Pedro Nuno Santos foi para a conversa no “Alta Definição”, na SIC, com o conselho da mulher para “não se colocar na defensiva, já bastam as outras” entrevistas e para “se abrir e estar à vontade”. E o líder socialista apareceu num registo quase exclusivamente pessoal onde chorou diversas vezes — sobretudo ao falar na mãe e no filho — e assumiu problemas pessoais, nomeadamente o “terror” do ano de 2022, em que perdeu um filho. Também confessou que não vê comentário político porque lhe provoca “ansiedade” e porque começa “a discutir com os comentadores a partir de casa”.

É incomum um político abrir esta porta, mas o socialista falou publicamente nas dificuldades pessoais do ano de 2022, aquele em que ficou em causa no Governo por causa da localização do aeroporto de Lisboa. “2022 foi um ano negro e duro para mim e também para a Catarina [a mulher] e não foi por causa da TAP”, referiu tocando também nesse dossiê polémico que estava a gerir também nessa altura. “Havia projetos de vida que não conseguimos e que foram muito duros”, explicou na entrevista: “Nem sempre conseguimos aquilo que desejamos. Queríamos uma família maior e nunca conseguimos.”

Pedro Nuno Santos diz que o assunto deixou “marcas” e sem usar as palavras diretamente explicou, emocionado, que foi um ano de “altos e baixos”, em que, em família, tiveram “uma grande alegria e depois uma desilusão” e que foi “muito desafiante” manter a vida pública nessa altura. “As coisas marcam-nos, nós não somos indiferentes e elas são duras.”

“Um político é um ser humano”, diz a dada altura da conversa, defendendo que cada vez mais os políticos “assumam vulnerabilidades”. “Queremos tanto parecer perfeitos que deixamos de parecer humanos. Às tantas já não somos um ser humano, mas um boneco artificial”. Explicou também que manterá a família “afastada da campanha” porque “não são um instrumento de campanha”.

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Sobre a carreira política e como faz essa gestão, Pedro Nuno volta a negar uma personalidade impulsiva, sobretudo quando lhe falam no episódio do novo aeroporto: “Qual impulsividade? Naquela altura já tinham sido estudadas 17 localizações”. “Tenho uma forma apaixonada de defender aquilo em que acredito, mas isso não é ser impulsivo”, garante. Ainda assim, não vê comentário televisivo porque acaba a discutir com os comentadores e pede à assessora que lhe envie apenas pouca coisa.

Tem o kickboxing, que pratica, em suspenso por causa da campanha, mas contou que tem importância na sua vida e que o próprio primeiro-ministro António Costa, quando havia uma reunião em que Pedro Nuno aparecia “mais exaltado, dizia que esta semana não devia ter praticado boxe.”

Também disse que já aderiu às mensagens temporárias de Whatsapp, uma rede social polémica na sua vida política, tendo em conta que foi por lá que autorizou — e nunca mais se lembrou — a indemnização paga a Alexandra Reis, depois da saída da gestora da TAP — que tutelava enquanto ministro nessa altura.

Sobre esses casos mais problemáticos da sua passagem pelo Governo, acredita que se “aprende mais quando se caiu do que quando se é celebrado”, também diz que o “orgulho ferido fica lá. Temos de fazer um trabalho para aprender a lidar e seguir. Tem é de doer menos”, referiu na mesma entrevista. Coloca a TAP como um dos mais marcantes, mas também as notícias que envolveram o negócio do seu pai.

“Conheço muitos políticos que quase não cometeram erros. Não mexeram águas, não fizeram ondas. Mas as coisas têm de ser feitas têm de avançar”, diz defendendo a sua linha. Acredita que a “descrença” nos políticos se combate “resolvendo os problemas das pessoas” e queixa-se de uma “política muito agressiva. Deixámo-nos de nos focar no debate político e estamos sempre a atacar o outro, o que é insuportável, é o pior da política e quero contraria isso”

Sobre as eleições e a noite eleitoral em particular, diz que não vai levar dois discursos preparados, um de vitória e outro de derrota. “Só farei o discurso, quando perceber o que aconteceu”. E acabou a conversa a responder à pergunta da praxe — “o que dizem os seus olhos” — com um “que sou feliz” Ainda que estivesse em lágrimas: “Não devia ter seguido o conselho da Catarina.”