Inês Sousa Real entrou no frente a frente com Luís Montenegro (SIC) disposta a tentar embaraçar o líder social-democrata com um dos parceiros que escolheu para fazer parte da Aliança Democrática: Gonçalo da Câmara Pereira. Referindo-se às declarações do líder do PPM sobre mulheres, a porta-voz do PAN abriu o debate acusando a coligação liderada pelo PSD de trazer valores “ultrapassados” e sinais “muito negativos” para a sociedade.

As declarações em causa – segundo chegou a confirmar Sousa Real ao Polígrafo – foram proferidas no contexto do programa de entretenimento “Você na TV”, emitido na TVI, a 24 de outubro de 2017. Estava a ser comentada a decisão do juiz Neto de Moura de não agravar a pena num caso de violência doméstica por se tratar de uma “mulher adúltera”, tendo citado a Bíblia e o Código Penal de 1886 para fundamentar tal deliberação. Nesse programa de entretenimento, Câmara Pereira considerou que “o juiz tem toda a razão” porque “ela pôs os palitos [ao marido]”. “Então mamou-as.”

Na resposta a Sousa Real, Montenegro puxou o tapete a Câmara Pereira para tentar defender a AD. “É completamente abusivo querer transformar para a AD um acontecimento que é lamentável, com o qual não tenho nenhuma complacência. Não me revejo, lamento e acredito que o próprio se sente arrependido”, diz Montenegro.” Ainda assim, o líder social-democrata não respondeu se manteria ou não a coligação se conhecesse previamente as declarações de Câmara Pereira.

A porta-voz do PAN não recuou e acusou o PSD de se ter rodeado de dois partidos — CDS e PPM — de representaram “retrocessos nos direitos reprodutivos das mulheres”. Perante os protestos de Montenegro, Sousa Real acusou o líder social-democrata de estar a “atropelar a voz das mulheres”. “Sou mulher e sei o que sofro no dia a dia”, lamentou Sousa Real. Ao mesmo tempo, a líder do PAN estou a crítica ao programa da Aliança Democrática em matéria de defesa dos direitos dos animais, voltando a estender a crítica a Nuno Melo e a Câmara Pereira. “[Montenegro] senta-se ao lado de pessoas que defendem regressões anacrónicas, como a defesa das touradas”

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“Está a ver um conjunto de perigos que não existem. Não existe nenhuma desvalorização da condição de mulher”, devolveu Montenegro, dando como exemplos as propostas da Aliança Democrática em matéria da saúde materna. Sobre as críticas às ideias da AD em matéria de proteção animal, Montenegro puxa do legado do PSD para responder à adversária. “Não posso aceitar que coloque em causa a participação do PSD nas políticas de defesa dos animais”, disse, lembrando o social-democrata António Maria Pereira, considerado o “pai dos direitos animais”.

Foi nesse momento que se deu o momento mais quente do frente a frente. Enquanto Sousa Real defendia o papel do PAN em relação à proteção dos direitos dos animais, voltando a dirigir críticas a Montenegro, o social-democrata tentou interromper a adversária, que se queixou de a AD estar “a roubar a palavra às mulheres”. “Não lhe fica bem invocar a sua condição de mulher para se vitimizar”, insurgiu-se Montenegro.

Mais à frente, o social-democrata acusaria a porta-voz de estar particularmente reativa no debate depois dos renovados apelos ao voto útil de Pedro Nuno Santos, sugerindo que o PAN ainda tinha de “correr” muito para se aproximar do legado do PSD em matéria de defesa do meio ambiente. Na resposta, Sousa Real acusou o líder da Aliança Democrática de se ter agora rodeado de “negacionistas”.

À medida que Sousa Real enumerava as várias conquistas do PAN no Parlamento, Montenegro usou o “magistério de influência” que o PAN diz ter tido na governação socialista para acusar Inês Sousa Real de ter sido corresponsável pelos problemas na Saúde, na Educação ou na Habitação. “Inês está-se a vangloriar de ter conseguido conquistar alguns dos seus objetivos. Agora, querer assumir-se parceira do PS implica que assume todo o legado da governação”, atirou.

Ficaram ainda duas notas deste debate: Montenegro voltou a não se comprometer com medidas concretas para a revisão das carreiras das forças de segurança, forças armadas e bombeiros, argumentando que este não era o momento, e não disse se fará ou não a revisão da lei da despenalização da morte medicamente assistida, dizendo que vai esperar pela decisão do Tribunal Constitucional. Recorde-se que o PSD pediu a fiscalização sucessiva da eutanásia — um processo que pode demorar anos.

O diálogo mais revelador

Inês Sousa Real: “Não podemos aceitar que uma AD traga valores ultrapassados. É um sinal muito negativo para a nossa sociedade”

Luís Montenegro: “Está a ver um conjunto de perigos que não existem. Não existe nenhuma desvalorização da condição de mulher”

Inês Sousa Real: “[Depois de ser interrompida por Luís Montenegro] é mais uma vez a AD a roubar a palavra às mulheres”

Luís Montenegro: “Não lhe fica bem invocar a sua condição de mulher para se vitimizar”