Há quase 14 anos, Adam Neumann cofundou a WeWork. Ocupou o cargo de CEO até setembro de 2019, quando uma tentativa falhada de entrar em bolsa o levou a abdicar do cargo e do controlo maioritário da empresa que aluga espaços de cowork. A startup, que chegou a ser considerada uma das mais valiosas dos Estados Unidos, declarou falência nesse mercado e no canadiano em novembro do ano passado e sabe-se agora que o polémico ex-líder tem manifestado intenção de comprar o negócio.
Uma carta enviada pelos advogados de Adam Neumann a consultores da WeWork mostra que a sua nova startup, que opera no setor imobiliário, a Flow Global, tentou negociar a compra da empresa, ou dos seus ativos, ou o financiamento de 200 milhões de dólares, no âmbito da falência, para a manter em funcionamento. Desde dezembro que os interessados têm tentado obter “as informações necessárias” para o que “se pretende que seja uma transação de maximização de valor para todas as partes”, segundo o documento que foi divulgado em exclusivo pelo The New York Times esta terça-feira.
Os advogados de Adam Neumann, incluindo Alex Spiro (que também representa nomes como Elon Musk ou Jay-Z), acusam a WeWork de “falta de envolvimento” e de estar a tentar bloquear o potencial negócio, uma vez que, escrevem, não tem fornecido as informações que são necessárias para avançar. Na carta é também indicado que o Third Point, fundo de investimento de risco (hedge fund) do investidor e gestor Dan Loeb, seria uma “das fontes de capital bem conhecidas” a estar envolvido e interessado na compra.
Contudo, em declarações à CNBC, o Third Point disse não se ter comprometido com qualquer financiamento e ter tido apenas “conversas preliminares com a Flow e Adam Neumann sobre as suas ideias para a WeWork”.
Além disso, a carta enviada à WeWork alega que o interesse de Adam Neumann na empresa é antigo, uma vez que em outubro de 2022 tentou obter um “financiamento de até mil milhões de dólares” para a “estabilizar”, numa altura em que já apresentava dificuldades financeiras. O processo terá sido encerrado “sem explicação” por parte de Sandeep Mathrani, que à época ocupava o cargo de CEO da empresa que aluga espaços de cowork e que está presente em Portugal.
Num mundo de trabalho híbrido onde a procura” pelos escritórios da WeWork deveria “ser maior do que nunca”, a Flow Global e Adam Neumann acreditam que “as sinergias e a experiência de gestão oferecidas por uma aquisição” poderiam “exceder significativamente o valor dos devedores numa base autónoma”.
Numa nota enviada à CNBC, a WeWork responde à carta sinalizando que quer continuar a operar de forma independente, apesar das dificuldades que levaram à falência. “A WeWork é uma empresa extraordinária. Como tal, recebemos regularmente manifestações de interesse de entidades externas. Nós e os nossos consultores analisamos sempre essas abordagens” com o objetivo de assegurar “os melhores interesses da empresa”.
“Continuamos a acreditar que o trabalho que estamos a fazer atualmente — resolver o problema das nossas despesas de aluguer insustentáveis e reestruturar a nossa atividade — garantirá que a WeWork vai estar mais bem posicionada como uma empresa independente, valiosa, financeiramente forte e sustentável no futuro”, disse um porta-voz da startup, que há cerca de três meses entrou com um pedido de insolvência nos EUA e no Canadá para negociar com os credores uma “redução significativa” da sua dívida.
As filiais fora dos mercados norte-americano e canadiano não foram afetadas pelo processo e as operações em Portugal, onde tem um escritório em Lisboa, continuam. A declaração de falência, feita em novembro, chegou cerca de três meses depois de a empresa ter dito que existiam “dúvidas substanciais” acerca do seu futuro.