É muito mais o que separa a Iniciativa Liberal do PAN do que aquilo que os une. No frente a frente entre Rui Rocha e Inês Sousa Real, houve espaço para discordarem de tudo, do ambiente aos impostos, mas mesmo ao cair do pano surgiu um tema em que pensam da mesma forma: a recuperação do tempo de serviço dos professores.
Ainda o cronómetro do debate não tinha avançado mais do que uns segundos e já Inês Sousa Real lançava um rol de ataques a Rui Rocha: a IL não está ao lado dos agricultores, não está ao lado das famílias e está ao lado da banca. O presidente liberal, questionado sobre a “designação de emergência climática”, assegura que “a IL não participa” dessa ideia caso seja utilizada para “legitimar visões proibicionistas”. Ainda assim, está de acordo caso esta seja usada para o “progresso e desenvolvimento sustentável”.
O tema acabou por levar Sousa Real a interromper Rocha com a acusação de que a IL pretende construir uma central nuclear. O presidente dos liberais respondeu que a possibilidade não está excluída e que — apesar das “ótimas condições para a energia renovável” em Portugal — é necessário uma “energia de base porque energias limpas nem sempre estão disponíveis”. Opinião oposta tem Sousa Real, que considera que a energia nuclear “não funciona” num país como Portugal. Mais: disse que é “leviano” estar a “apostar numa produção muito mais cara, quando podemos apostar nos painéis fotovoltaicos, por exemplo”.
Virada a agulha para os impostos — um caso em que o entendimento entre ambos é nulo —, Rocha insiste que é preciso um “esforço de redução de impostos” para que os jovens não emigrem, mas também que a isto se some salários mais elevados, habitação, incentivos à natalidade e saúde. O presidente liberal questionou diversas vezes Sousa Real sobre as soluções do PAN para a subida do salário médio, acusou a adversária de nunca concretizar e a líder do partido ambientalista acabou por se focar no ataque à taxa única de IRS que é bandeira da IL.
Aos olhos de Sousa Real, a taxa é “injusta porque vai dizer a um jovem que quer comprar casa que não o pode fazer e que alguém rico pode comprar um apartamento de milhões”, mas o tema também serviu para se atirar a Rui Rocha, dizendo que, ao contrário do PAN, “a progressividade não entra no léxico” dos liberais, e acusando de a IL ter tentado alterar a Constituição para fazer essa proposta. “Isso é falso”, rebateu Rui Rocha, com Sousa Real a entrar na campanha dos carrosséis: “No país da IL o bilhete para o parque de diversões não está ao acesso de todos.” Que chegou a referir-se à ideia de que a IL apenas traz “ilusão liberal”.
Seguia-se o momento que Rui Rocha usava o trunfo que trazia na manga e que já tinha usado contra Rui Tavares: “A Inês Sousa Real viabilizou todos os Orçamentos de Estado do PS, que trouxeram aumentos de carga fiscal.” A tentativa de colagem do PAN a António Costa serviria de arma de arremesso e daria uma saída a Rocha: o que Sousa Real diz é uma “mensagem clara para os jovens, que vão continuar a pagar impostos sob salários baixos desde muito cedo”.
Já no final do debate, Rui Rocha iria achar uma ideia de Inês Sousa Real “sensata”: esperar por mais informações para perceber o que deve ser feito no caso da reposição do tempo de serviço dos professores.
O diálogo mais revelador
Inês Sousa Real: No país da IL o bilhete para o parque de diversões não está ao acesso de todos e é aqui que o Estado social tem de intervir porque o liberalismo põe em causa o Estado social de direitos. A taxa única é injusta porque vai dizer a um jovem que não consegue comprar casa em Lisboa ou no Porto que não tem direito a comprar casa própria e um estrangeiro que tem um milhão de euros para dar por um T0 já pode vir morar para Lisboa.
Rui Rocha: Por amor de Deus, por amor de Deus.
Inês Sousa Real: Taxa absolutamente injusta que partiu dos países de leste da Europa porque quando se abandonou o comunismo tinha de se criar esta taxa e o que o PAN defende é que haja uma progressividade, algo que não entra no léxico da IL, aliás, quiseram alterar isso aquando da revisão da Constituição por saberem que é uma medida contrária à própria Constituição.
Rui Rocha: Isso é falso, Inês. Não quisemos mudar nada mudar nada na Constituição relativamente à progressividade do imposto.