O sargento da GNR em greve de fome à porta da Câmara do Porto desde a manhã de terça-feira disse esta quarta-feira à Lusa que manterá o jejum até que a sua saúde o permita.

Atualmente colocado no Pelotão de Apoio de Serviços, o sargento Josias Alves, 44 anos, do Marco de Canavezes, pretende com a sua decisão “alertar” a sociedade civil para o “desespero” dos militares da GNR, da PSP e da Guarda Prisional.

“O desespero a que chegámos, em virtude de um sem número de situações que prejudicam a mim e a camaradas e amigos da GNR e agentes da PSP e da Guarda Prisional, levou a que optasse por esta forma de luta”, disse.

O objectivo deste protesto é não só conseguir ordenados correspondentes à condição socioprofissional, mas também para protestar contra “as pressões e perseguições” de que alegadamente têm sido vítimas, disse o militar da GNR, que passou a sua primeira noite da greve de fome numa pequena tenda de campismo, montada em frente à Câmara do Porto.

“É óbvio que estou aqui por minha demanda, mas também por todos eles e a forma como eles foram perseguidos”, afirmou, manifestando solidariedade com o tenente Afonso Viana que, na segunda-feira, foi chamado a explicar as baixas médicas que haviam sido colocadas pelos seus militares e ainda com o presidente do Sindicato Nacional da Polícia, Armando Ferreira, cujas declarações sobre uma hipotética inviabilização do ato eleitoral de 10 de março motivaram uma participação do ministro José Luís Carneiro à Inspecção Geral da Administração Interna.

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Manifestou-se ainda “solidário com o colega Pedro Costa”, o polícia que presta serviço no Aeroporto de Lisboa e que, há cerca de um mês, iniciou sozinho um protesto em frente à Assembleia da República e originou um movimento que se alargou ao resto do país.

Sobre o elevado número de baixas médicas apresentadas pelas forças de segurança, o sargento da GNR considerou que as mesmas se justificam por terem “uma profissão de stress elevado, que leva a que os militares da GNR, a PSP e o Corpo de Guarda Prisional atinjam situações de ‘burnout'”.

“O desespero é de tal forma grande, não só comigo, mas também com outras forças policiais, que a única forma que eu concebi para lutar contra o sistema foi exactamente esta”, acrescentou.

Frisou ganhar “muito menos do que aquilo que diz o senhor ministro” da Administração Interna.

O sargento, que chegou a comandar o Posto Territorial da GNR de Aveiro, Cacia, Vila Meã e de Alpendorada e a ser coordenador da Proteção Civil de Marco de Canaveses, defende a necessidade de existir hierarquia, que julga “absolutamente necessária”, mas assume ser contra a utilização da “repressão” e da “pressão tirânica” para com aqueles que lutam pelos seus direitos.

Josias Alves, que está agora colocado no Pelotão de Apoio de Serviços, diz também não querer fazer daquela ação “uma luta pessoal”, referindo que há “muitos outros” profissionais “que permanecem sob o anonimato, em virtude de não quererem ser ainda mais prejudicados do que já foram.”

Em agosto de 2015, Josias Alves foi notícia por ter evitado que uma mulher, de 35 anos, morresse afogada na barragem do Torrão, no rio Tâmega.

Josias Alves é mestre em Criminologia pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Fernando Pessoa (2019).