas longe de convencer Pedro Nuno, que foi colando à IL medidas que “ficam bem nos cartazes” mas que não passam de “magia fiscal”. Acusou mesmo o partido de Rui Rocha de pensar que faz “uma redução drástica de impostos e a economia vai começar a florescer”, considerando esta uma “redução aventureira dos impostos em Portugal que não vai transformar a economia, vai antes provocar um rombo nas contas públicas que dificilmente será compensado”.

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Rui Rocha atirava do outro lado que Pedro Nuno Santos apresentava “a ideia de país fantástico”. E contrapunha à acusação de radicalismo dos liberais, outra espécie de radicalismo que toca diretamente no nervo socialista: “Radical é ter idosos em centros de saúde pela noite dentro deitados em mantas à espera para marcar consulta e grávidas a bater à porta de urgências fechadas”.

Pedro Nuno ainda assumiu os problemas no SNS — ainda que pelo meio tenha deixado uma pergunta no ar: “Mas o que é que não funciona?” — e argumentou com mais cirurgias e mais consultas que este Governo conseguiu. E também ainda tentou defender que o problema é que esta “é uma sociedade que está a envelhecer e consome mais recursos” na saúde. Mas Rui Rocha já não largou a arma, apontando um “PS esgotado nas soluções” e defendendo o recurso aos privados no SNS.

A questão ainda pôs Pedro Nuno Santos a jurar que as Parcerias Público-Privadas na Saúde — a que a geringonça pôs fim — não são afinal “dogma nenhum” e que “se se entender que é uma melhor solução” o seu PS não terá “nenhum problema com isso”. “Hoje existe complementaridade”, ia garantindo Pedro Nuno que acusava a IL de “desistir do SNS”.

No final ainda houve tempo para uma questão sobre o problema da habitação, uma área que Pedro Nuno tutelou no Governo mas em que não conseguiu mais do que falar nas “respostas” que foram dadas e como “elas ainda não estão na sua plenitude a responder às necessidades enormes” das pessoas. E o seu tempo acabou em plena admissão de culpa, sem haver possibilidade de completar o raciocínio. Rui Rocha teria a palavra final  para afirmar que “Pedro Nuno Santos foi incompetente e falhou na habitação, foi incompetente na ferrovia, foi incompetente e falhou na TAP, prometeu que devolveria 3,2 mil milhões de euros e nem um cêntimo foi devolvido.”

Os dois ainda falaram dos Açores, mas logo no arranque do debate. Pedro Nuno não adiantou nada sobre o que deverá o PS na região fazer ao programa de Governo da AD que terá de votar na Assembleia Legislativas. Diz que a decisão que for tomada pelo partido na região terá “todo” o seu apoio. Já Rui Rocha negou existir qualquer derrota na região já que a IL “continua presente na assembleia dos Açores”.

Mesmo antes disto, no primeiro minuto do debate, Pedro Nuno desviara da questão sobre os Açores para tentar explicar-se nos casos que surgiram sobre o IMI baixo que lhe foi cobrado por uma casa em Montemor-o-Novo e as ajudas de custo no Parlamento por ter morado em Aveiro durante um período como deputado. Garantiu ser “sério” e também “na relação com os adversário políticos”. Tentou responsabilizar a IL por “aproveitar” essas “notícias insidiosas”, mas Rui Rocha não enfiou a carapuça.

O diálogo mais revelador

Pedro Nuno Santos — A IL tem como única resposta uma redução radical e aventureira dos impostos em Portugal que, na realidade, não vão transformar a economia, apenas vão provocar um rombo nas contas públicas que dificilmente será compensado. Eu não sei, aliás, se Rui Rocha tem noção ou sabe qual é o custo das medidas fiscais que apresenta no seu programa e que é, de facto, assustador.

Rui Rocha — Aventureiro é quem insiste em situações, medidas e programas que são iguais aos que nos trouxeram à situação atual. Não sei se Pedro Nuno Santos sabe qual é a taxa de desemprego atual dos jovens, provavelmente não faz ideia, mas vou-lhe dizer, é de 23,5%, portanto temos uma situação insustentável, um em cada três jovens já emigraram e, dos que ficaram, um em cada quatro está desempregado, dos que estão a trabalhar o salário médio bruto deve estar abaixo dos 1100 euros e é disto que estamos a falar. Mais do mesmo não vai resolver nenhum dos problemas.