O memorando de entendimento para a venda dos títulos do Jornal de Notícias, Jogo e TSF a um grupo de empresários foi assinado esta terça-feira com os acionistas da Global Media, confirmaram ao Observador várias fontes com conhecimento da transação. A assinatura feita de modo digital foi acompanhada da transferência de 1,5 milhões de euros para o pagamento dos salários de janeiro aos mais de 500 trabalhadores do grupo, segundo as fontes ouvidas pelo Observador. O memorando só é válido quando o dinheiro der entrada na Global Media, uma vez que são necessários procedimentos de compliance, mas não se esperam percalços.

Este acordo de princípio envolveu os acionistas Marco Galinha, Kevin Ho, Mendes Ferreira e José Pedro Soeiro da parte da Global Notícias, mas não o fundo das Bahamas cuja titularidade das ações está a ser questionada em tribunal e alvo de um procedimento por parte do regulador ERC. Do lado comprador está Diogo Freitas da Office Food Brands, acompanhado de empresários ligados à distribuição de tabaco que já foram sócios de Marco Galinha no negócio dos media, através das empresas Ilíria e Parsoc. O Observador contactou o grupo de Marco Galinha (o Grupo Bel) e Diogo Freitas, mas não houve confirmação oficial deste acordo que tem uma cláusula de confidencialidade.

A assinatura do memorando de entendimento, noticiada pelo Expresso e confirmada pelo Observador, surge no mesmo dia em que um dos acionistas da Global Media fez declarações a apontar no sentido contrário.

Segundo o empresário macaense Kevin Ho, a solução para o grupo de media ainda estava longe.  “Estivemos muito perto de assinar um memorando de entendimento, mas ainda estamos longe de um acordo”, afirmou o empresário aos jornalistas em Macau. Sexta-feira tinha sido anunciado um acordo de princípio pelo empresário que lidera o grupo de investidores do Norte, Diogo Freitas, que envolvia igualmente o adiantamento de 1,5 milhões de euros por parte dos novos acionistas para assegurar o pagamento dos salários.

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Empresários do norte chegam a acordo de princípio para comprar JN, Jogo e TSF à Global Media

A formalização estava prevista para a esta semana, mas entretanto os acionistas da Global Media, Marco Galinha e Kevin Ho, vieram a público indicar que havia outras opções em cima da mesa.. “Há muitas diferentes opções em cima da mesa” que serão discutidas “ao longo das próximas semanas”. Nas declarações citadas pela agência Lusa, Ho remeteu para o dia de amanhã (quarta-feira) quando questionado sobre o anunciado pagamento de salários a 7 de fevereiro.

No dia anterior, foi a vez de Marco Galinha a sinalizar a receção de várias propostas de compra do grupo e de títulos específicos, numa entrevista ao Público. Apesar das ofertas mais “lucrativas e interessantes” virem do estrangeiro, o empresário que tem sido o porta-voz dos atuais acionistas da Global Media dizia que a solução apresentada por um grupo de empresários do norte era aquela para a qual “mais se inclinavam os acionistas” por ser a que trazia mais “paz social e mais valor ao grupo”. É uma referência à proposta dos empresários liderados por Diogo Freitas a qual prevê igualmente a criação de uma cooperativa de jornalistas (trabalhadores do grupo) que entraria como acionista.

Marco Galinha também bateu na tecla das várias possibilidades. “Nenhuma está fechada, há apenas entendimentos”. Tendo inclusive referido um cenário de entrada direta destes novos investidores na Global Media quando a intenção revelada na sexta-feira era a de comprar os títulos JN, Jogo e TDF, deixando de fora o Diário de Notícias.

Um dos pressupostos para entendimento é o que vai acontecer à posição do fundo com sede nas Bahamas, o Word Opportunity Fund (WOF) que indiretamente é o maior acionista da Global Media desde setembro, mas que se tem recusado colocar fundos para cumprimento das obrigações financeiras. O acordo dependeria deste acionista, ou da sua saída. Marco Galinha adiantou ao Público esperar uma proposta do WOF para uma solução de saída do capital da Global Media de forma a evitar a via judicial.

O dono do grupo Bel que foi o responsável pela venda da posição de controlo na Global Media ao fundo das Bahamas descreve uma “situação é caótica”. E ao mesmo tempo que reconhece que lhe compete a si, como empresário, “conseguir a melhor solução para a Global Media e para os jornalistas”, admitindo ficar como acionista no novo projeto. Kevin Ho também sinalizou a intenção dos atuais acionistas de ficarem envolvidos “fortemente” nas marcas do grupo.

Para a clarificação da situação falta também a decisão da ERC relativa aos dois procedimentos abertos ao grupo Global Media. Um ao abrigo da lei da transparência da propriedade dos media para averiguar quem são os beneficiários últimos do fundo e se terão 5% ou mais do capital da Global Media e outro sobre o cumprimento da linha editorial da TSF prevista na licença de rádio. Há duas semanas que a ERC recebeu as respostas dadas ao abrigo destes procedimentos e ainda não divulgou uma deliberação sobre o tema.  Questionada esta terça-feira pelo Observador, fonte oficial do regulador indicou que não há novidades sobre este tema.

ERC recebeu “respostas de vários acionistas da Global Media” que ainda está a analisar