Depois de um ato mediático falhado com Ventura (a quem propôs um contrato à Feijóo), Rui Rocha voltou colocar um documento em cima da mesa num debate: uma lista com dez desafios para um acordo pós-eleitoral entre o PSD e a Iniciativa Liberal. O líder do PSD foi lendo o documento — que tem diferenças e pontos em comum com o programa da AD — e não identificou no imediato nada que fosse impeditivo de uma negociação entre ambos. Sobre a privatização da CGD, Montenegro ainda brincou: “Ainda bem que não está neste papel”.

As propostas de Rui Rocha para uma caranguejola futura têm bandeiras da IL como a redução do IRS (que o PSD dificilmente aceitaria nos moldes de duas taxas no regime transitório) e uma redução de IRC para 12% (enquanto a AD propõe que seja para 15% a um ritmo de 2 p.p. ao ano).

Na saúde, é feita a proposta de um modelo de parceria público-privada como o alemão, algo que Montenegro fez questão de dizer que não está de acordo, pois quer um sistema que assente e gire em torno do  Serviço Nacional de Saúde.

Já a privatização da TAP ou a eliminação do IMT ou Imposto de Selo para a aquisição de habitação própria permanente, seriam pontos em que PSD e IL facilmente estariam de acordo. Um acordo também não seria difícil de atingir relativamente a um combate à escassez de água.

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As mexidas na Segurança Social e a reforma do sistema eleitoral (em particular a introdução de um círculo de compensação) já seriam outros pontos em que PSD e IL teriam dificuldades em chegar a acordo.

Entretanto, a Aliança Democrática já respondeu a Rui Rocha na rede social X, numa publicação em que partilha com o programa eleitoral da coligação que junta PSD, CDS e PPM e em que agradece, com ironia, a Rui Rocha: “Obrigado, Rui, pela confiança de que Luís Montenegro será o próximo primeiro-ministro. Hoje somos muitos, amanhã seremos milhões.”

Veja aqui na íntegra os dez pontos para um acordo PSD/IL apresentado por Rui Rocha a Luís Montenegro no debare deste domingo:

1. Redução significativa do IRS, com um regime transitório com duas taxas de 15% e 28%, redução do IRC para uma taxa base de 12% e redução da tributação sobre profissionais liberais e trabalhadores independentes.

2. Reforma da Saúde com um modelo de parceria público-privada, similar ao alemão, que assegure mais acesso a cuidados de saúde e médico de família garantido até ao fim de 2024 para grávidas, crianças até 9 anos e pessoas com mais de 65 anos.

3. Respeito pelo dinheiro dos contribuintes com modernização e simplificação administrativa e diminuição do peso do Estado na economia, começando pela privatização da TAP.

4. Mais soluções para as famílias, com cheque-creche no valor de 480 euros mensais para que possam escolher a creche dos seus filhos, seja pública, privada ou social, plano de recuperação de aprendizagens nas escolas e aproximar a protecção social dos profissionais liberais e trabalhadores independentes em matéria de parentalidade do regime dos trabalhadores por conta de outrem.

5. Redução da tributação sobre rendimentos prediais de arrendamento (14,5%), sobre a construção (IVA 6%) e sobre a aquisição de habitação própria e permanente (eliminação do IMT e Imposto de Selo).
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6. Garantia da sustentabilidade da Segurança Social com a introdução de um pilar de capitalização, garantindo as pensões futuras da população ativa.

7. Reforma da Administração Pública com remuneração baseada num novo sistema de avaliação, mais focado no desempenho, e concursos internacionais para reguladores, sobrepondo o mérito à conveniência política.

8. Aumento da oferta, frequência e concorrência dos diferentes transportes coletivos e expansão imediata da rede ferroviária, de modo a que nos aproximemos dos nossos parceiros europeus.

9. Reforma do Sistema Eleitoral com introdução do círculo de compensação nacional para que não se desperdicem 700 mil votos por eleição.

10. Resolver o problema da escassez de água em Portugal, com maior reutilização, menor desperdício, aposta em infraestruturas de distribuição e em tecnologia que aumente a oferta no território.