É o maior estudo já feito sobre a segurança das vacinas contra a Covid-19. A investigação, que envolveu quase 100 milhões de pessoas, concluiu que as vacinas da Pfizer, da AstraZeneca e da Moderna contra a Covid-19 aumentaram o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas e neurológicas.
Num universo de oito países, os investigadores avaliaram o risco do desenvolvimento de 13 condições clínicas depois da vacinação, consideradas “efeitos secundários de especial interesse”. O estudo comparou as taxas de ocorrência dessas condições clínicas no período pós-vacinação com as taxas esperadas num cenário normal (o designado ‘risco de fundo’), ou seja, na ausência destas vacinas.
“O risco até 42 dias após a vacinação foi, em geral, semelhante ao risco de fundo para a maioria dos resultados”, escrevem os autores do estudo, publicado a 12 de fevereiro, na revista científica Vaccine e conduzido pela Rede Global de Dados sobre Vacinas, um consórcio de investigação ligado à Organização Mundial de Saúde.
No que diz respeito à miocardite, a inflamação do coração, os investigadores concluíram que o risco aumentou após a toma da primeira, segunda e terceira doses das vacinas de mRNA da Pfizer e da Moderna. Contudo, foi nas pessoas a quem foi administrada a vacina da Moderna que o risco mais aumentou: é três vezes superior ao ‘risco de fundo’ depois da primeira toma, quatro vezes superior após a segunda toma e seis vezes superior depois da terceira administração da vacina.
Já quanto a outra condição cardíaca, a pericardite (a inflamação da membrana que envolve o coração), o risco aumentou 1,7 e 2,6 vezes após a toma da primeira e da quarta vacina da Moderna, respetivamente. Contudo, foi com a vacina da AstraZeneca que a probabilidade de pericardite mais aumentou em relação aos valores padrão — sete vezes (6,91).
Risco de complicações nos não vacinados é ainda superior, lembram investigadores
Os investigadores avaliaram também o risco de desenvolvimento da síndrome de Guillain-Barré, uma doença autoinume e degenerativa, que provoca fraqueza muscular. Neste caso, os investigadores detetaram uma prevalência 2,5 vezes superior desta síndrome nas pessoas a quem tinha sido administrada a vacina da AstraZeneca, em comparação com o ‘risco de fundo’.
No campo neurológico, o risco de trombose venosa cerebral, um tipo de AVC caracterizado pela formação de coágulos sanguíneos no cérebro, aumentou 3,2 vezes nas pessoas imunizadas com a vacina da AstraZeneca. Outra doença neurológica, a encefalomielite aguda disseminada, revelou-se 3,8 vezes mais provável após a primeira dose da vacina da Moderna.
Ainda assim, os investigadores sublinham que o risco de contrair qualquer uma das condições/doenças analisadas é baixo e realçam a importância da toma das vacinas contra a Covid-19, que, lembram, protegem contra a doença grave e morte provocadas pela Covid-19. Mais: apesar do aumento do risco para algumas complicações clínicas, os especialistas sublinham que a probabilidade de um determinado indivíduo desenvolver as mesmas doenças em resultado de uma infeção pela SARS-CoV-2 são maiores do que os riscos verificados depois da toma das vacinas.